Santos Ferreira nega influência do banco público na guerra do BCP

Carlos Santos Ferreira saiu da Caixa Geral de Depósitos para liderar o BCP.

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Jose Sarmento Matos

O antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Carlos Santos Ferreira, que depois liderou o Banco Comercial Português (BCP), recusou esta quinta-feira que o banco estatal tenha tido influência no desfecho da luta pelo poder no banco privado.

"Na Assembleia-Geral (AG) em que eu fui eleito [como presidente do BCP], esteve presente 71,5% do capital do BCP. No ponto da eleição do Conselho de Administração votou 71,4% do capital do BCP. A lista que eu encabeçava obteve 97,7% dos votos presentes e a lista rival 2,1%", afirmou o gestor durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD.

"Sei quem eram os grandes accionistas do BCP nesse momento. Não sei como é que votaram, porque o voto é secreto, mas sei quais eram os accionistas qualificados presentes", sublinhou, apontando para o Grupo BPI, a Eureko, a Teixeira Duarte, Joe Berardo, a Sonangol, o Sabadell, a EDP e o UBS.

Carlos Santos Ferreira realçou que "não foram de certeza nem as acções detidas em carteira pela Caixa, nem as acções financiadas [pela CGD], que fizeram a diferença entre 97% e 2% dos votos com mais de 70% do capital". Questionado sobre a concessão de crédito por parte da CGD para accionistas do BCP adquirirem títulos do banco privado, numa altura em que havia uma "luta de poder" no banco fundado por Jorge Jardim Gonçalves, Santos Ferreira desvalorizou-a.

"Os financiamentos destinados à compra de acções eram legais e são legais. Eram normais na maioria e, só não digo em todas porque não tenho a certeza, das instituições nacionais e estrangeiras. Tenho a profunda convicção que todos esses financiamentos foram aprovados seguindo os preceitos que estavam estabelecidos", afirmou.

E acrescentou: "Nenhum - não tenho memória concreta, mas tenho a convicção - destes financiamentos tinha garantias inferiores ao crédito. E tenho a grande convicção de que em todos os casos havia a obrigação de, que caso o valor da garantia diminuísse, o mutuário tinha que repor a sua parte com outros activos que fossem aceites pela Caixa".

Santos Ferreira lamentou ter-se mantido em silêncio sobre o tema durante vários anos. "Passei vários anos a ouvir falar do assalto ao BCP. Achei mal, mas achei que não me cabia explicar o que se tinha passado. Se tivesse explicado logo na altura, provavelmente hoje não estaríamos a falar nele aqui", salientou.

Segundo o responsável, por altura da sua transição da CGD para o BCP, a CGD tinha acções próprias do BCP na ordem dos 2,5% do capital do banco e cerca de 8% de acções cativas através de financiamentos. Santos Ferreira entrou para a CGD no verão de 2005, substituindo Vítor Martins, e saiu em Dezembro de 2007, a poucos dias de terminar o seu mandato, sendo depois eleito líder do BCP.

"Não cumpri o meu mandato por três dias", vincou, considerando que tinha "relações normais" com o ministro da tutela, Teixeira dos Santos. Carlos Santos Ferreira disse que nunca lhe "passou pela discutir actos de gestão com o accionista".

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