Presidentes executivos do PSI20 ganharam 33,5 vezes mais do que os trabalhadores

Para ganharem o salário anual de um funcionário, gestores só precisam de trabalhar pouco mais de dez dias e sete horas. Diferença salarial já foi mais expressiva em 2010 e 2011.

Bastam pouco mais de dez dias e sete horas de trabalho para os presidentes executivos de 18 empresas do PSI 20 conseguirem ganhar o equivalente ao salário médio anual dos trabalhadores. Pelos cálculos do PÚBLICO, feitos com base na informação prestada pelas empresas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, em 2013 os CEO ganharam cerca de 33,5 vezes mais do que os colaboradores.

A diferença é expressiva mas a distância encurtou-se em comparação com anos anteriores, nomeadamente, face a 2010 (quando era 37 vezes mais) e a 2011 (44 vezes mais). No ano passado os salários dos presidentes executivos das 18 empresas analisadas caíram ligeiramente (-0,2%), em comparação com 2012. No total, foram gastos mais de 13,7 milhões de euros com os ordenados dos CEO, valor que representa 0,26% das despesas totais com remunerações.

Num ano em que na banca não se pagaram retribuições variáveis, geralmente ligadas aos resultados financeiros - que foram negativos para o sector -, os gestores receberam, em média, 762.324 euros por ano (54.451 euros por mês), uma redução de 0,2%. Olhando para os gastos globais com remunerações, isto significa que os trabalhadores destas empresas auferiram, em média, um vencimento mensal de 1626 euros, ou 22.764 euros por ano.

Assim, para ganharem o rendimento médio de um ano de um colaborador, os CEO só terão de trabalhar cerca de 10 dias e seis horas. O cálculo foi feito dividindo o salário anual dos presidentes executivos pelos 365 dias do ano e considerando oito horas de trabalho diárias. Contudo, há que salientar que quatro empresas não divulgaram os gastos com remunerações e, nestes casos, foi considerado o valor dos custos com pessoal, que podem incluir outras rubricas, como indemnizações.

Em 2013, os presidentes executivos ganharam 33,5 vezes mais do que os colaboradores. Numa análise anterior feita pelo PÚBLICO, concluiu-se que em 2010 os gestores do PSI20 receberam 37 vezes mais do que os trabalhadores. Em 2011, 44 vezes mais. Nesse mesmo ano, em Espanha, os presidentes das empresas que compõem o Ibex, o principal índice da bolsa de Madrid, auferiam mais 24,7 vezes do que a média dos trabalhadores.

A discrepância de valores entre os executivos de topo e os trabalhadores é um tema quente em todo o mundo e são inúmeros os estudos que olham para este fenómeno, muito acentuado quer haja ou não crise financeira e económica. O Canada Center for Policy Alternatives, por exemplo, garantia recentemente que os 100 CEO mais bem pagos do Canadá ganham 171 vezes mais do que um trabalhador médio daquele país. E, para receberem o salário de um ano inteiro de trabalho dos funcionários, estes gestores só precisavam de trabalhar até às 13h11 do dia 2 de Janeiro.

Tal como em 2012, as duas empresas onde a diferença entre os salários dos presidentes é maior face aos trabalhadores são, por esta ordem, a Jerónimo Martins e a Sonae. Em terceiro está a PT, um lugar ocupado pela Galp Energia no ano anterior.

Pedro Soares dos Santos, administrador delegado e presidente do conselho de administração do grupo que detém o Pingo Doce, ganhou 951.750 euros em 2013, ou seja, quase 108 vezes mais do que os trabalhadores (134 vezes em 2012). Os cerca de 76.810 funcionários (Portugal, Polónia e Colômbia) auferiram um salário médio anual de 8822 euros (menos 219 euros, face a 2012). É o quinto gestor mais bem pago do PSI 20.

Segue-se a Sonae, dona do PÚBLICO e dos hipermercados Continente, cujos resultados foram marcados pela positiva pela fusão entre a Zon e a Optimus. O salário de Paulo Azevedo é 91,5 vezes superior ao dos seus 39.951 trabalhadores (não incluindo a Optimus) - e esta diferença cresceu em comparação com 2012, altura em que era 78 vezes maior. Os funcionários do grupo, que tem na grande distribuição o motor do negócio, ganham em média 14.726 euros por ano, enquanto o presidente executivo aufere mais de 1,348 milhões de euros.

Tanto num caso como no outro, os dois presidentes são accionistas das empresas, compostas em grande número por trabalhadores com funções pouco qualificadas (como caixas e repositores) e baixos salários.

Já na Portugal Telecom (PT), o CEO ganhou em média 44 vezes mais do que os 12.729 colaboradores. Em 2013, o salário do presidente da comissão executiva superou 1,36 milhões de euros, um valor que se reparte entre Zeinal Bava - que deixou a liderança executiva da empresa em Junho para assumir as mesmas funções na Oi - e Henrique Granadeiro, que o substituiu. Zeinal Bava recebeu 1,013 milhões de euros e Granadeiro 347,5 mil euros. Para os cálculos, foi, assim, considerado o gasto global da empresa com o seu CEO.

