Reunião de política monetária do BCE marca a agenda

É elevada a expectativa de que Mario Draghi, presidente do BCE, anuncie esta semana novas medidas expansionistas.

O principal destaque da agenda económica desta semana prende-se, incontornavelmente, com a reunião de política monetária do BCE, na próxima quinta-feira. Com as minutas da última reunião do Conselho de Governadores (em Outubro) a reafirmarem a ideia de que “o risco de deflação se mantém relevante”, tendo até sido discutida a possibilidade de “reforçar a natureza acomodatícia da política monetária” nessa mesma reunião, é elevada a expectativa de que Mario Draghi, Presidente do BCE, anuncie esta semana novas medidas expansionistas de política. Estas medidas poderão passar por uma intensificação (e.g. aumento do ritmo de compras e/ou alargamento do leque de títulos admitidos) e/ou prolongamento do actual programa de quantitative easing, actualmente vigente até Setembro de 2016. É, ainda, admitido um novo corte da taxa de facilidade de depósitos, actualmente em -0.1%, principalmente depois de Draghi ter afirmado que “o nível da taxa de juro da facilidade de depósito pode também fortalecer o mecanismo de transmissão” do quantitative easing. Em simultâneo, o BCE apresentará as novas previsões macroeconómicas para a região e respectivos Estados-membros.

Na véspera da reunião do Conselho de Governadores do BCE serão conhecidas as estatísticas de Novembro da inflação na Zona Euro, as quais deverão revelar, uma vez mais, uma evolução fraca dos preços. Embora seja esperada uma melhoria dos números, com a taxa de inflação homóloga a subir de 0.1% para um valor perto dos 0.3%, estes dados continuam a ser bastante baixos, quando comparados com o target de 2% do BCE, reforçando a ideia de Draghi de que “o risco de deflação se mantém relevante”. Excluindo os preços da energia e da alimentação não-processada, tipicamente mais voláteis, a taxa de inflação core deverá ter permanecido em 1.1%.

A postura acomodatícia do BCE contrasta com as expectativas para a política monetária nos EUA, as quais atribuem uma probabilidade de 74% ao cenário de subida dos juros de referência da Reserva Federal norte-americana na reunião de 16 de Dezembro. Esta ideia encontra-se em linha com a mensagem transmitida pelas minutas da última reunião do comité de política monetária do Fed, as quais sinalizaram de uma forma muito evidente a forte probabilidade de uma primeira subida dos juros de referência já em Dezembro (“It may well become appropriate to initiate the normalization process at the next meeting.”). Apesar da elevada expectativa, as minutas do Fed salvaguardam que ainda não foi tomada nenhuma decisão, havendo a possibilidade de a autoridade monetária adiar o início do processo de normalização dos juros, caso se observem choques negativos não antecipados ou uma forte e inesperada deterioração dos indicadores de actividade. Neste sentido, será bastante importante acompanhar a divulgação dos indicadores de actividade que serão conhecidos nos próximos dias, com especial destaque para os números da criação de emprego em Novembro, agendados para a próxima sexta-feira. Realça-se, ainda, a publicação dos índices ISM Manufacturing (na terça-feira) e ISM Non-Manufacturing (na quinta-feira) de Novembro, bem como os números das encomendas à indústria, agendados para quinta-feira. Resultados muito fracos para quaisquer destes indicadores (especialmente para as estatísticas do mercado do trabalho e índice ISM Manufacturing) poderiam conduzir a uma correcção em baixa das expectativas para os juros, impactando a evolução dos mercados.

No plano político, nota para as eleições regionais em França, a duas voltas, marcadas para os próximos Domingos (dias 6 e 13 de Dezembro). O principal foco de atenção será o possível aumento do peso da Frente Nacional (partido de direita nacionalista), especialmente depois do atentado de 13 de Novembro. O partido liderado por Marine le Pen segue à frente das intenções de voto em duas regiões – Nord-Pas-de-Calais-Picardie (região mais a Norte) e Provence-Alpes-Côte d'Azur (Sudoeste) –, num universo de 12 regiões continentais (18 no total). Na América Latina, destaque para as eleições gerais na Venezuela, também no próximo Domingo. Com a economia a atravessar uma recessão marcada, e com o principal partido da oposição a liderar algumas das sondagens, prevê-se que as eleições gerem alguma instabilidade.

Novo Banco Research Económico

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