Pilotos da TAP convocam greve de 24 horas para 9 de Agosto

Paralisação agrava situação da companhia, que cancelou dezenas de voos desde Julho devido à falta de aviões. Para este sábado estão previstas mais 13 supressões.

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Pilotos estiveram reunidos nesta sexta-feira em assembleia geral Rui Gaudêncio

Os pilotos da TAP decidiram nesta sexta-feira avançar para uma greve de 24 horas no dia 9 de Agosto. A decisão foi tomada em assembleia geral pela grande maioria dos presentes, depois de o conflito entre os trabalhadores e a administração se ter intensificado nas últimas semanas.

A moção que dita a paralisação foi aprovada por 168 dos associados, com 11 abstenções e 14 votos contra. Uma greve dos pilotos tem, regra geral, impactos fortes na operação da companhia, que já está a sofrer perturbações pelo atraso na entrega de seis novos aviões. 

A acção de protesto surge na sequência de um mal-estar interno que se foi aprofundando nos últimos tempos entre a administração da TAP, liderada por Fernando Pinto, e os pilotos. Na quinta-feira, o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) afirmou ao PÚBLICO que os trabalhadores exigem "uma inversão total e uma responsabilização da gestão da empresa”. Jaime Prieto acusou também o accionista Estado de “assobiar para o lado”.

Nem mesmo as novas regalias que a companhia anunciou, numa circular enviada na quinta-feira aos trabalhadores, para os incentivar a fazer um esforço adicional para minimizar as perturbações que a operação tem registado evitou o desfecho da assembleia geral dos pilotos.

Desses incentivos, concedidos a todas as categorias profissionais, fazem parte majorações no pagamento do trabalho extraordinário e em dias de descanso, bem como compensações financeiras por descanso não gozado. São medidas descritas como "excepcionais e transitórias" pela administração da TAP, que vigoram entre 1 de Junho e 31 de Dezembro deste ano (ou seja, com efeitos retroactivos).

Conflito antigo
O conflito com os pilotos vem de longe. Os trabalhadores entendem que nunca foram devidamente recompensados pelo esforço que têm feito e questionam algumas decisões da gestão, como a compra da unidade de manutenção do Brasil, deficitária desde que o negócio foi firmado, em 2005.

"A relação tem vindo a deteriorar-se. A administração foi recebida de braços abertos [quando chegou, em 2000], mas os trabalhadores nunca foram compensados", referiu o presidente do SPAC, acrescentando que o clima laboral na transportadora aérea "atingiu o limite".

A decisão tomada nesta sexta-feira pelos pilotos vai intensificar os constrangimentos que a TAP tem vindo a registar na operação desde o início de Julho. Só entre quarta e esta sexta-feira, foram cancelados 35 voos. Neste sábado, estão previstas mais 13 supressões.

À espera de três aviões
Estas perturbações, que têm sido recorrentes todos os anos na altura do Verão pelo aumento da procura, agravaram-se fruto do atraso na entrega de seis novos aviões que a companhia encomendou e que deveriam ter chegado em Julho. Apenas três já estão na TAP, esperando-se que os últimos cheguem durante a primeira quinzena de Agosto. Mas houve outros factores que contribuíram para a actual situação, como o atraso na formação de pilotos e tripulantes.

O Governo exigiu um plano de emergência à companhia, que se fez valer do fretamento de aviões e tripulações de outras transportadoras para minimizar os constrangimentos, embora sem possibilidade de os resolver por completo. O executivo tem sido, aliás, publicamente crítico do que se está a passar na TAP.

Ainda na quinta-feira, o ministro da Economia veio afirmar, a partir de Luanda, que esta situação prejudicava a credibilidade do país. 

"Nós temos a obrigação, enquanto Ministério da Economia, de pedir à administração da TAP que recupere operacionalmente a normalidade das operações num tempo curto. E essas expectativas foram criadas pela própria administração, para as próximas semanas e durante o mês de Agosto", sublinhou Pires de Lima, citado pela agência Lusa.

Aos custos em que a TAP tem incorrido com os problemas na operação, por via do fretamento de aviões e da obrigatória assistência aos passageiros, vai agora somar-se a perda de receitas com a greve que os pilotos agendaram. Tendo em conta a facturação anual da empresa, um dia de paralisação significa, em média, menos cinco milhões de euros.

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