Mais trabalhadores, menos custos
Apesar da quase estagnação nos gastos anuais com os ordenados dos líderes, os custos globais com remunerações cresceram 2%, num ano em que as 18 cotadas analisadas aumentaram o seu quadro de pessoal: há mais 7607 pessoas a trabalhar nestas empresas. Ainda assim, registou-se uma redução de 2% nos gastos médios anuais por colaborador. Os trabalhadores receberam em média 22.764 euros, menos 416 euros do que em 2012, o que indicia que as empresas estão a pagar menos aos novos funcionários.

Também não serão alheias a estes resultados as alterações à lei laboral. Um relatório do Observatório sobre Crises e Alternativas, do Centro de Estudos Sociais, apontava isso mesmo no final de 2013: no último ano os trabalhadores perderam em média 2,3% do salário efectivo e deram à empresa uma semana e meia de trabalho a mais, sem qualquer retribuição adicional, avança o documento, onde se faz o balanço do novo Código do Trabalho. O estudo tem como ponto de partida mudanças como o fim de quatro feriados nacionais, a eliminação de três dias de férias além dos 22 previstos na lei ou a redução das indemnizações para compensar despedimentos.

A maioria dos presidentes executivos viu o seu salário total cair, mesmo num período em que as 15 empresas não financeiras do PSI 20 conseguiram aumentar os lucros, depois de dois anos consecutivos de quedas. O resultado líquido atingiu os 3159,2 milhões de euros em 2013, uma subida de 14,2% que superou a fasquia de 2010.

Entre os 18 gestores, oito tiveram aumentos de ordenado, composto por uma parcela fixa e outra variável, geralmente de maior valor: o CEO da PT (Zeinal Bava até Junho e Granadeiro nos restantes meses), Ângelo Paupério, da Sonaecom, Pedro Queiroz Pereira, da Semapa, Paulo Azevedo, da Sonae, Rui Correia, da Sonae Indústria, Rui Cartaxo,  da REN (substituído este ano por Rui Vilar), Gonçalo Andrade Moura Martins, da Mota-Engil. No caso do BCP, o banco gastou mais 6% em encargos com o seu CEO (Santos Ferreira, até Fevereiro, e Nuno Amado, a partir de Março).

PQP recebe mais
Pedro Queiroz Pereira foi o executivo mais bem pago: ganhou 1,7 milhões de euros o ano passado, o que equivale a um aumento de 22% em comparação com 2012. O conselho executivo da Semapa, holding que agrega empresas como a Portucel e a Secil, também foi o que ganhou um salário total maior. Os cinco administradores que o compõem receberam mais de seis milhões de euros, uma subida significativa de 45% face a 2012. 

O líder e dono da Semapa "destronou" Manuel Ferreira de Oliveira, o CEO da Galp Energia que em 2012 ocupava o primeiro lugar da lista dos mais bem pagos. O rosto da petrolífera portuguesa ganhou menos 12% de retribuição total, que atingiu os 1.375.200 euros. O ano passado, os lucros da Galp caíram mais de 15%, enquanto as receitas evoluíram positivamente (mais 6%).

Em terceiro lugar está o presidente executivo da PT, com o salário acumulado de 1,3 milhões de euros, um crescimento de 6% em comparação com 2013. Segue-se Paulo Azevedo, presidente executivo da Sonae, que recebeu mais de 1,3 milhões de euros (+18%). O seu salário base caiu ligeiramente, mas a retribuição variável teve um crescimento de 30% no ano em que se concretizou a fusão da Zon com a Optimus.

António Mexia, que tem protagonizado os rankings dos gestores do PSI 20 mais bem pagos, está em quinto lugar na lista, com um salário de 988.573 euros, menos 17% face a 2012. Ocupa a mesma posição de 2012 e esta redução explica-se pela queda do ordenado variável (passou de 480 mil euros para pouco mais de 250 mil euros o ano passado). No entanto, o seu salário base cresceu 3%.

No fim da tabela, entre os CEO com um salário total mais baixo, estão Paulo Fernandes – que acumula a gestão da Cofina com a da Altri - e Jorge Tomé, do Banif. Para o ranking, foi considerado o gasto de cada empresa com o seu CEO e, por isso, Paulo Fernandes surge no fim da lista. Contudo, com a soma do ordenado global que recebe de ambas as empresas das quais é proprietário, sobe para a 9ª posição (com um total de mais de 602 mil euros de vencimento).

O CEO com o salário total mais baixo é Jorge Tomé, do Banif. Até assumir este cargo, em Abril de 2013, era o homem forte da Caixa BI e administrador da Caixa Geral de Depósitos. Os accionistas do Banif foram recrutá-lo para tentar recuperar a instituição bancária, onde o Estado teve de injectar 1100 milhões de euros em Janeiro de 2013. Esta operação implicou uma redução nos vencimentos do conselho executivo. No ano passado, o cargo de presidente executivo custou 194.415 euros à instituição financeira.

Excluíram-se da análise a ES Financial Group e a Portucel pelo facto de os elementos das comissões executivas auferirem a maior parte do salário através de outras empresas dos respectivos grupos, não sendo possível obter dados consolidados. com Raquel Almeida Correia, Ana Brito, Cristina Ferreira, Rosa Soares e João Pedro Pereira
 

Notícia corrigida na parte referente a Nuno Amado, CEO do BCP. Na versão anterior, era dito que o gestor teve aumento de remuneração, quando o que se verificou foi um aumento da remuneração paga pelo banco ao seu presidente executivo e, em 2012, Nuno Amado assumiu o cargo apenas em Março.

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