PSD e CDS saúdam último exame da troika, oposição questiona silêncio sobre 2015

Deputados da oposição dizem ter ficado sem resposta sobre negociações com o Governo. Frasquilho insiste que memorando poderia ter sido alterado, mas diz: “Isso agora pertence ao passado”.

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Chefes de missão da troika iniciaram hoje a última avaliação Nuno Ferreira Santos

Os chefes da missão da troika estiveram nesta terça-feira com os deputados da comissão de acompanhamento do programa de resgate financeiro, para a visita oficial ao Parlamento que antecede as negociações com o Governo no quadro da última avaliação.

A troika entrou e saiu em silêncio, sem declarações aos jornalistas. Ao fim de 1h30 de reunião à porta fechada, os partidos da maioria enfatizaram o facto de este ser o 12.º e último exame regular, enquanto a oposição diz ter ficado sem resposta sobre o período do pós-resgate.

Aos jornalistas, o deputado socialista Pedro Marques adiantou que os representantes da missão externa, quando questionados pelo PS; “não quiseram responder directamente à questão da natureza” das propostas negociadas com o Governo de Pedro Passos Coelho para 2015. Isto, argumentou, “para empurrar para depois das eleições [europeias] as más notícias”.

Antecipando-se aos novos apelos de consenso que o PSD voltaria a pedir minutos depois, Pedro Marques insistia: “Procurar consensos com base em políticas que não resolveram os problemas do ponto de vista económico e da dívida pública é muito difícil”. “O que nos é dito pela troika nos documentos já escritos”, criticou, é que a “solução para o país é continuar com esta austeridade”.

Também João Oliveira, líder parlamentar do PCP, disse que Jonh Berrigan (chefe de missão da Comissão Europeia), Subir Lall (Fundo Monetário Internacional) e Isabel Vansteenkiste (Banco Central Europeu) “não quiseram detalhar” as medidas acordadas com o executivo para tornar definitivas as medidas que o executivo começou por anunciar como temporárias para o sistema de pensões e para os salários pagos aos trabalhadores do Estado.

E insistiu que, independentemente do tipo de estratégia que o Governo adoptar para o fim do programa, “não há saída da troika” se não houver uma inversão de políticas face ao caminho dos últimos três anos de resgate. “Limpa ou não, não há mesmo saída”, vincou.

O deputado do PSD Miguel Frasquilho apareceu aos jornalistas com a convicção de que o programa “irá terminar de forma favorável”, salientando que a avaliação da troika que começou nesta terça-feira é a última das 12 previstas no programa.

Frasquilho disse que o PSD defendeu junto da troika que o Memorando de Entendimento poderia ter sofrido “adaptações durante o período em que vigorou” e que tal teria sido favorável tanto Portugal, como para a zona euro. Mas “isso agora pertence ao passado”, embora deva servir de aprendizagem para os próximos anos, acrescentou.

Segundo o deputado, a haver alterações ao programa económico e financeiro que acompanha o resgate, elas teriam de partir da própria troika, porque “ao Governo competia assegurar todos os compromissos” para garantir que Portugal recuperava a credibilidade.

Frasquilho voltou a pedir o envolvimento do Partido Socialista em torno da “estratégia” que diz ser preciso percorrer nos próximos anos, notando que a Comissão, o BCE e o FMI defendem igualmente “consensos alargados”.

Sobre o conteúdo da reunião, a deputada do CDS Cecília Meireles pouco adiantou, centrando o discurso no fim da presença regular da missão externa. O fim do resgate “só por si” é um facto importante, considerou.

Pelo Bloco de Esquerda, o deputado Luís Fazenda adiantou que a troika fez uma “pressão muito forte neste sprint final” para que os cortes nas pensões, em salários e noutras despesas orçamentais serem “não só garantidos, como serem agravados”.

Luís Fazenda disse ainda que a missão externa teve uma “reacção muito dura” ao manifesto dos 70 pela reestruturação da dívida pública. Mas sobre as medidas concretas que o Governo prepara para o Documento de Estratégia Orçamental, nada de novo saiu da reunião. “A troika não falou acerca do Governo, o Governo, como se viu ontem, não falou acerca da troika”, criticou também o deputado bloquista Luís Fazenda.

Como noutras reuniões, disse, este foi um “encontro mais formal do que realmente produtivo do ponto de vista do debate, de opiniões políticas, de informações – qualquer coisa que pudesse alterar, minimamente que fosse, o curso” da estratégia da troika.

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