Emprego regista maior queda desde Janeiro de 2013

Dados provisórios do INE apontam para a perda de 34 mil empregos entre Julho e Agosto. Recuo mensal de 0,76% é o maior desde Janeiro de 2013 e interrompe o ciclo de crescimento iniciado no início do ano.

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Os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE) dão sinais de que em Agosto as condições do mercado de trabalho em Portugal pioraram. Entre Julho e Agosto, a população empregada perdeu 34 mil pessoas, o primeiro recuo mensal registado neste indicador desde o início do ano e o maior desde Janeiro de 2013. A taxa de desemprego teve um ligeiro aumento.

Depois dos sinais positivos verificados nos meses anteriores, o emprego reduziu-se 0,76% e há agora pouco mais de 4,462 milhões de pessoas a trabalhar em território nacional. É preciso recuar a Janeiro de 2013 para encontrar uma queda mensal maior (de 0,83%) do que a verificada agora.

“Este decréscimo da população empregada”, nota o INE, “foi observado em todos os grupos analisados: adultos (menos 0,8% ou 33,1 mil), mulheres (menos 1,0% ou 22,3 mil), homens (menos 0,5% ou 12,1 mil) e jovens dos 15 aos 24 anos (menos 0,5% ou 1,1 mil)”.

Os números em causa já estão corrigidos dos efeitos das actividades sazonais, como o turismo, que nesta altura do ano, costuma inflacionar os números da população empregada.

Na comparação homóloga , os dados de Agosto são mais positivos mas há também sinais de algum abrandamento. Embora haja mais cinco mil pessoas empregadas do que no ano passado, a taxa de crescimento da população empregada de 0,1% é a mais pequena desde que em Novembro de 2013 se iniciou a recuperação de postos de trabalho.

A queda da população empregada é um dos factores que ajuda a explicar o ligeiro aumento mensal da taxa de desemprego provisória, para 12,4% da população activa. Trata-se de um acréscimo de 0,1 pontos percentuais face ao valor definitivo apurado para o mês de Julho, mas uma descida de 1,2 pontos percentuais em relação ao ano passado.

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Em Agosto, havia 633 mil pessoas desempregadas, mais 4,8 mil pessoas do que no mês anterior e menos 67 mil em relação ao período homólogo.

A taxa de desemprego entre os jovens também aumentou, para 31,8%, tendo registado um acréscimo mensal de 0,6 pontos percentuais e um recuo anual de 1,4 pontos.

Os números agora divulgados são provisórios, uma vez que são apurados com base em trimestres móveis, compostos por dois meses para os quais a recolha da informação do inquérito ao emprego já foi concluída e um mês para o qual o INE faz uma projecção. Por essa razão, só em Outubro serão conhecidas as estatísticas definitivas de Agosto e só aí será possível confirmar se há mesmo uma inversão da tendência de recuperação verificada de Fevereiro em diante.

O destaque do INE também não dá indicações sobre a evolução da população activa e inactiva, pelo que não é possível explicar totalmente o que está por detrás da queda mensal da população empregada e da subida do desemprego. É que, embora a população empregada recue 34 mil, a população desempregada teve um aumento de apenas cerca de 5 mil pessoas.

Os dados dizem respeito à população dos 15 aos 74 anos e foram previamente ajustados de sazonalidade (uma metodologia diferente da seguida pelo INE quando apura os dados trimestrais). Se não tivermos em conta os efeitos das actividades sazonais, a taxa de desemprego ficou em 12,2% da população activa, 0,4 pontos acima do valor definitivo de Julho, e a população empregada era de 4,482 milhões, tendo recuado 41,3 mil pessoas face ao mês anterior.

O INE divulgou também nesta terça-feira as estatísticas definitivas do mês de Julho, revendo em alta a sua estimativa inicial. O desemprego afinal ficou em 12,3%, acima dos 12,1% previstos nas estimativas iniciais, tendo estabilizado em relação ao mês de Junho. A estimativa da população empregada também foi corrigida, mas em baixa.

Divulgados a cinco dias das eleições legislativas, cada partido tirou dos dados do INE as ilações que melhor suportam o seu discurso de campanha.  O PS  manifestou-se perplexo com a redução do emprego e com o aumento da taxa de desemprego. “O desemprego, em pleno Verão e quando o turismo deveria impulsionar a criação de postos de trabalho sazonais, está a subir”, disse Eduardo Cabrita, socialista e candidato a deputado pelo círculo de Setúbal.

Do lado da coligação, coube ao vice-primeiro-ministro e líder do CDS-PP, comentar os dados do desemprego. Paulo Portas destacou a descida do desemprego em comparação com o ano passado e, embora reconheça que o resultado “é menos bom” quando comparado com o mês anterior, lembrou que subida do desemprego sucede com “alguma frequência” em Agosto.

"O número é francamente bom comparado com o ano passado, não é tão bom quando comparado com o mês passado. Comparando com Agosto de 2014 há menos 67 mil portugueses no desemprego, menos 1,1%. Relativamente ao mês [passado] é mais 0,1%, o que, com alguma frequência sucede em Agosto", afirmou Paulo Portas aos jornalistas, à margem de visita da coligação PSD/CDS-PP a um parque tecnológico, em Cantanhede.

Questionado sobre se a sazonalidade não deveria melhorar os números, o líder do CDS aconselhou a consulta das séries longas do INE. Mas se olharmos para o histórico dos últimos 16 anos e para a evolução da população desempregada em cadeia, conclui-se que, em sete anos, a população desempregada aumentou entre Julho e Agosto, em oito recuou e num deles estabilizou.

Mais do que a décima que a taxa de desemprego subiu, Jerónimo de Sousa, líder do PCP, condena a “manipulação estatística” que - acusa - o Governo continua a fazer, ao considerar como emprego estágios e cursos de formação. No final de uma arruada junto à estação da Parede (Cascais), o secretário-geral do PCP acusou o Governo de usar “esquemas”.

Para a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, os números são a “marca da austeridade” e do “falhanço de uma governação”. "Austeridade significa destruição do emprego, significa destruição da economia. O que estes números mostram é precisamente isso. Temos cada vez menos emprego. Este Governo vai sair de funções, deixando o país com um PIB mais pequeno, uma dívida maior, um défice igual e com menos emprego ainda do que aquele que já tínhamos. É a marca do falhanço de uma governação”, considerou, acusando o actual executivo de ser “o Governo recordista da destruição de emprego” no país. com Maria Lopes, Maria João Lopes, Sofia Rodrigues e Nuno Sá Lourenço

 

 

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