Portugal consegue mil milhões em dívida com juros historicamente baixos

Tesouro paga juro de 0,216% por 800 milhões de euros de dívida com prazo de um ano e 0,097% por 200 milhões em títulos que vencem ao fim de três meses.

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No mercado secundário, os juros da dívida portuguesa com prazos de dois, cinco e dez anos estão em queda nesta quarta-feira Patrícia de Melo Moreira/AFP

O Tesouro português voltou ao mercado nesta quarta-feira para emitir mil milhões de euros em títulos de dívida pública, conseguindo obter este montante suportando a taxa mais baixa desde 2003.

Dos mil milhões de euros colocados pelo IGCP (a agência responsável pela tesouraria e pela gestão da dívida pública), a maior fatia, de 800 milhões de euros, foi emitida em Bilhetes do Tesouro com um prazo de vencimento de um ano. Por este montante, a taxa de juro praticada foi de 0,216%, menos de metade do custo suportado há cerca de um mês numa emissão imediatamente comparável (0,453% na emissão de 850 milhões de euros em títulos com um prazo idêntico).

Foi a taxa mais baixa desde que foi criada esta linha de Bilhetes do Tesouro, em 2003, segundo a informação prestada ao PÚBLICO pela corretora XTB Portugal.

Perante a incerteza que se intensificou com a situação de crise no Banco Espírito Santo (BES), que acabaria por ditar a intervenção do Banco de Portuga, a emissão anterior foi marcada por uma subida das taxas de juro, o que agora não aconteceu.

Para Steven Santos, gestor da XTB Portugal, os resultados do leilão mostram “que a estratégia de financiamento do IGCP não foi afectada pela turbulência em torno do GES [Grupo Espírito Santo]” e que os investidores internacionais “souberam separar a dívida soberana da crise no GES, que tanto afectou os mercados accionistas, e disputaram os títulos nacionais”.

Na operação de mercado desta quarta-feira foram ainda emitidos 200 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro com um prazo mais curto, de três meses. Nesta linha de títulos de dívida, a taxa de juro registada é de 0,097%, também abaixo da emissão anterior com um prazo comparável, realizada em meados de Junho (0,18% na emissão de 500 milhões de euros de dívida a três meses).

O IGCP tinha definido, no seu programa de financiamento, um montante indicativo para esta operação entre mil milhões de euros e 1250 milhões, mas quando veio confirmar a realização do leilão acabou por baixar o intervalo para 750 milhões a mil milhões. Este é tradicionalmente um período de menor liquidez nos mercados. Mas, mesmo assim, “a procura não se ressentiu, com a linha a três meses a registar até uma procura superior à da emissão anterior”, sublinha Steven Santos numa nota enviada às redacções.

A maior tranche do leilão, a de 800 milhões de euros, vem “facilitar a gestão de tesouraria do IGCP” numa altura em que as necessidades de financiamento do Estado deste ano estão asseguradas e a agência liderada por Cristina Casalinho está já a preencher o financiamento de 2015, o primeiro ano completo em que o Estado já não recebe empréstimos da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.

O financiamento de 2015 começou a ser preparado ainda ao tempo de João Moreira Rato como presidente do IGCP, mantendo-se a estratégia depois da saída do gestor para a administração do ex-BES/Novo Banco.

À boleia da descida dos juros, Portugal já realizou este ano emissões de dívida de longo prazo, com o objectivo de cobrir já as necessidades de financiamento do próximo ano. No início de Julho, o Tesouro avançou para uma emissão de dívida em dólares com um prazo de dez anos, obtendo 4500 milhões (cerca de 3375 milhões de euros) a uma taxa de 5,2% (um juro em euros de 3,65%, segundo o IGCP).

A descida das taxas de juro a que se assiste nos mercados – e que hoje volta a fazer-se sentir no mercado secundário nos juros implícitos às transacções ou intenções de transacções de dívida portuguesa com prazos de dois, cinco e dez anos – acompanha trajectória continuada de descompressão do risco associado às dívidas dos países da periferia da zona euro.

Espanha, aliás, foi ao mercado na terça-feira, para emitir dívida com prazos de seis e de 12 meses, conseguindo obter 4540 milhões de euros a taxas de juros em valores mínimos.

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