Portugueses gastam menos 2,3 mil milhões em carros novos em dois anos

Vendas recuam para nível de 1985, antes da entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia. Venderam-se menos 128 mil automóveis novos em 2011 e 2012.

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A quebra do Imposto Sobre Veículos é de 43,6% face a 2011 Adriano Miranda

A compra de carros em Portugal caiu mais de 2,3 mil milhões de euros em dois anos, fruto de uma queda abrupta no consumo interno e devido à austeridade imposta como contrapartida ao empréstimo da troika ao país.

Segundo dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), em 2011 e 2012 o mercado automóvel vendeu menos 128 mil automóveis novos, provocando o encerramento de centenas de concessionários e vários despedimentos ainda não contabilizados.

No início deste ano, a ACAP alertava que, perante a crise instalada, 2012 seria o ano em que se previa o despedimento de 21 mil pessoas no sector e o encerramento de 2600 empresas, uma perda directa de receita fiscal de cerca de 190 milhões de euros, “para além de todos os custos a nível social”, o que configura uma “situação dramática para as empresas do sector” e isto quando se previa uma queda 18,5% do mercado automóvel face a 2011.

Chegados a Novembro deste ano, a quebra nas vendas está nos 40,1%, muito superior ao previsto em Fevereiro, e com danos que os próprios intervenientes no sector ainda não conseguem contabilizar.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de importação de carros e seus componentes reflectem a situação do sector, com uma quebra de 1,2 mil milhões de euros de Janeiro a Setembro relativamente ao mesmo período do ano passado, menos 27,6%, um desempenho que tenderá a agravar-se até ao final do ano.

O INE refere que, no período em análise, as importações de automóveis passaram de 4331 milhões de euros em 2011 para 3139 milhões de euros até Setembro deste ano. Por exemplo, a compra de carros à Alemanha e França, os dois principais países forncedores (Volkswagen, Audi, Opel, Mercedes, BMW, Renault, Peugeot, Citroën), caiu 28,3% entre Janeiro e Setembro, para 1541 milhões de euros, menos 607 milhões do que em 2011.

A Alemanha foi a mais penalizada, com as importações a diminuírem 422 milhões de euros, e a França registou uma queda de 185 milhões de euros.

As importações do sector automóvel representam actualmente 7,5% do total de todas as compras no exterior, que de Janeiro a Setembro se situaram nos 41,6 mil milhões de euros.

 
ACAP pede reintrodução do incentivo ao abate

Face a esta conjuntura, a ACAP pede que seja reintroduzido o plano de incentivo ao abate de veículos em fim de vida “o mais rapidamente possível”, tendo, para isso, reunido regularmente com o Governo e com os deputados da Assembleia da República.

Os responsáveis da ACAP já reconheceram que as vendas de automóveis este ano deverão ser as piores dos últimos 27 anos: já é necessário recuar até 1985 para se encontrar um ano igualmente fraco. Foram então vendidos 93.013 carros.

E para o próximo ano, com um Orçamento do Estado para 2013 que retira poder de compra às famílias e empresas através do aumento de impostos e medidas de austeridade, a ACAP não prevê melhorias, antes pelo contrário. Hélder Pedro, secretário-geral da associação, prevê que se vendam menos de 100 mil unidades no total entre automóveis ligeiros e de passageiros.

Uma situação que terá também implicação directa na receita fiscal do Estado, uma vez que, segundo dados da execução orçamental de Novembro, a quebra do Imposto Sobre Veículos (ISV) se situa nos 43,6% relativamente ao ano anterior, para 309,5 milhões de euros quando o Estado previa encaixar até esta data quase o dobro, ou seja, 586 milhões de euros.

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