Rompuy diz que Portugal “é um exemplo” no ajustamento das finanças públicas

Presidente do Conselho Europeu avisa que é preciso “coragem política” para continuar a enfrentar a crise e que não se deve vacilar nem mudar de rumo.

Foto
Herman Van Rompuy, nas Conferências do Estoril Rui Gaudêncio

Foi com elogios que o presidente do Conselho Europeu se referiu, nesta quinta-feira, a Portugal: o país é “um bom exemplo” pelos resultados alcançados no processo de ajustamento das contas públicas, considera Herman Van Rompuy.

Ainda há um longo caminho a percorrer, avisou o responsável europeu, que falava nas Conferências do Estoril. “Na próxima fase todos temos de fazer mais esforços ao nível do crescimento e do emprego.” Mas em relação ao “trabalho que tem sido feito nas finanças públicas e na implementação de reformas, Portugal é um bom exemplo”.

Para o futuro, Portugal precisa de “coragem política” e Rompuy avisa que nestes casos “são precisos ajustamentos difíceis, e que demoram tempo, muito tempo, até parecerem fazer efeito”.

Os países “estão cansados das reformas”, admite o presidente do Conselho Europeu. “É tempo de coragem política e muitos líderes, tal como os do vosso país, mostram coragem. Estão convencidos de que têm de agir como agem. E é assim que tem de ser”, considera Herman Van Rompuy, que desdramatiza o facto de os governos perderem popularidade quando têm de cumprir os apertados memorandos com os credores.

“Não temos resultados em termos de apoio público de imediato [com a austeridade]. Apesar de a maior parte das pessoas não gostar das medidas, muitas sabem e têm plena consciência de que elas são incontornáveis.”

Rompuy colocou ênfase na necessidade de manter o rumo do cumprimento dos compromissos assumidos internacionalmente porque isso é “imprescindível para a credibilidade” externa dos países. “O mais importante é mantermos o nosso rumo.” Até porque “se formos bem sucedidos, a crise acabará por nos tornar mais fortes”.

Foi, aliás, por causa desse bom comportamento que os credores internacionais aceitaram alargar o prazo para o pagamento da dívida portuguesa há algumas semanas, fez questão de vincar o presidente do Conselho Europeu. E também por isso aligeiraram o cumprimento das metas do défice, no ano passado.

Mas não é só aos países em apuros que compete mostrar trabalho, admitiu Rompuy. Às instâncias europeias também. Por isso, o presidente promete fazer a sua parte na cimeira de Junho, onde irá apresentar propostas e reforçar orçamentos para combater o desemprego jovem.

“Hoje em dia, tanto a nível nacional como europeu, temos de nos concentrar em medidas que tenham um impacto imediato e directo no combate ao desemprego”, disse Rompuy, avisando que é preciso estimular a confiança empresarial e interligar a acção a vários níveis. A uma economia resiliente e finanças públicas sólidas é necessário somar medidas para o crescimento e o emprego, assim como uma maior competitividade e, ao nível europeu, uma união económica e monetária forte.

Questionado sobre a possibilidade de uma revisão do Tratado de Lisboa, Herman Van Rompuy prefere concentrar-se em questões mais urgentes. “Estamos ainda a atravessar uma crise económica. [Rever o tratado] implicaria abrir uma crise política desnecessária.”

Acerca de uma eventual saída do euro como solução para a crise que afecta vários países como Portugal, o presidente do Conselho Europeu é igualmente claro: “Seria dramático [qualquer país deixar o euro] para qualquer economia, incluindo as fortes. Seria um desastre.” E citou a chanceler Angela Merkel para defender que “o euro e a zona euro estão no coração da União Europeia. O colapso do euro seria o colapso da zona euro e da Europa”.
 
 

Sugerir correcção
Comentar