Portugal está a perder empresas de elevado crescimento há quatro anos consecutivos

Têm pelo menos dez trabalhadores e crescem, em média 20% ao ano. As sociedades com mais potencial só representam 2,5% do tecido empresarial.

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Indústrias transformadoras, como a têxtil, concentram elevado número de empresas com potencial de grande crescimento Enric Vives Rubio

O número de sociedades de elevado crescimento (SEC) caiu consecutivamente entre 2009 e 2012, quer em volume de negócios, quer em trabalhadores, reflectindo o abrandamento da economia.

Esta classificação é usada para identificar empresas com, pelo menos, dez funcionários, que crescem em média 20% ao ano, ao longo de um período de três anos. Como critério para identificar estas sociedades, o Instituto Nacional de Estatística (INE) usa o crescimento médio anual do número de pessoas remuneradas ao serviço (opção mais consensual a nível europeu). Contudo, a análise também pode ser feita pelo volume de negócios.

Num estudo divulgado nesta segunda-feira, o INE mostra que o número de SEC caiu de 1692 em 2009 para 1030 em 2012. E se antes representavam 3,6% do total do tecido empresarial, em 2012, o peso caiu para uns escassos 2,5%. Há dois anos, as SEC empregavam 105.933 trabalhadores, menos 97.341 pessoas do que no início da crise financeira. Contudo, o seu contributo para o emprego não é de desvalorizar: 5,5% dos trabalhadores portugueses têm emprego nas SEC. Quanto ao seu volume de negócios, caiu 51% no período em análise, de mais de 20 mil milhões de euros para 9900 milhões.

A maioria (54,4%) opera nos sectores das indústrias transformadoras, construção e comércio. E, dentro da indústria, destaca-se a produção de vestuário, produtos metálicos, couro e a área alimentar, que concentravam em 2012 mais de metade (52,9%) das SEC.

Independentemente do critério utilizado para as classificar, as empresas de elevado crescimento reduziram “o seu contributo para os principais indicadores económicos entre 2009 e 2012, contrariamente à tendência verificada no total das sociedades com dez ou mais pessoas ao serviço”, sublinha o INE.

Francisco Veloso, director da Católica Lisbon, que acompanha, há muito, a evolução destas organizações, garante que, com a crise económica e financeira a apertar a concessão de crédito, não é de estranhar que as SEC tenham diminuído.

“Olhando para a estrutura do financiamento, percebe-se que os capitais próprios são muito mais baixos do que no total das sociedades. [As SEC] estão a crescer depressa e precisam de mais de financiamento do que as outras. Num ambiente em que se fecha a torneira, com sucedeu, a sua dinâmica morre”, explica. Apesar de hoje existirem menos empresas com elevado potencial, certo é que o estudo do INE não refere que “foram à falência”. Diz, sim, que deixaram de ser classificadas como “elevado crescimento”, sustenta.

Entre estas organizações, destacam-se as chamadas empresas gazela, aquelas que depois de anos de desenvolvimento e investigação crescem de forma explosiva e, geralmente, no mercado global. Também têm, pelo menos, dez trabalhadores, mas ao contrário das SEC foram criadas há menos de cinco anos. Em Portugal há apenas 201 (eram 272 em 2009): empregam 14.142 pessoas, o equivalente a 0,7% do pessoal ao serviço no total das sociedades.

Entre 1992 e 2007, o Ministério da Economia tinha identificado uma média de 320 empresas gazela por ano, cada uma com 90 trabalhadores. Nesse período, no universo das organizações com mais de dez trabalhadores, a taxa de gazelas caiu de pouco mais de 1,1% em 1992 para abaixo dos 0,7% em 2007. Desde então, o cenário agravou-se. No caso do emprego, em vez dos 90 trabalhadores registados neste período, as gazela empregam agora uma média de 70 pessoas.

Mais exportadoras e empregadoras
Apesar da tendência de queda, os dados do INE permitem concluir que estas são as empresas que mais exportam e empregam, em comparação com a média global. Em 2012, as SEC empregavam em média 103 trabalhadores, “bem acima dos 47 do total das sociedades com dez ou mais pessoas ao serviço remuneradas”, lê-se na publicação do instituto. Fica por saber qual é o seu contributo para a criação de novos postos de trabalho. “Em alguns países estas empresas são responsáveis por até 50% do novo emprego criado”, avança Francisco Veloso.

Mais de 30% das empresas de elevado crescimento e das gazelas exportaram bens ou serviços em 2012 enquanto a média global é de uns escassos 5,5%. Estas são também as empresas que mais investem em investigação e desenvolvimento (I&D): em 2012 o gasto médio foi de 25 mil euros por sociedade, quando no global do tecido empresarial as despesas com I&D não chegaram aos 2500 euros. “Os números mostram como estas organizações, face às restantes, têm um nível de conhecimento intensivo e I&D muito interessante”, sublinha Francisco Veloso.

Em comparação com outros países da Europa onde há dados disponíveis, Portugal não está mal posicionado. Entre dez geografias, é o terceiro com maior proporção de SEC e gazelas no total das empresas com dez ou mais trabalhadores remunerados ao serviço, atrás da República Checa e da Hungria. Nos Estados Unidos o peso das SEC ronda entre os 4 e os 6%.

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