Privatização da TAP deve manter centro estratégico em Lisboa, defende presidente da ANA

Jorge Ponce de Leão recorda caso da Iberia que, depois de ser adquirida pela British Airways, perdeu o tráfego que tinha para Havana.

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ANA diz que congela as taxas de transferências de passageiros para proteger o hub de Lisboa Miguel Manso

O presidente da ANA considera ser "extremamente importante" que o Governo que privatizar a TAP, seja este ou o próximo, o faça garantindo um projecto estratégico que privilegie o funcionamento do hub (centro de conexão de voos) de Lisboa.

Ressalvando que "seria gratuito falar sem conhecer o projecto estratégico do futuro da TAP, caso ela venha a ser privatizada", Jorge Ponce de Leão sublinha, no entanto, que "o Governo, este ou qualquer outro que venha a tomar uma decisão dessa natureza, conhece a importância do hub em Lisboa para não privatizar sem garantias de conservação de um projecto estratégico" que o preserve.

Em entrevista à agência Lusa, diz o centro de conexão de voos é importante "para manter a conectividade que temos, porque sem os passageiros de transferência muitas das rotas (...) não seriam sustentáveis".

E alerta: "Não faz sentido que aconteça o mesmo que aconteceu em Madrid, que com um tráfego tão intensivo como tinha para Havana, a certa altura, por força da aquisição da Ibéria pela British Airways, os madrilenos tivessem de passar a ir apanhar a Londres o avião para Havana".

Neste processo, a ANA tem "a especial responsabilidade de olhar para o futuro e de tomar a tempo e horas as medidas necessárias em relação ao aeroporto da Portela que possam garantir uma operação eficiente do hub", sublinhou. "Não faria sentido que o Governo estivesse com todos os cuidados a fazer a privatização da TAP para proteger o funcionamento do hub e a conectividade que o cidadão português hoje tem e nós não geríssemos o aeroporto de forma a garantir esse funcionamento eficaz do hub", realça o gestor.

Quanto a uma possibilidade de a ANA poder vir a fazer parte de algum consórcio concorrente à privatização da TAP, Ponce de Leão diz que "não há qualquer interesse (...) até porque há conflito de interesses". "Todas as companhias aéreas são nossas clientes. E a ANA é a concessionária de um serviço público português e acima de tudo tem de ter em conta o interesse do país no seu todo. E na protecção dos interesses que lhe compete salvaguardar está a protecção do hub da TAP".

E acrescenta: "Quando estamos a congelar as taxas de passageiros de transferência, porque Madrid está a dar descontos de 20%, para nos tornarmos competitivos com Madrid, não estamos a proteger a TAP, como diz o senhor da Ryanair, estamos a proteger o hub. Quando estamos a não fazer crescer as taxas dos aviões de maior dimensão estamos a proteger a capacidade. E não a TAP."

"Claro que a TAP acaba por ser protegida, mas também a Turkish Airline, ou a Emirates ou a United, todas as operações com aviões de grande dimensão resultam, por esse facto, protegidas. Estamos é a proteger a operação intercontinental de Lisboa."

Aeroporto de Beja custa 1,5 milhões de EBITDA negativos
Questionado sobre o aeroporto de Beja, Ponce de Leão considerou que "não vale a pena" acelerar o projecto do aeroporto de Beja enquanto não houver tráfego que o justifique, apesar de representar um custo anual de cerca de 1,5 milhões de EBITDA (lucros antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) negativos.

A ANA vai tentar resolver alguns problemas estruturais, como o do custo do combustível, através de um protocolo a assinar com a Galp.
"A Galp cobrava um valor por litro [de combustível] substancialmente superior ao de Lisboa. Era difícil levar companhias a querem instalar-se lá com isso. Vamos investir num protocolo com a Galp onde, até se atingir uma determinada dimensão, nós suportaremos o diferencial [...]", explicou Ponce de Leão.

Sobre as taxas cobradas às empresas de aluguer de automóveis não licenciadas, a ANA diz que está disponível para simplificar o sistema. A cobrança destas taxas está suspensa até os tribunais se pronunciarem sobre as providências cautelares interpostas contra o regulamento. Jorge Ponce de Leão sublinha que a gestora aeroportuária mantém a intenção de avançar com a cobrança destas taxas às empresas de rent-a-car sem instalações nos aeroportos e que operam nos respectivos terminais.

A empresa, garante, está disponível para "rever essa taxa de exploração em função de dados estatísticos concretos". E tem disponibilidade para se "sentar à mesa", "conversar" e "até simplificar" o regulamento, que reconhece, é "pesado" do ponto de vista administrativo.

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