Sobrinho do Presidente de Angola e Novo Banco alvo de buscas da PJ

General Bento dos Santos é suspeito de branqueamento de capitais, mas o ex-BES, através do qual circulou o dinheiro, não estará em causa.

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General Bento dos Santos DR

Inspectores da Polícia Judiciária e procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) estiveram na manhã desta quarta-feira a realizar buscas em dependências do Novo Banco (ex-BES) e residências em diversos pontos do país. As diligências terão começado manhã cedo.

Fonte da Polícia Judiciária adiantou ao PÚBLICO que em causa estão crimes de branqueamento de capitais cujas suspeitas recaem sobre o general Bento dos Santos "Kangamba", sobrinho por afinidade do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.

No esquema de branqueamento, o general usaria aquele banco, mas não existem suspeitas para já de que o BES (agora Novo Banco) tivesse conhecimento da proveniência ilícita dos montantes, cujos valores não são para já conhecidos.

As buscas domiciliárias decorreram em habitações que são propriedade do general e dos seus familiares que residem em Portugal. 

O porta-voz oficial do Novo Banco, contudo, garantiu que o banco não foi alvo de buscas policiais na sede ou nas suas agências.

A Procuradoria-Geral da República já esclareceu, entretanto, que as buscas decorrem no âmbito de investigações do DCIAP que não estão relacionadas com o "universo Espírito Santo", isto é, não está em causa qualquer irregularidade na actividade do banco neste caso. 

Bento dos Santos é casado com uma filha de Avelino dos Santos, irmão de José Eduardo dos Santos. É também dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido que está no poder naquele país africano. É tido também como próximo do general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”.

O nome de Bento dos Santos aparece referenciado em várias investigações da polícia e casos judicias. Em Outubro do ano passado, a polícia brasileira desmantelou uma rede de tráfico de mulheres para a prostituição em África do Sul, Portugal, Angola e Áustria. Os investigadores brasileiros imputavam então a liderança da rede ao general angolano, segundo o jornal Expresso.

Um porta-voz de "Kangamba", citado pela agência Angola Press, desmentiu, porém, o alegado envolvimento. “Facilmente se depreende, pelo teor das notícias, que a intenção de citar o seu nome visa atingir e caluniar outras personalidades do Estado angolano”, considerou.

Bento dos Santos, que era na altura procurado no Brasil, é presidente do Kabuscorp Futebol Clube do Palanca e, segundo noticiou o Expresso e o jornal Estado de São Paulo, é também um dos principais patrocinadores do Vitória de Guimarães. Foi dado como interessado em entrar no capital do Belenenses, no sentido de comprar 9%, mas o negócio não chegou a concretizar-se. Em Angola investe em áreas como a construção e imobiliário. 

De acordo com a polícia brasileira, os membros da rede, alegadamente liderada pelo general angolano, aliciavam mulheres em casas nocturnas do bairro de Indianópolis, a sul de São Paulo, com elevadas quantias de dinheiro (dos 7200 a 72 mil euros). Uma vez no estrangeiro, eram mantidas sob sequestro e obrigadas a manter relações sexuais sem preservativo. A essas mulheres era dado um alegado cocktail de drogas anti-sida.

Foi precisamente através do futebol que, acreditam os polícias brasileiros, a organização terá movimentado e branqueado cerca de 33 milhões de euros angariados com o tráfico de mulheres desde 2007.

O jornal Estado de São Paulo, que então avançou com informações sobre a acção policial denominada “Operação Garina”, escrevia que "o general é dirigente do MPLA, o mesmo partido do Presidente, e tem influência no Governo por meio de sua mulher, uma filha de Avelino dos Santos, irmão do Presidente".

Também em Junho de 2013, o general surgiu nas páginas dos jornais internacionais, sendo notícia em França por alegado envolvimento numa investigação em curso sobe a posse de elevadas quantias de dinheiro não declarado. Nesse mesmo mês foi também noticiado que comprou uma casa no mesmo condomínio privado do futebolista português Cristiano Ronaldo, em Madrid.

Além deste caso, o nome de Bento dos Santos "Kangamba" está também envolvido noutro processo em França.

A 14 de Junho, a polícia alfandegária francesa apreendeu perto de três milhões de euros encontrados no porta-bagagens de dois Mercedes de matrícula portuguesa, e deteve cinco indivíduos, de nacionalidade portuguesa, angolana e cabo-verdiana, acusados de branqueamento de capitais e crime organizado, segundo o jornal La Provence.

Os automóveis saíram de Portugal com destino ao Mónaco, tendo sido apreendidos em duas operações distintas. Quatro indivíduos apresentaram-se na esquadra de Montpellier para libertar os ocupantes detidos da segunda viatura e recuperar o dinheiro, tendo sido também detidos.

Um deles era portador de 60 mil euros e de um cartão bancário em nome do general Bento dos Santos "Kangamba" e outro reclamou 100 mil euros do montante apreendido, que se destinaria a gastos de jogo num casino no Mónaco.
 

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