Portugal perde mais um “assalto” no combate contra a deflação

Taxa de inflação caiu para -0,9% em Julho e acentuam-se os sinais de que a queda de preços pode não ser temporária como aconteceu em 2009.

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Saldos deste ano foram maiores do que o habitual PEDRO CUNHA/Arquivo

Pelo sexto mês consecutivo os preços estão a cair em Portugal e acentuam-se os sinais de que a queda da inflação pode não ser desta vez, ao contrário do que aconteceu em 2009, um fenómeno passageiro, colocando a economia portuguesa em risco de entrar na armadilha da deflação.

Os números apresentados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) acentuaram a tendência de descida da taxa de inflação que se regista já desde há um ano. A variação dos preços face ao ano passado passou de -0,4% em Junho para -0,9% em Julho. Os valores negativos na inflação homóloga registam-se sem interrupção desde o passado mês de Fevereiro.<_o3a_p>

O principal factor por trás desta descida tão abrupta de preços em Julho parece ter sido uma época de saldos em que as lojas foram bastante agressivas na sua tentativa de atrair compradores. Em termos mensais, os preços do vestuário e calçado caíram 14,7% durante o mês de Julho. Em Julho do ano passado, também houve saldos como é hábito, mas registou-se no mesmo tipo de produtos uma baixa de preços mais próxima da média de 9,1%.<_o3a_p>

Este resultado, a par da manutenção de uma tendência de evolução extremamente moderada dos preços da generalidade dos produtos, fez com que em termos homólogos a inflação total registasse uma quebra significativa.<_o3a_p>

Para os consumidores, uma época de saldos em que as lojas baixam mais os preços que o habitual e em que a generalidade das empresas sente constrangimentos na hora de subir preços dificilmente pode deixar de ser vista como uma má notícia, já que vêem o seu poder de compra ser ajudado numa conjuntura difícil em termos salariais. <_o3a_p>

No entanto, avisam os economistas, se a descida de preços for muito prolongada e se passar a ser dada como certa por consumidores e empresas, pode acabar por ter efeitos muito negativos na evolução da economia. Os consumidores e as empresas tendem a adiar as suas decisões de consumo e de investimento e a economia não cresce. Além disso, quem estiver endividado, incluindo o Estado, fica com mais dificuldades em fazer face aos seus compromissos. <_o3a_p>

É a chamada armadilha da deflação, em que caíram países como o Japão, e da qual é muito difícil sair. Os dados da inflação de Julho vieram aumentar a probabilidade de Portugal ser uma das suas próximas vítimas.<_o3a_p>

O facto de a inflação estar já há seis meses em terreno negativo e de, em vez de estar a dar sinais de retoma, ter-se ainda acentuado a sua queda, aumenta os riscos de que a actual situação de desinflação se prolongue de tal forma que se transforme mesmo em deflação. <_o3a_p>

Em 2009, Portugal conseguiu ultrapassar uma situação em que a inflação entrou em terreno negativo (até foi mais longe chegando aos -1,7% no mês de Setembro), regressando a valores positivos ao fim de dez meses consecutivos de valores negativos. Nessa altura, a inflação negativa não foi mais do que uma situação temporária decorrente da quebra abrupta da actividade económica em todo o mundo registada no auge da crise financeira internacional.<_o3a_p>

O problema é que agora há várias razões para estar mais pessimista em relação às possibilidades de Portugal escapar à deflação. O primeiro é que a inflação subjacente – aquela que retira da análise os bens com variações mais bruscas de preços como os alimentares e energéticos – está agora a registar uma descida mais próxima da taxa de inflação total. Neste momento está em -0,4%, um valor muito próximo do máximo atingido em 2009, numa altura em que a descida de preços se deveu em larga medida à evolução dos mercados internacionais de energia e alimentos.<_o3a_p>

Depois, ao contrário do que aconteceu em 2009, a actual descida da taxa de inflação está a ser feita de forma progressiva e consistente, o mesmo acontecendo às expectativas dos consumidores e dos empresários em relação à evolução dos preços no futuro, não havendo sinais de uma inversão rápida dos efeitos.<_o3a_p>

Por último, não se antecipa desta vez, ao contrário do que aconteceu em 2009, qualquer política orçamental de apoio à actividade económica que faça subir os preços. E a acção do banco central pode estar ainda mais limitada, com as taxas de juro já coladas a zero e os responsáveis do BCE hesitantes em avançar rapidamente para medidas não convencionais mais ambiciosas. Tal como acontece com a generalidade da zona euro, os meses que faltam até ao final do ano podem ser decisivos para perceber se Portugal está ou não a perder a batalha contra a deflação.<_o3a_p>
 

   





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