PT pediu que relatório de auditoria omitisse nomes dos responsáveis no financiamento à Rioforte

AG da PT mantém-se, mas alguns administradores da PT pedem revisão dos termos de fusão com a Oi.

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Auditoria à aplicação da PT na Rioforte continua envolta em polémica. Daniel Rocha

A PT SGPS pediu, por escrito, à PriceWaterhouseCoopers (PwC), para retirar do relatório final da auditoria ao empréstimo de 897 milhões de euros à Rioforte as referências a responsabilidade de actuais e ex-administradores na operação que se veio a revelar ruinosa para a empresa.

Na prática, a PT pediu para que fosse retirada a identidade de detentores de cargos em órgãos sociais da empresa, responsáveis pelos ruinosos actos de gestão, como constava de uma das primeiras versões do relatório, discutida no conselho de administração a 13 de Novembro.

Ao que o PÚBLICO apurou, a consultora acatou o pedido do cliente, e o relatório final entregue na terça-feira à PT já não contém as referências a responsabilidades individuais nas decisões que desvalorizam fortemente a empresa.

Entretanto, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e o Ministério Público, na sequência das buscas realizadas na terça-feira às duas empresas, terão recolhido elementos referentes às diferentes versões do relatório da auditoria. As buscas aconteceram no âmbito de um inquérito por suspeitas de participação económica em negócio e burla qualificada, aberto na sequência de uma queixa do regulador do mercado de capitais.

Os relatórios anteriores apontavam para acusações graves a actuais e ex-administradores da holding portuguesa, designadamente ao ex-presidente Henrique Granadeiro e ao ex-presidente executivo da Oi, Zeinal Bava, nomes que entretanto já não deverão configurar no relatório final da PwC.

O PÚBLICO também apurou que alguns dos quadros e ex-quadros da PT que foram ouvidos no âmbito da auditoria quiseram mudar os primeiros depoimentos, o que ajuda a explicar o atraso na apresentação do relatório final, pedido pela PT no Verão, e que vem dar razão às suspeitas da CMVM de que poderia estar em curso uma adulteração das conclusões do primeiro relatório.

Na edição desta quarta-feira, o PÚBLICO avançou que uma das conclusões graves da auditora é de que a PT emprestou dinheiro à Rioforte a taxas de juro inferiores àquelas que suportava no mercado para se financiar.

A CMVM já está na posse do relatório final de auditoria, que, no entanto, ainda não foi disponibilizado aos accionistas, o que deve acontecer nas próximas horas, já que o conselho de administração da PT, reunido nesta quarta-feira, decidiu manter a data da assembleia geral, marcada para a próxima segunda-feira, dia 12.

O encontro de accionistas, onde vai ser votada a venda dos activos da PT Portugal (serviço fixo, móvel, banda larga e televisão paga) aos franceses da Altice, pode ter um desfecho inesperado.

É que a auditoria deixará claro que os brasileiros da Oi sabiam da exposição da PT à Rioforte e, sendo assim, não se justifica a revisão das condições de fusão entre as duas empresas, aprovada em Setembro. A PT, que inicialmente ficava com uma participação de 37% da Oi, viu a participação cair para 25,6% na sequência do “buraco” gerado pelo investimento na Rioforte..

O PÚBLICO apurou que na reunião do conselho de administração desta quarta-feira, um número significativo de administradores bateu-se pela reversão dos termos de fusão.

Entretanto, aumenta o número de pessoas que defende a nulidade da operação. Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, defendeu isso menos, em entrevista à Reuters: "Espanta-me que ninguém faça nada para travar esta fusão, que é uma tragédia para os accionistas da PT SGPS", afirmou.

Também o presidente da ATM, associação de investidores e analistas técnicos, que tem uma acção no Tribunal do Comércio de Lisboa a pedir a nulidade da fusão, admite essa possibilidade.

A edição online do Expresso avançou nesta quarta-feira que o presidente da mesa da assembleia geral da PT, Menezes Cordeiro, terá defendido, em carta enviada ao conselho de administração, que haverá fundamentos jurídicos para pedir a nulidade da fusão.

Em forte desvalorização continuam as acções da PT SGPS, que ontem encerraram a desvalorizar 19,48%, para 0,65 euros, fixando um novo mínimo histórico. Os títulos replicam a queda das acções da brasileira Oi, porque a venda dos activos da PT Portugal, fundamental para amortizar dívida, está agora mais difícil. A CMVM decidiu suspender venda a descoberto de acções da PT na sessão desta quinta-feira. com Ana Brito

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