Presidente da CP não concorda com venda da empresa de mercadorias

Manuel Queiró lembra que a empresa “está a caminho da sustentabilidade”.

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O processo para a privatização da CP Carga vai acelerar nos próximos meses e o presidente da empresa espera que – se tudo correr como o previsto – o candidato seja escolhido no mês de Agosto e a assinatura da venda ocorra em meados de Setembro “a um mês das eleições”.

Manuel Queiró falou ontem, terça-feira, aos seus quadros de primeira linha da CP Carga, para lhes dar conta da venda da empresa, mas não escondeu a sua contrariedade perante estas ordens do governo. “É um processo político porque não faz sentido vender uma empresa que está a caminho da sustentabilidade”, disse.

O gestor referiu que a privatização da transportadora ferroviária de mercadorias nem sequer estava nos planos da troika, até porque na Grécia essa medida não foi tomada, mas que da parte portuguesa alguém apresentou essa possibilidade, que foi imediatamente “agarrada” pelos representantes dos credores.

Em 2014, este processo sofreu hesitações, avanços e recuos, mas, em Setembro passado, Manuel Queiró foi informado pela tutela de que a CP Carga já não podia continuar a ser financiada pela empresa-mãe nem pelo Tesouro. Mais: havia o risco de, em Bruxelas, a Direcção-geral da Concorrência apresentar queixa contra Portugal por continuar a colocar dinheiro público numa empresa que opera supostamente num mercado liberalizado.

Apesar de ter tentado convencer o Governo “ao mais alto nível” para segurar a CP Carga na esfera pública, argumentando que os seus resultados estavam a melhorar, o presidente da empresa viu-se confrontado com orientações expressas da Secretaria de Estado do Tesouro para vender.

“As Finanças vão-nos fazer morrer na praia”, desabafou, acrescentando que o Governo estava a levar à destruição da CP Carga, precisamente quando ela estava melhor, o que significava que a empresa estava a ser conduzida para “um funil triturador”. E concluía: “Isto é inaceitável”.

No entanto, cumprindo ordens, Manuel Queiró diz que já tem o Banco BIG como assessor financeiro para o processo de privatização e o escritório Rebelo de Sousa & Associados para aconselhamento jurídico.

O gestor admitiu que, se não houver interessados na compra da CP Carga, não tem nenhum plano alternativo, competindo à tutela decidir o que fazer num cenário desses. Tutela essa que estará em gestão corrente se e quando esse questão se colocar.

Em 2014, a CP Carga anunciou os melhores resultados de sempre, tendo transportado um número recorde de 9,2 milhões de toneladas e aumentado a receita em 16%. Os prejuízos reduziram-se de 23 para 16 milhões de euros, considerando a empresa, em comunicado, que a sua sustentabilidade “poderá ser uma realidade a curto prazo”. A empresa, porém, está em falência técnica e tem um passivo que ronda os 200 milhões de euros.

O Governo, ou em rigor, o Ministério das Finanças, decidiu também avançar com a privatização da EMEF (empresa de manutenção dos comboios da CP). Esta empresa depende em mais de 90% das suas receitas da empresa-mãe CP e não opera no mercado, pelo que foi desaconselhada a sua privatização neste momento, mas o governo decidiu avançar.

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