Portugueses estão de volta ao consumo, acredita o Banco de Portugal

A contar com a criação do emprego e com uma queda menor do rendimento disponível, o banco central aponta para um crescimento de 0,3% do consumo privado em 2014.

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O ciclo negativo em que a economia caiu nos últimos três anos, com medidas de austeridade a provocarem fortes quebras no consumo privado e na actividade económica, vai acabar no próximo ano, acredita o Banco de Portugal.

A entidade liderada por Carlos Costa prevê agora que, pela primeira vez desde 2010, o consumo privado volte a crescer em 2014 e que a procura interna volte a ser o principal motor da economia em 2015. Isto apesar de, no Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano, ser aplicada uma nova dose de austeridade, que inclui cortes de salários e de pensões no sector público.

O optimismo reforçado do Banco de Portugal levou a que a instituição passasse a prever no Boletim Económico de Inverno, publicado nesta terça, um crescimento de 0,3% no consumo em 2014, quando no boletim do Verão apontava para uma contracção de 1,4%. Este é o principal motivo para que a previsão de crescimento da economia no próximo ano tenha sido revista de 0,3% para 0,8%. O optimismo em relação ao consumo é ainda mais significativo se for tido em conta que no boletim de Verão não era sequer considerado o impacto das medidas de consolidação orçamental do OE, algo que agora já acontece.

O que pode explicar esta nova previsão de retoma do consumo privado? A justificação assenta em dois fenómenos que se têm vindo a registar nos últimos meses: o aumento do número de empregos e a subida dos níveis de confiança dos consumidores. Segundo o banco central, será o aumento do emprego que irá permitir que, apesar das novas medidas de austeridade, o rendimento disponível real dos portugueses só possa vir a cair 0,3% em 2014, quando em 2011 recuou 3,7%, em 2012 diminuiu 2,7% e em 2013 baixou 2,1%.

Depois da subida registada no terceiro trimestre deste ano, o Banco de Portugal prevê acréscimos no número de pessoas empregadas de 0,5% em 2014 e 2015, ou seja, a criação de cerca de 22700 empregos durante o próximo ano. E a entidade liderada por Carlos Costa acredita que o aumento do emprego vai compensar em larga medida o impacto negativo da austeridade no rendimento que fica nas mãos dos portugueses.

Para justificar o facto de se prever um aumento de 0,3% no consumo, apesar da descida de 0,3% no rendimento disponível, o Banco de Portugal diz que os portugueses já estão preparados para gastar uma maior parte do seu rendimento. De acordo com o banco, a taxa de poupança deverá passar de 12,2% em 2013 para 11,6% em 2014. Será a primeira descida desde 2011 e acontecerá depois de, em 2012 e 2013, se ter registado um máximo neste indicador desde, pelo menos, 1999.

Nos últimos dois anos, a contracção do consumo tem sido superior à queda do rendimento disponível. Agora, o Banco de Portugal acredita que pode acontecer o inverso. A razão: a melhoria dos indicadores de confiança dos consumidores que se tem vindo a registar nos últimos meses.

Em particular, a autoridade monetária está à espera que o consumo de bens duradouros (como electrodomésticos e automóveis) apresente uma evolução positiva. Este fenómeno já se verificou durante o terceiro trimestre e são esses resultados que animam as expectativas do Banco de Portugal.

Há, no entanto, uma nota de prudência no relatório do BdP: a “progressiva recuperação” da procura interna estará condicionada pela consolidação orçamental, pelo processo de “desalavancagem do sector privado” e pelas “condições desfavoráveis no mercado de trabalho”

Mais investimento
Com esta recuperação do consumo, o Banco de Portugal projecta que o contributo da procura interna para o crescimento do PIB comece outra vez a aumentar e que, no final de 2015, seja já superior ao das exportações líquidas (exportações menos importações), naquilo que parece ser um regresso ao antigo motor de crescimento da economia portuguesa.

Ainda assim, o banco central está confiante na continuação de um crescimento elevado das exportações (5,5% em 2014 e 5,4% em 2015) e acredita que a variação das importações, apesar de uma aceleração, continuará a ser menor (3,9% em 2014 e 4,5% em 2015).

São estes números que justificam que o saldo da balança externa continue a melhorar nos próximos anos, passando de 2,5% do PIB em 2013 para 3,8% em 2014 e 4,7% no ano seguinte. “A correcção dos desequilíbrios externos e, muito em particular, a manutenção sustentada da capacidade de financiamento é um dos aspectos mais salientes do processo de ajustamento da economia portuguesa”, diz o banco central.

Do lado da procura interna, prevê-se que o consumo público continue a cair em 2014 e 2015, embora de forma menos acentuada do que aquilo que era previsto no boletim de Verão. Em relação ao investimento, o banco mantém praticamente inalterada a projecção de crescimento em 2014, que é agora de 1% (1,1% no Verão). Também no caso do investimento, tal como no consumo, este é um regresso ao crescimento, algo que não acontecia desde o início da crise das dívidas soberanas.
 
 

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