Retoma actual não chega para regressar ao PIB e emprego de antes da crise

FMI diz que aceleração actual do crescimento se deve a factores temporários e que Portugal arrisca abrandamento do investimento e exportações já a partir do próximo ano.

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Fazendo vários elogios ao que foi conseguido pelo Governo nos últimos anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou esta sexta-feira a avisar Portugal que tal não chega para garantir que a economia vai acelerar no futuro e pede mais reformas estruturais e poupanças nas despesas com salários e pensões.

No comunicado que assinala o fim da missão realizada a Portugal no âmbito do artigo IV da instituição, o FMI mostrou estar bastante preocupado com a capacidade do país para garantir uma retoma sustentada da sua economia.

O Fundo diz que Portugal conseguiu resolver o seu problema de acesso ao financiamento, colocar o emprego a crescer outra vez e registar excedentes externos pela primeira vez em décadas. Assinala também que a depreciação do euro, a descida do preço do petróleo e a compra de activos por parte do BCE estão a ajudar este ano a economia a crescer mais rápido, antecipando por isso uma variação do PIB de 1,6% este ano, o mesmo que o Governo.

As boas notícias dadas pelo FMI, contudo, ficam por aqui. Para os dois anos seguintes, prevê um abrandamento do ritmo de crescimento da economia, com desaceleração significativas do investimento e das exportações, um cenário que é o oposto ao esperado pelo Governo que está a apostar na continuação de uma melhoria do desempenho da economia.

O FMI prevê que em 2016 a economia portuguesa cresça 1,5%, em vez dos 2% projectados pelo Governo, e que volte a cair para 1,4%, em vez dos 2,4% que o Executivo antecipa.

O investimento, que o FMI vê a crescer a taxas inferiores a 3% em 2016 e 2017, e as exportações (abaixo de 5%) são dois dos indicadores em que as diferenças entre aquilo que o Fundo e o Governo antecipam são mais significativas.

“À medida que o estímulo dado por factores de curto prazo desaparece, projecta-se que o crescimento se modere no médio prazo, uma vez que Portugal continua a ficar atrás dos seus pares em indicadores estruturais chave”, afirma o FMI, que assinala ainda que “a actual retoma é ainda demasiado modesta para trazer o produto e o emprego de volta aos níveis de antes da crise durante os próximos tempos”.

A entidade sedeada em Washington diz que as perspectivas de médio prazo para Portugal são ensombradas pelos problemas acumulados do passado: “investimento fraco, elevados níveis de dívida pública e privada, excessiva alavancagem do sector privado e fragilidade do mercado de trabalho”.

O que o FMI aconselha para resolver estes problemas é “a continuação de reformas estruturais para aumentar a competitividade externa e a flexibilidade do mercado de trabalho. As medidas referidas são em particular as que “apoiem a criação de emprego, aumentem a concorrência interna, melhorem os serviços públicos, (..) melhorem a formação profissional, façam subir as qualificações dos gestores, reduzam os desincentivos ao trabalho e tornem o diálogo social mais inclusivo”.

Ao nível do orçamento, o FMI prevê um défice de 3,2% para este ano, ou seja, não cumprindo a meta do Governo de sair do procedimento por défices excessivos em 2015. E recomenda a manutenção de um esforço de consolidação orçamental. O Fundo continua a pedir a Portugal que “racionalize a despesa pública através de uma reforma abrangente dos salários e das pensões”.

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