Portugal reforça liderança nas exportações europeias de louça de mesa

Aplicação de direito anti-dumping sobre importações chinesas está a incentivar empresas nacionais a aumentarem a produção.

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Vendas da cerêmica portuguesa para o estrangeiro estão a crescer Enric Vives-Rubio

A aplicação de um direito anti-dumping sobre as importações de artigos de cerâmica da China, maior produtor mundial em vários segmentos, está a revelar-se positiva para a indústria cerâmica portuguesa, que viu as exportações crescerem 15% nos primeiros dois meses do corrente ano, depois de um crescimento de 5% no total de 2013, para 600 milhões de euros. No segmento específico onde se aplicou a limitação das importações, as taxas de crescimento das exportações são mais expressivas.

A aplicação do direito anti-dumping incidiu concretamente sobre os artigos para serviço de mesa ou cozinha, de cerâmica, que começou a ser aplicado com carácter provisório em Novembro de 2012, passando a definitivo em Maio de 2013.

O impacto nas exportações já é visível e pode ser ainda maior no médio prazo. É que, segundo a associação do sector, a APICER, o aumento das exportações está “a induzir a novos investimentos no sector, designadamente ao nível da expansão da capacidade produtiva em empresas já existentes, invertendo uma tendência negativa que já perdurava há vários anos”.

A aplicação de direitos anti-dumping às importações chineses beneficia a indústria de cerâmica europeia em geral e a portuguesa em particular. Isto porque as empresas nacionais enfrentam custos de contexto que tornam a concorrência com a produção chinesa ainda mais difícil.

Entre os maiores constrangimentos, a APICER elenca o elevado custo energético, designadamente o gás natural para a indústria, bem mais elevado que o suportado pelos principais concorrentes internacionais. Dados do Eurostat e da DGEG, mostram que, no primeiro semestre de 2013,  os preços estavam entre 10,53 euros/GJ em Itália, 10,65 euros em Espanha, e 11,46 euros em Portugal, apenas para citar alguns países.

Refere a APICER, que esta circunstância, “já de si altamente adversa, quando conjugada com as dificuldades de acesso ao crédito, e com as questões inerentes à logística e transporte, constituem alguns dos principais constrangimentos que a indústria cerâmica portuguesa enfrenta”.

Portugal, que de acordo com dados do Eurostat, é o maior produtor da União Europeia (UE) de louça de uso doméstico em faiança ou barro fino, grés e barro comum, reforçou a sua quota exportadora nos segmentos abrangidos pelo direito anti-dumping. Em 2013, e face ao ano anterior, a taxa de crescimento nos produtos envolvidos foi de 16,9% na louça de porcelana e de 16,4% na não porcelana. Este crescimento não tem, de acordo com a APICER, paralelo nos últimos 10 anos.

A expressividade do crescimento das vendas nacionais pode ainda ser aferida pelo crescimento das exportações dos 27 países da UE, que naqueles segmentos se situaram em 6% e 8%, respectivamente.

Em resultado da restrição aplicada pela Comissão Europeia, as importações chinesas caíram para níveis de 2005, quando este país passou a integrou a Organização Mundial do Comércio (OMC), com uma queda de 39,7% e 35,3% para os dois segmentos.

Portugal já liderava, em 2012, a produção na UE de louça de uso doméstico em faiança ou barro fino, grés e barro comum, e ocupava o segundo lugar no ranking mundial, com uma quota de 9,04%, a seguir à China.

Ainda de acordo com dados do Eurostat, Portugal foi o sétimo exportador de produtos cerâmicos com origem na UE em 2013, que no total ascenderam a 15.172 milhões de euros (acima dos 14.801 milhões de euros em 2012). Para além da liderança na louça de uso doméstico, a indústria nacional ocupou o quarto lugar em vários segmentos das exportações europeias, como o da louça sanitária, das estatuetas e outros objectos de ornamentação, dos pavimentos e revestimentos vidrados ou não esmaltados. Surge ainda em 8º lugar na exportação de telhas cerâmicas e em nono na louça doméstica em porcelana.

Em termos de exportações nacionais, os dados referentes aos primeiros dois meses de 2014 mostram um crescimento de 15,1% nos primeiros face a igual período do ano passado, totalizando cerca de 106 milhões de euros. A evolução das vendas do sector foi superior ao das exportações nacionais totais, que se ficaram por um aumento homólogo de 3,5%.

As exportações no corrente ano continuam a dinâmica positiva do último ao, em que as vendas para fora do país cresceram 5%, superando os 600 milhões de euros. O crescimento mais expressivo, de 8,5%, ocorreu nos mercados extracomunitários. O espaço comunitário, que absorve cerca de dois terços das exportações totais, registou um crescimento de 3,5%.

Neste momento, o sector vende para 155 países, incluindo a China e a Índia, que aparecem posicionados em 37º e 56º lugar respectivamente.

Apesar do crescimento consecutivo nos últimos cinco anos, o sector não igualou, embora a margem seja pequena, o valor das exportações que registou em 2008, quando eclodiu a crise financeira internacional.

Por segmentos, os pavimentos e revestimentos cerâmicos são os que têm maior peso nas exportações, representando 42,5% do valor total. Segue-se a cerâmica utilitária e decorativa, com 32,2% e a louça sanitária (17,9%).

As importações nacionais registaram uma forte diminuição nos últimos cinco anos, passando de 157,1 milhões de euros em 2009, para 91,9 milhões de euros em 2013, o que coloca este sector a contribuir positivamente para a balança comercial portuguesa.

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