Quanto mais rápida for a descida do desemprego, mais cedo sobem os juros da Fed

Presidente da Reserva Federal foi ao encontro de banqueiros em Jackson Hole dizer que não há uma receita simples para lidar com a inflação e o desemprego.

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Janet Yellen à chegada ao encontro de banqueiros em Jackson Hole David Stubbs/Reuters

Quando a taxa de desemprego da maior economia do mundo está em 6,2% e o número de postos de trabalho já ultrapassa os níveis de 2008, no início da recessão, quer isto dizer que os danos da crise no emprego estão reparados? A presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), Janet Yellen, acredita que não e lembra que ainda há um caminho a percorrer na melhoria das condições do mercado de trabalho. Mas quanto mais rápida for a descida da taxa de desemprego, mais cedo acontecerá a subida das taxas de juro de referência por parte da Fed.

Foi essa a mensagem que Janet Yellen foi deixar esta sexta-feira ao encontro anual dos banqueiros centrais, em Jackson Hole (estado de Wyoming), dedicado este ano ao tema do mercado de trabalho.

A taxa de desemprego, que tem estado em queda ao longo dos últimos dois anos, chegou aos 6,1% em Junho, mas voltou a aumentar em Julho, ainda que de forma ténue, para 6,2% da população activa. As taxas de juro da referência da Fed mantêm-se próximas de zero desde Dezembro de 2008, um nível historicamente baixo que tem ajudado a puxar pela economia nos últimos anos, em conjunto com medidas extraordinárias para criar mais liquidez na economia (programa de compra de activos financeiros). Mas, com a retoma norte-americana e a descida progressiva do desemprego, sobretudo a partir do final de 2013, os analistas questionam-se se a descida do desemprego não deveria levar a Fed a ponderar uma subida das taxas.

Yellen procurou dar resposta a estas preocupações, sem, no entanto, dar qualquer sinal quanto ao início da subida dos juros. Considerou não haver uma receita simples para lidar com um contexto de “incerteza considerável” em relação à evolução da inflação e do desemprego. Caso a recuperação do mercado de trabalho “continue a ser mais rápida do que o previsto pelo comité [de política monetária] e a inflação subir mais rapidamente do que estimado, resultando numa maior convergência do duplo objectivo da Fed [a estabilidade dos preços e o emprego], a subida das taxas de juro dos fundos federais poderá ocorrer mais cedo do que o comité prevê actualmente”. Quanto ao início da subida das taxas de juro, Yellen nada disse.

Se a expectativa da Fed é que esta recuperação continue, a incerteza sobre a evolução da inflação e do desemprego levou Yellen a deixar também algumas reservas: “Evidentemente, se o desempenho económico for decepcionante e a recuperação for mais lenta do que o esperado, a trajectória futura das taxas de juro poderá ser mais flexível do que prevemos”.

Yellen recordou alguns números recentes sobre o mercado de trabalho: este ano, a criação mensal de empregos foi de 230 mil em média, quando nos dois últimos anos a média era de 190 mil por mês.

Fez questão de lembrar que o desemprego atingiu em 2009 (Outubro) um pico máximo de 10%. O facto de o desemprego ter recuado “de forma considerável” no ano passado, a um ritmo que a presidente da Fed considera mesmo surpreendente, levam Yellen a falar em dados “encorajadores”, embora alerte que, cinco anos depois da recessão, os danos da crise ainda não estão totalmente reparados.

Apesar da redução do desemprego, há, para a responsável da Reserva Federal, uma subutilização significativa dos recursos do mercado de trabalho, leitura a que o comité de política monetária da Fed já aludiu na última reunião, de 29 e 30 de Julho.

A prudência com que Yellen se exprime – apresentando, por um lado, os sinais da recuperação do mercado de trabalho, mas fazendo, por outro, um contraponto ao falar das incertezas que ainda pairam sobre a economia – é uma constante dos discursos da responsável da Fed (como já acontecia com o seu antecessor, Ben Bernnake, de quem foi vice-presidente, e como aliás faz parte do código genético dos banqueiros centrais).

“Nos cinco anos desde o fim da grande recessão [que durou de Dezembro de 2007 a Junho de 2009], a economia fez progressos consideráveis”, mas o mercado de trabalho “ainda não recuperou totalmente”, acentuou.

Os últimos indicadores (de muito curto prazo) mostram que o número de pedidos de subsídios de desemprego voltou a cair – na semana passada assistiu-se a uma diminuição de 14 mil pedidos, para 298 mil, um número que ficou igualmente abaixo as estimativas dos analistas apontando para os 303 mil pedidos.

Draghi confiante sobre medidas do BCE
Quanto à zona euro, onde o desemprego abrangia em Junho 11,5% da população activa, a resposta ao desemprego elevado tem de ser dada “dos dois lados da economia: as políticas de procura agregada devem ser acompanhadas por políticas nacionais estruturais”, defendeu o presidente do Banco Central Europeu (BCE), também presente em Jackson Hole.

“Estou confiante de que o pacote de medidas que anunciámos em Junho vai dar o impulso esperado à procura”, afirmou Mario Draghi, sem no entanto deixar de colocar pressão sobre os governos dos 18 países da zona euro para que implementem políticas estruturais. “Nenhuma acomodação orçamental ou monetária pode compensar as reformas estruturais necessárias na zona euro”, sublinhou, reforçando que “as medidas estruturais nacionais que permitem responder a este problema [o desemprego estrutural] não podem mais ser adiadas”.

Em Junho, quando as taxas de juro de refinanciamento de 0,25% para 0,15% e colocou em terreno negativo as taxas de juro de depósito, o BCE avançou com a concessão de novos empréstimos de longo prazo aos bancos europeus e deu por terminada a esterilização das compras de títulos de dívida pública comprados no início da crise.

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