Prestação do empréstimo da casa vai manter-se baixa ao longo de 2013

BPI estima que taxa Euribor a três meses varie entre 0,18 e 0,20% e o prazo a seis meses deve ficar pelos 0,34%

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A queda das taxas Euribor fica a dever-se à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar as suas taxas de referência, actualmente no mínimo histórico de 0,75 por cento Pedro Cunha/arquivo

As taxas Euribor a três e a seis meses, prazos a que está indexada a maioria dos contratos de crédito à habitação das famílias portuguesas, registaram uma queda superior a 80% ao longo de 2012, reduzindo a prestação mensal de um empréstimo de 150 mil euros em cerca de 100 euros. Neste momento, as taxas já apresentam uma margem reduzida para novas descidas, mas a boa notícia para as famílias reside no facto de se esperar que se mantenham nos actuais níveis baixos durante o ano de 2013.

A expectativa do banco BPI para o novo ano é de que a Euribor a três meses, a que estão indexados os contratos de crédito à habitação mais recentes, possa variar entre os 0,18% e 0,20%, valores historicamente baixos. Já para a Euribor a seis meses, que serve de base à maioria dos contratos existentes, a estimativa é que se mantenha próxima dos 0,34%, adiantou ao PÚBLICO, a economista chefe do BPI, Paula Carvalho.

As estimativas do BPI para 2013 correspondem à manutenção das médias de Dezembro. A apenas uma sessão para o fecho do mês, a de segunda-feira, a Euribor a três meses regista uma média mensal de 0,185%, uma variação de 87,02% face ao valor de Dezembro do ano passado (1,426%).

A Euribor a seis meses vai fechar o mês de Dezembro com um valor muito próximo de 0,324% (ver gráfico), o que representa uma queda de 80,6% face a igual mês do ano passado (1,671%). O prazo mais longo de 12 meses, muito pouco utilizado no crédito à habitação em Portugal, registava uma média de 0,549% até ontem, incorporando uma queda de 72,55 por face ao valor de há um ano atrás (2,004%).

A queda das taxas em Dezembro vai permitir uma ligeira redução das prestações mensais dos contratos a rever em Janeiro, apesar de a redução ser cada vez menos expressiva, o que se explica pelo facto de a componente de amortização de capital aumentar de peso sempre que a componente de juros desce. Por outro lado, numa boa parte dos contratos, o peso dos spreads ou margem comercial dos bancos já é maior do que o do indexante que serve de base ao contrato, na grande maioria dos casos a Euribor. Por exemplo, osspreads mais baixos, de 0,25%, que muitas famílias conseguiram negociar nos contratos mais antigos, já são mais altos de que o valor actual da Euribor a três meses. Nos contratos mais recentes, com spreads que variam entre 2% e 6%, a variação da Euribor tem um impacto muito reduzido.

Uma simulação para um empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, com umspread de 0,7%, e indexado à Euribor a três meses, mostra como a redução da prestação é cada vez menor. Com a média de Dezembro, o empréstimo vai passar a pagar uma prestação de 474,58 euros. Face à última revisão, que aconteceu em Outubro, a redução é de apenas 4,17 euros.

Já a simulação com a taxa de Dezembro do ano passado, mostra que a prestação caiu 89,35 euros no espaço de um ano, ou seja, 17,8%.

A mesma simulação, feita pelo PÚBLICO, com a Euribor a seis meses mostra uma variação maior, porque o período de actualização do contrato também é mais longo. O mesmo empréstimo, a rever em Janeiro, vai pagar uma prestação de 484,11 euros, menos 43,34 euros face à última revisão, que aconteceu em Julho. Face ao valor de Dezembro de 2011, a prestação do mesmo empréstimo caiu 98,56 euros, ou 16,9%.

A queda das taxas Euribor, fixadas no mercado interbancário através da indicação da taxa de juro a que os bancos estão dispostos a emprestar dinheiro entre si, fica a dever-se à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar as suas taxas de referência, actualmente no mínimo histórico de 0,75%. De forma a responder à recessão económica que várias economias da zona euro enfrentam, o BCE tem tomado outras medidas , como empréstimos ilimitados aos bancos, por períodos longos, e a ausência de remuneração nos depósitos feitos na instituição. Estas decisões têm contribuído para reduzir a necessidade dos bancos recorrerem a empréstimos entre si, o que contribuiu para a queda das taxas no mercado interbancário.

Na reunião mensal de Dezembro, o presidente do BCE, Mario Draghi, deixou a porta aberta a uma descida da taxa directora, o que provou nova descida nas taxas Euribor, que já anteciparam essa possibilidade. No entanto, neste momento, um número significativo de bancos, incluindo o BPI, coloca pouca probabilidade no corte de taxas do BCE em 2013.

A economista-chefe do BPI defende que o efeito da descida da taxa Euribor já foi conseguido, pelo que a descida da taxa directora "seria queimar munições sem necessidade". Neste momento, as taxas estão baixas, o que representa um alívio para o orçamento das famílias, mas a economista Paula Carvalho alerta para o facto de, dentro de dois anos, ser expectável que as taxas retomem a tendência de subida, e as famílias devem estar preparadas para esse cenário.

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