BCP registou prejuízos de 740 milhões de euros em 2013

No BCP os salários vão baixar em média 6% e o quadro de pessoal irá reduzir-se em 1084 trabalhadores.

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Prejuízos do Millennium BCP continuaram elevados em 2013 Pedro Cunha

O Banco Comercial Português (BCP) encerrou o exercício de 2013 com um prejuízo consolidado de 740,5 milhões de euros, o que traduz, ainda assim, uma melhoria face a 2012 [resultados negativos de 1,2 mil milhões]. O BCP vai cortar, até 2017, cerca de 1080 colaboradores, e baixar em média 6% os salários no grupo em Portugal, para cumprir o acordo celebrado com as autoridades europeias, no contexto do empréstimo que recebeu do Estado.

O pré-acordo assinado entre o BCP e os sindicatos para a implementação do plano de reestruturação negociado com Bruxelas inclui um corte médio salarial de 6%, com os trabalhadores com vencimentos mais baixos a ficarem imunes e os do topo da pirâmide a terem reduções de 11%, explicou o presidente do BCP, Nuno Amado, durante a conferência de imprensa de apresentação das contas de 2013.

No contexto do mesmo programa, a operação doméstica do BCP terá de chegara a 2017 com um quadro de pessoal com 7500 colaboradores, ou seja, menos 1084 do que o valor contabilizado em Dezembro do ano passado. Uma via que “não será por recurso ao despedimento colectivo”, mas por reformas antecipadas e rescisões amigáveis. O BCP já constituiu uma provisão de 126 milhões de euros para acomodar as exigências dos reguladores, que contemplam ainda o fecho de 74 balcões, passando a rede comercial a contar com 700 balcões.

“Não tenho qualquer opinião sobre esse tema [a via que Portugal deve seguir quando terminar a intervenção externa], apenas sei que a estratégia de consolidação orçamental deve continuar nos próximos tempos”, defendeu Nuno Amado, quando inquirido se Portugal deve optar pela via irlandesa (saída do programa de intervenção sem apoio intermédio) ou por negociar um programa cautelar. 

O  banqueiro salientou que, embora “Portugal esteja na direcção certa, os mercados são voláteis, e numa altura está tudo bem, noutra tudo mal”, razão pela qual qualquer decisão “deve ser tomada mais próximo do final do prazo” acordado com a troika. “Mas qualquer via é boa desde que seja adequada ao momento em causa.” O banqueiro acredita ainda que Portugal não irá “solicitar a reestruturação da dívida”, como recentemente foi defendido por um responsável do Barclays [um banco “cheio de problemas em Inglaterra”], opinião que está sustentada, por um lado, no facto de a economia nacional estar a crescer, ainda que ligeiramente, e de os juros a 5 e 10 anos estarem a cair. Amado considera ainda “fundamental” que os níveis dos juros a prazos mais longos continuem a baixar para que o serviço da dívida se reduza e possa ser “suportável.”

No que respeita às contas anuais, o BCP fechou o exercício passado com prejuízos de 740,5 milhões de euros, valor que já reflecte o contributo das operações externas: o banco polaco (127,1 milhões), moçambicano (85,5 milhões) e angolano (40,8 milhões). Juntos, lucraram 253 milhões. Os resultados revelam uma evolução negativa da margem financeira, que em 2013 se situou em 848,1 milhões de euros, e que se compara mal com os 998 milhões de euros em 2012.

O banco sustenta que esta queda da margem foi influenciada pelo aumento do custo dos juros associados à emissão de instrumentos financeiros híbridos subscritos pelo Estado (CoCos), totalizando 269 milhões de euros em 2013, contra 134,9 milhões de euros em 2012.

Para os prejuízos contribuíram, entre outros factores, as dotações para imparidades e provisões, no montante agregado de 1286,6 milhões de euros, e o montante de 126,5 milhões de euros para reformas e rescisões. As comissões líquidas cresceram 1,2% em 2013, para 663 milhões de euros, e os resultados em operações financeiras desceram de 436,7 milhões de euros para 264,2 milhões de euros.

O crédito a clientes caiu de 66,8 mil milhões de euros, em 2012, para 60,2 mil milhões de euros no último exercício. O activo total também caiu, passando de 89,7 mil milhões de euros em 2012 para 82 mil milhões de euros em 2013, o que repercute o efeito da alienação do Millennium Bank, na Grécia, em Junho passado.

O rácio tier 1 atingiu 13,8% de acordo com os critérios do Banco de Portugal, situando-se acima dos 12,4 que apresentava em Dezembro de 2012. De acordo com os critérios da autoridade europeia EBA, o rácio core tier 1 fixou-se em 10,8% (12,8 ajustado do buffer para os valores de 31 de Dezembro de 2013).

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