Presidente da TAP admite que houve “ordens superiores” para embarcar passageiros sírios

Companhia ainda tem mil reservas para Bissau por resolver já na próxima semana.

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A TAP encontrou voos alternativos a 500 passageiros Rafael Marchante/Reuters

O presidente da TAP admitiu nesta sexta-feira que houve “ordens superiores” para terça-feira de madrugada embarcar os 74 passageiros sírios em Bissau, o que levou à suspensão da rota por parte da companhia de aviação portuguesa.

À margem da reunião anual da Star Alliance, onde se encontram todos os responsáveis máximos das transportadoras aéreas que integram a aliança, Fernando Pinto quis deixar claro que “não houve demonstração de força perante a tripulação”, com se tem especulado. O gestor brasileiro esclareceu que “a maior pressão foi feita sobre o chefe de escala”, responsável pela ligação entre Bissau e Lisboa.

Questionado sobre o tipo de pressão exercido, o presidente da TAP disse que “vieram ordens superiores para embarcar”, com a ameaça de que, se tal não sucedesse, “o avião ficaria retido”. Fernando Pinto preferiu, no entanto, não especificar de quem vieram essas ordens.

Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Delfim da Silva, já tinha comentado: “Não estou a ver gente com armas a obrigar a tripulação a embarcar os passageiros”.  Hoje, disse: "São detalhes que vão demorar a ficar esclarecidos." Uma comissão de inquérito foi já anunciada pelo primeiro-ministro.


Os ânimos ainda não serenaram entre todos os passageiros da TAP com viagens marcadas num sentido ou noutro. A companhia já conseguiu encontrar voos alternativos para cerca de 500 passageiros que tinham reservas esta semana, através de uma parceria com a Air Senegal. No entanto, ainda há cerca de 1000 passageiros com viagens marcadas para a próxima semana e que estão por resolver.

“Temos uma equipa especial na TAP a tratar esta questão”, disse o gestor, explicando que, além da alternativa do Senegal, foram “colocados voos adicionais em Dakar e também foi dada a possibilidade de fazer [a viagem] via Marrocos”. De qualquer forma, esta situação irá comportar custos adicionais para a transportadora aérea nacional, além do facto de poder vir a ser multada por transportar passageiros com documentos inválidos. Fernando Pinto garantiu que a empresa “vai recorrer da multa”.

Até à suspensão dos voos, a TAP voava três vezes por semana para Bissau. Uma ligação tradicional da companhia, mas sem rentabilidade elevada. “É uma rota equilibrada” financeiramente, disse Fernando Pinto, apesar de acrescentar que acredita que “um dia vai crescer”.

A companhia não descarta a hipótese de retomar os voos, mas apenas “se não voltarem a acontecer situações deste tipo”, referiu o gestor, frisando que “o aeroporto tem de oferecer uma condição de conforto à empresa”. Quanto às negociações que estarão a decorrer entre os governos dos dois países para resolver a situação, o presidente da TAP não quis responder por se tratar de um “assunto de Estado”.

Uma das soluções poderá ser retomar o apoio do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em Bissau. Até há um ano, era desta forma que funcionava a operação da TAP no país, mas “foi proibido pelas autoridades locais”, adiantou Fernando Pinto. “Agora há a hipótese e esse seria um caminho inteligente”, admitiu.

Delfim da Silva defende a reactivação do protocolo, que vigorou ao longo de 2012, de forma a ultrapassar o problema que este episódio criou entre os dois países. Conforme o acordo, inspectores do SEF faziam um controlo de passageiros à entrada do avião. Por esta via, as autoridades portuguesas terão conseguido reduzir de forma significativa a entrada de cidadãos oriundos da Guiné-Bissau com documentos falsos em território nacional. Findo o acordo, tudo terá regressado à estaca zero.

Reactiviar o acordo não lhe parece complicado. Na opinião do ministro, seria uma forma de "criar confiança". 


A jornalista viajou a convite da Star Alliance 
 

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