Amílcar Morais Pires proposto para novo CEO do BES

Conselho Superior foi ao Banco de Portugal falar da saída iminente de Salgado da presidência. Nova gestão não terá membros da família Espírito Santo. Regulador abre porta à entrada de Morais Pires.

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Ricardo Salgado está no cargo há quase duas décadas enric vives-rubio

Aos 70 anos e duas décadas depois de ter assumido funções de presidente, o reinado de Ricardo Salgado à frente do Banco Espírito Santo está prestes a terminar.

O pedido de resignação deverá ser anunciado nas próximas horas, depois da reunião do Conselho Superior que juntou os principais ramos da família, e após articulação com o Banco de Portugal (BdP).

O PÚBLICO apurou que o nome de José Maria Ricciardi para CEO do BES foi chumbado, dado pertencer à família Espírito Santo e não por questões de idoneidade, mas houve abertura para aceitar uma solução que envolva um gestor profissional recrutado da equipa de Salgado. Outro nome indicado, e que teve a anuência do regulador, foi o de Amílcar Pires, actual administrador financeiro.

A passagem de testemunho da presidência familiar do BES, até aqui encabeçada por Ricardo Salgado (BES) e José Maria Ricciardi (BESI), para um profissional fora do universo familiar Espírito Santo é o resultado do acumular de problemas que envolvem o grupo e alguns dos seus gestores, que vieram a lume nos últimos meses. Questões que já não são apenas de âmbito nacional: o Banco Central Europeu (BCE) está a acompanhar o que se passa no Grupo Espírito Santo (GES), o mesmo fazendo as autoridades do Luxemburgo, apesar de terem demorado tempo a actuar.

Perante a gravidade dos problemas, o BdP tem tratado o tema com "pinças" em nome da estabilidade do sistema e para proteger o banco das lutas internas. É neste contexto (enquadrado na nova supervisão bancária europeia) que se explica a imposição de uma nova administração para o BES, mais profissional e que esteja protegida das pressões familiares. Ou seja, sem gestores ligados à família Espírito Santo.

Reunião ao mais alto nível
Nesta quinta-feira, o governador do BdP, Carlos Costa, e o vice-governador, Pedro Neves, reuniram com os representantes do Conselho Superior do GES para falar do tema da liderança do banco, o principal activo da família.

Fonte ligada ao regulador confirmou que Carlos Costa vetou qualquer nome da família Espírito Santo, incluindo o de José Maria Ricciardi, que se posicionou para ser CEO — uma atitude firme que surpreendeu membros do GES. Mas não afastou a possibilidade de poder aceitar como CEO Morais Pires, isto apesar de este ser arguido num processo de mercado. As informações surgem num quadro de grande burburinho, mas também de um braço-de-ferro entre accionistas do GES com vista à escolha de um novo líder.

Espera-se ainda a qualquer momento a convocação de uma assembleia geral do BES para aprovar os novos órgãos sociais. Já o regulador do mercado de capitais, a CMVM, afirmou na noite desta quinta-feira, citado pela agência Lusa, que era necessário o BES esclarecer, antes da abertura da bolsa na sexta-feira, se se confirmavam as notícias sobre a saída de Ricardo Salgado da liderança do banco.

Uma das possibilidades para acomodar os interesses da família contempla a criação de uma estrutura de governação da instituição financeira, que integre um conselho consultivo estratégico. Embora tenha sido noticiado que Salgado poderá vir a encabeçar este conselho, desconhece-se qual a posição do BdP sobre o tema. Ou se aceita que José Maria Ricciardi continue em funções no BESI.

Apesar das informações apontarem para Morais Pires, a grande incógnita continua a ser quem é que, no momento final, irá substituir Ricardo Salgado (tal como falta saber se este fica ou não nos órgãos sociais do BES, mas sem funções executivas). Em cima da mesa têm estado listas com nomes de gestores profissionais, alguns consensuais e do agrado de Carlos Costa. Entre eles, o de Vítor Bento (presidente da Unicre) para chairman, e de José Honório, mas desconhece-se se existe uma intenção firme de avançar com convites.

Irregularidades em investigação
No epicentro dos problemas detectados no GES está a Espírito Santo Internacional (ESI), a holding da família que tem sede no Luxemburgo, que ocultou 1200 milhões de euros em dívidas nas contas de 2012 e terá uma situação líquida negativa de 2500 milhões de euros. A sociedade é acusada ainda de divulgação de dados errados ao mercado, uma menção feita no prospecto de aumento de capital de 1045 milhões de euros que o banco realizou recentemente e que retirou ao GES e ao Crédit Agricole o controlo da instituição.

No documento afirmava-se que a auditoria pedida pelo Banco de Portugal à Espírito Santo Financial Group (ESFG) tinha comprovado a existência de “irregularidades materialmente relevantes", capazes de pôr em causa a reputação do BES e determinar a queda da sua cotação.

O desaparecimento de cerca de cinco mil milhões de euros no BES Angola, que o semanário Expresso noticiou, é também um tema que o regulador está a investigar.   

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