Colocação de dívida bem sucedida na Irlanda melhora condições para emissão portuguesa

Elevada procura e juros baixos em emissão de dívida provoca nova descida de taxas nas obrigações portuguesas.

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A primeira emissão de dívida pública da Irlanda desde que decidiu dispensar o apoio financeiro da troika foi recebida pelos investidores com uma procura quase quatro vezes superior à oferta e uma taxa de juro próxima de 3,5%. Um resultado que está já a melhorar as condições que Portugal terá de enfrentar quando quiser voltar a testar os mercados.

De acordo com os dados divulgados esta terça-feira pelas autoridades irlandesas, a procura dos investidores pelos títulos a dez anos superou os 14 mil milhões de euros. O tesouro irlandês decidiu colocar 3,75 mil milhões de euros.

A taxa de juro obtida foi de 3,54%, um valor muito próximo daquele que se estava a praticar hoje de manhã nos mercados secundários. "Esta venda mostra que a Irlanda saiu completamente do resgate da UE e do FMI", afirmou Michael Noonan no comunicado em que o Governo dava conta dos resultados da operação. O ministro irlandês das Finanças defendeu ainda que a taxa de juro obtida "ilustra a força da reputação internacional da Irlanda e coloca o país bastante mais próximo dos custos de financiamento das economias mais fortes da Europa".

Esta foi a primeira emissão de dívida pública de longo prazo realizada pela Irlanda desde que decidiu que não iria requerer um programa cautelar às autoridades europeias e que passaria a obter o financiamento de que precisa de forma autónoma nos mercados. A Irlanda já garantiu, de acordo com o Governo, todo o financiamento necessário para 2014. A operação agora realizada é no entanto importante para mostrar que o país conta com a confiança dos investidores dos mercados internacionais.

Também se espera que Portugal realize num curto espaço de tempo uma emissão sindicada de dívida pública, com o objectivo de reiniciar o processo de entrada nos mercados antes do final do actual programa da troika em Maio. O resultado agora obtido pela Irlanda pode ajudar.

Durante a sessão desta terça-feira nos mercados secundários (onde os investidores trocam entre si os títulos já emitidos), as taxas de juro da generalidade dos países periféricos registaram uma descida. No caso de Portugal, a taxa de juro das obrigações a 10 anos caiu para 5,388, quando ontem estava perto dos 5,5%. Deste modo, neste momento, as taxas de juro praticadas nos mercados já estão a um nível inferior ao que se registava a 7 de Maio do ano passado, quando o tesouro português realizou a sua última emissão de dívida de longo prazo.

Os responsáveis máximos do Governo português têm dado indicações claras de que se preparam para realizar novas emissões de dívida de longo prazo, depois de um interregno de oito meses durante o qual as taxas de juro da dívida pública subiram para níveis que não aconselhavam qualquer colocação de dívida.

Para evitar um segundo resgate no final do actual programa da troika, Portugal terá de mostrar até ao final de Maio que consegue obter financiamento junto dos mercados a taxas razoáveis. As actuais taxas de juro acima de 5% estão ainda bem acima daquilo que é praticado nos outros países europeus menos expostos à dívida soberana e ainda dois pontos acima da Irlanda. No entanto, no ano passado, o Governo considerou que este nível de taxas era suficiente para testar o regresso aos mercados. O mesmo poderá acontecer agora, depois do estímulo dado pelo sucesso irlandês.

Ontem à agência Reuters, um corretor da casa de investimentos Cantor Fitzgerald defendia que "uma tão forte procura reforça o sentimento positivo em relação à Irlanda", acrescentando que o resultado também "é positivo para futuras emissões de outros países periféricos da zona euro". Na mesma linha, um responsável da Morgan Stanley, uma das entidades que foram encarregues pela irlanda de gerirem a operação, previu que "com tantas ordens de compra a não serem aceites, os investidores vão ter de procurar noutro lado".

Em Portugal não é só o Estado que pensa em aproveitar o actual momento positivo nos mercados para obter financiamento. De acordo com notícia avançada esta terça-feira pela agência Bloomberg, a Caixa Geral de Depósitos está já a preparar, através de um sindicato bancário, de uma emissão de obrigações hipotecárias, uma repetição daquilo que aconteceu no início do ano passado. Do mesmo modo, a EDP decidiu realizar uma emissão de dívida em dólares. São 750 milhões de dólares em títulos, admitidos na bolsa irlandesa.       
 

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