Obrigacionistas podem perder 30% se revenderem a dívida ao Novo Banco
Banco propõe-se investir até 500 milhões de euros na compra de obrigações de oito séries.
A operação anunciada esta quinta-feira pelo Novo Banco (NB) de recompra de oito emissões de obrigações é positiva para a instituição, mas pode representar perdas para os vendedores até 30%. O nível de perdas para os obrigacionistas resultará da diferença entre o preço a que os títulos foram comprados e o valor a que transaccionam actualmente.
O banco propõe-se investir até 500 milhões de euros na compra de obrigações de oito séries que registam actualmente valores de mercado inferiores em cerca de 30% face ao custo de emissão, o que representa para o banco liderado por Stock da Cunha uma poupança interessante.
Em declarações ao PÚBLICO, Filipe Silva, director da Gestão de Activos do Banco Carregosa, dá conta da poupança que a instituição vai fazer com esta operação, cujo objectivo é o de aumentar o capital, com a redução da dívida. “O haircut (incumprimento) implícito ronda os 30%, ou seja, se a operação se concretizar, o NB ganhará 30% de uma dívida que contraiu e que não irá pagar [na totalidade]”, destaca Filipe Silva.
No memorando divulgado esta quinta-feira, o Novo Banco detalha que “os preços mínimos de compra reflectem um prémio de aproximadamente 1,50% a 2,50% acima dos preços de mercado observados para as obrigações” a 22 de Junho.
As condições de mercado são favoráveis, a vários níveis, para o NB, nomeadamente “o de poder ir ao BCE buscar dinheiro a custo zero para recomprar estes 500 milhões de euros”, refere o gestor, concluindo que “para o NB a operação parece ser bastante conveniente”.
Para os clientes a decisão pode ser difícil. Filipe Silva lembra que “que se trata de dívida sénior, ou seja, da que tem melhor qualidade”. O que faz com que, “à partida, quem não vender agora ao NB a perder perto de 30%, recebendo apenas 70%, terá o direito a receber 100% na sua maturidade (2019 ou 2022)”. Mas também alerta para a existência de riscos, nomeadamente o de haver alguma necessidade de recapitalizar o NB, ou uma nova resolução, que, dadas as novas regras, chame os obrigacionistas a suportar os custos.
Refira-se que desde 1 de Janeiro deste ano, a capitalização das instituições é assegurada, sequencialmente, pelos accionistas, depois pelos credores subordinados e, finalmente em igualdade de circunstâncias, pelos credores seniores e pelos clientes com depósitos acima de 100.000 euros.
“Se o cliente acreditar que não vai ser chamado a capitalizar o banco, deve manter as obrigações. Se entende que o risco é elevado, então deve vender”, defende Filipe Silva, acrescentando ter dúvidas que “os institucionais estejam dispostos a vender agora, perdendo 30%”.
A desvalorização das obrigações de bancos nacionais aumentou consideravelmente depois da decisão do Banco de Portugal de retirar cinco emissões do NB para o “BES mau”, o que vai representar perdas elevadas para os investidores. No memorando da oferta, que termina a 29 de Junho, o banco destaca vários riscos para os detentores de obrigações que não venham a ser recompradas.
Um é que o mercado secundário das obrigações que se mantenham em dívida poderá tornar-se significativamente “mais limitado”, e que estas poderão “transaccionar a um preço de mercado inferior ao de valores mobiliários comparáveis com um mercado mais líquido”.
Depois, diz o banco, “um valor de mercado reduzido poderá também aumentar a volatilidade do preço de mercado dessas obrigações. Em resultado, o valor de mercado das obrigações remanescentes em dívida após a conclusão das ofertas poderá ser adversamente afectado pelas ofertas”.
A instituição alerta ainda que a incerteza associada à venda comporta riscos para o valor das obrigações, mas que a sua concretização com êxito pode acrescentar valor.
“Se a venda não for concluída, os obrigacionistas poderão ser afectados de várias formas. Existe a possibilidade de o Novo Banco ter de entrar em processo de liquidação (…) o que poderá resultar numa perda total ou substancial do valor das obrigações”, refere o documento. Com Ana Brito