Portugal desce dois lugares no ranking mundial da competitividade

República Checa e Lituânia ultrapassam Portugal, que fica no 38.º lugar entre 140 países. Impostos são a principal preocupação dos empresários em relação aos negócios.

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As regras do mercado de trabalho são uma das preocupações dos empresários inquiridos em Portugal Nelson Garrido

Depois de escalar 15 degraus no índice global do Fórum Económico Mundial que mede a competitividade entre as economias, Portugal desceu este ano duas posições no ranking, passando do 36.º para o 38.º lugar entre 140 países. Portugal foi ultrapassado pela República Checa e pela Lituânia, continuando ainda longe da avaliação de 2002, em que ocupava a 23.ª posição.

O país registou um longo período de deterioração desde 2006, tendência que interrompeu em 2011 e em 2014. Como nesse último ano subiu 15 posições e em 2015 desceu dois lugares, esta “queda ligeira” deve ser lida como “um pequeno acerto técnico”, considera Ilídio Serôdio, presidente da Associação para o Desenvolvimento da Engenharia (Proforum), organização que com a Fórum de Administradores de Empresas (FAE) realiza o inquérito de opinião aos 190 empresários portugueses ouvidos para as conclusões do Fórum Económico Mundial.

O relatório, divulgado nesta quarta-feira a nível internacional, volta a colocar a Suíça pelo sétimo ano consecutivo no topo da lista da competitividade global. Numa escala de um a sete, a pontuação portuguesa é de 4,52 – um valor igual ao da Indonésia e do Bahrein e que equivale a 79% da pontuação da Suíça.

Como a segunda economia mais bem colocada surge mais uma vez Singapura, seguindo-se os Estados Unidos (ambos mantêm as suas posições), a Alemanha e a Holanda (cada uma sobe um lugar no ranking). Na lista dos dez países mais competitivos estão ainda o Japão, Hong Kong, a Finlândia, a Suécia e o Reino Unido.

Porque Portugal teve uma subida expressiva em 2014 e agora uma descida de menor impacto, a Proforum e a FAE interpretam os números agora divulgados fazendo uma análise a dois anos. “Tendo em conta a evolução de 2013 para 2015, Portugal registou realmente uma subida de 13 posições no ranking mundial, resultado de uma série de indicadores terem subido substancialmente na eficiência do mercado de bens (mais 40 posições), no mercado do trabalho (mais 60 posições), no impacto das regras do IDE (mais 71 posições) e na política de custos agrícolas (mais 62 posições)”. “A competitividade é uma característica dinâmica. Na verdade, temos de olhar para estes números tendo em conta os últimos dois anos – porque em 2014 tínhamos subido 15 lugares”, vinca ao PÚBLICO Ilídio Serôdio.

Apesar da descida deste ano, há “uma consolidação dos sinais positivos resultantes do programa de reformas estruturais adoptado nos últimos anos, mais evidentes em áreas relacionadas com o funcionamento do mercado de bens”, consideram as duas organizações numa análise aos resultados. Portugal está entre os países europeus (com França, Irlanda, Itália e Espanha) onde o Fórum Económico Mundial considera ter havido uma melhoria significativa nas áreas de concorrência de mercado e de “eficiência” no mercado de trabalho.

“Na França, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha, observa-se uma melhoria significativa nas áreas de concorrência no mercado e de eficiência do mercado de trabalho, graças às reformas que foram implementadas nesses países. Por outro lado, Chipre e a Grécia não conseguiram melhorar nestes pilares. Na Europa, Espanha, Itália, Portugal e França têm feito progressos significativos no reforço da competitividade”.

De acordo com o Fórum Económico Mundial, o país continua bem colocado em indicadores como o número de dias para a criação de negócios (o 4.º lugar a nível mundial, quando em 2006 estava no 89.º), regista uma avaliação positiva naquilo a que a organização refere como a flexibilização do mercado laboral (114.º), nas infra-estruturas (15.º) e na formação profissional superior (28.º).

A Portugal, o Fórum Económico Mundial aconselha a não abrandar as reformas para ultrapassar dificuldades económicas (para reduzir o défice e baixar a dívida pública) e propõe “intervenções no fortalecimento do acesso ao crédito (107.º lugar), bem como no incremento da qualidade da educação (40.º) e da capacidade de inovação (35.º)”, referem a Proforum e a FAE.

À Lusa, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços, João Vieira Lopes, considerou que “em termos de competitividade, estas oscilações de um ou dois pontos percentuais não têm grande significado”, sublinhando que há “uma questão fulcral em termos da economia portuguesa, que é o investimento e a dificuldade de financiamento da economia”.

As preocupações dos empresários
Para os 190 empresários portugueses inquiridos, os impostos são a primeira preocupação, o factor mais problemático para os negócios. Apesar da descida do IRC pelo segundo ano consecutivo, os impostos foram o problema mais referido, seguindo-se a ineficiente burocracia pública (que era a primeira preocupação em 2014), as condições de acesso ao financiamento (que foi referida menos vezes) e a regulamentação restritiva do mercado de trabalho (que aumentou na lista de preocupações).

Em ano de eleições, a preocupação com a instabilidade política diminuiu, caindo “40% em 2015 relativamente a 2014, sendo agora a sexta preocupação”, atrás da complexidade dos regulamentos fiscais.

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