Presidente da Galp entende que bombas low-cost também devem vender combustível normal

Ferreira de Oliveira antevê fecho de bombas se legislação do Governo para venda de combustível low-cost em todas as bombas avançar e defende redução de impostos na gasolina.

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O presidente da Galp energia diz que os impostos em Portugal estão ao nível de outros países Miguel Madeira

O presidente da Galp Energia admite ter “muita curiosidade” em relação à legislação que o Governo está a preparar para obrigar as gasolineiras a disponibilizarem combustíveis low-cost. Ferreira de Oliveira defende, contudo, que então as bombas mais baratas também devem ser “obrigadas a ter produtos aditivados nos seus postos de abastecimento”.

Em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, Ferreira de Oliveira referia-se à medida apresentada ainda em Outubro de 2012, altura em que o Executivo de Passos Coelho fez saber que pretende dinamizar as redes de combustíveis low-cost, incentivando a sua comercialização. A medida está, aliás, prevista no Orçamento do Estado para 2013 com o objectivo de minimizar os efeitos da subida do preço do petróleo. A ideia do Governo passa não só por estimular o aparecimento de novos postos que disponibilizem combustíveis mais baratos como por introduzir a oferta low-cost nas bombas já existentes.

Ferreira de Oliveira começa por esclarecer que “não há combustíveis low-cost, no sentido que às vezes se assume”, já que qualquer produto tem de cumprir as especificações dos fabricantes de automóveis. “Qualquer produto que é vendido à porta de uma refinaria, seja a refinaria A, B ou C, tem de cumprir com essas especificações técnicas, (...). Dou isso como assente, todos os combustíveis cumprem com as especificações necessárias”, insiste, esclarecendo que onde as bombas low-cost conseguem poupar é nos aditivos que escolhem para juntar ao combustível.

Ainda sobre o mesmo tema, o presidente da Galp garante que se a legislação avançar naturalmente que a cumprirá, mas tem “muita dificuldade em pensar como é que essa legislação se vai estabelecer, num contexto de um mercado livre, transparente e competitivo”. E acrescenta: “Tem como objectivo, tanto quanto entendo, forçar as empresas a reduzir o preço dos combustíveis, mas vai forçar as empresas a investir mais. Não consigo perceber como é que investindo mais se reduz os preços dos combustíveis.” Além disso, o responsável considera que já existem postos a mais no país e que a nova legislação pode precipitar alguns encerramentos.

Combustíveis vão aumentar?
Questionado na mesma entrevista sobre se a escalada de preços nos combustíveis poderá parar, Ferreira de Oliveira diz que “a evolução do preço dos combustíveis é um exercício impossível”, sobretudo numa altura em que muitas zonas do mundo estão a crescer. “Nós estamos aqui imersos numa depressão, mas a verdade é que o mundo tem vindo a crescer, e a crescer de uma forma muito relevante. E cada vez custa mais produzir o novo crude para refinar nas refinarias, porque o equilíbrio entre a oferta e a procura tem vindo a apertar”, justifica.

Sobre os preços praticados pela Galp, assegura que as refinarias se têm de guiar pelas cotações internacionais e que se optassem por baixar os preços “todos os grandes grossistas internacionais nos vinham comprar” e “era tudo exportado”.

Para o presidente da Galp, a solução para conter a escalada do preço dos combustíveis está do lado dos impostos, ainda que diga que a carga fiscal em Portugal está em linha com a dos outros países europeus. Contudo, antevê algumas hipóteses de melhoria na gasolina. “A nossa carga fiscal coincide com a média europeia, mas diverge num ponto: penaliza mais as gasolinas do que os gasóleos. Gostaria de ver as gasolinas menos penalizadas e os gasóleos, se possível, mantê-los. Se não for possível, tentar nivelar a carga fiscal entre gasolinas e gasóleos. Todos sabemos que o consumidor de gasolina é a classe média e a classe com menos proveitos. O consumidor de gasóleo são as empresas e a classe média-alta”, sublinha.

Quebra no consumo
As dificuldades financeiras e económicas de Portugal têm também tido reflexo no consumo de combustíveis, com o responsável pela Galp Energia a relatar que “o consumo em Portugal em 2012 foi dois terços do de 2005”.

Em resposta a uma pergunta sobre se a Galp não devia pagar mais impostos para ajudar o país, Ferreira de Oliveira foi peremptório: “A nossa empresa deve ser o maior colector de impostos depois do Ministério das Finanças. Todos os dias recolhemos impostos, nos pontos de venda, quer em Portugal quer em Espanha, que devolvemos de imediato ao governo – ISP e IVA em quantidades multibilionárias.”

“Portugal não aguenta mais desemprego”
Já no campo político, o administrador reforça que é muito importante que Portugal cumpra os compromissos com os credores, até para não afastar os investidores do país. “Se emprestasse 1000 euros a uma pessoa e ela viesse ter comigo uma semana depois a dizer que só me pagava 500, não voltava a emprestar. Portanto, é importante que o país cumpra, mas também é importante que mantenha um diálogo permanente com os credores, para demonstrar que vai ter capacidade de pagar a longo prazo a dívida que tem”, diz, citado pela TSF e Dinheiro Vivo.

Ferreira de Oliveira afirma acreditar na recuperação do país apesar dos momentos “extremamente difíceis” que se vivem, mas deixa um alerta: “Sem retomarmos o emprego e o crescimento económico nós não saímos deste esforço, mas para isso é preciso investimento. Infelizmente, a maioria do investimento tem que vir de fora e, para vir de fora, os investidores têm de confiar que somos uma economia com as condições básicas para crescer. E reforça, em resposta à pergunta sobre se o país aguenta mais impostos, que “Portugal não aguenta mais desemprego”.

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