Pescanova rejeita ter encoberto perdas com morte de peixes em viveiro de Mira

Multinacional garante que a actividade em Portugal não está em risco. Trabalhadores da unidade de Praia da Mira colocados em regime de lay-off vão ser reintegrados por fases.

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A Pescanova, em processo de insolvência, tem uma unidade de aquacultura em Praia de Mira Adriano Miranda

A Pescanova nega ter ocultado a morte de peixes cultivados na unidade de aquicultura em Praia de Mira, distrito de Coimbra, junto às dunas, por causa de um problema no sistema de captação de água do mar.

Depois de o diário El País avançar que a empresa encobriu um prejuízo de 70 milhões de euros em Portugal nos dois últimos anos, o grupo pesqueiro espanhol garante que as contas da filial portuguesa Acuinova “já foram encerradas, auditadas e entregues às autoridades competentes”. Para esta segunda-feira é esperada a apresentação dos resultados do grupo relativos ao ano passado.

Em reacção à notícia do diário espanhol, a Pescanova garante, em comunicado, que a actividade do grupo em Portugal “decorre com absoluta normalidade” e assegura que as ocorrências referidas em relação ao viveiro de pregados em Praia de Mira “nunca foram ocultadas e são explicadas nos relatórios e contas de 2011 e 2012 da Acuinova”.

A multinacional está em processo de renegociação da dívida, tendo já reconhecido irregularidades nas contas do grupo ao assumir que o montante da dívida contabilizada pela empresa (ainda não revelada) não coincide com o valor reclamado pelos credores.

A Pescanova não refere o valor de alegadas perdas que o El País diz terem sido encobertas na actividade em Portugal. E  remete informações sobre a contabilidade da filial para os resultados globais do grupo, que terão de ser apresentados nesta segunda-feira ao regulador do mercado espanhol de capitais.

A empresa confirma apenas que, na unidade de Praia de Mira, inaugurado em 2009, “um defeito de construção do sistema hidráulico de captação de água do mar” provocou “problemas no normal abastecimento de água do mar a uma parte da instalação e teve como consequência a morte de parte dos peixes”.

Questionado pelo PÚBLICO sobre o prejuízo da filial portuguesa com os defeitos da obra e dos danos que daí resultam, o director-geral da empresa em Portugal, Carlos Henriques, não detalhou os valores em causa, justificando por escrito que a empresa não pode, neste momento, “fornecer muitos pormenores” pelo facto de os incidentes ocorridos estarem “englobados em processos judiciais” e sujeito a segredo de justiça.

Já no comunicado, a empresa adianta que a Acuinova “interpôs processos judiciais contra aqueles que considera responsáveis pelos defeitos da obra” e assegura que “a reparação do referido sistema hidráulico já foi iniciada”.

Dos 174 trabalhadores da unidade portuguesa, a empresa colocou 84 em regime de lay-off, para reajustar a produção, mas espera este ano retomar “o normal funcionamento” e reintegrar por etapas estes trabalhadores “em função do ritmo biológico dos próprios peixes”.

Na unidade de Praia de Mira – apresentada pelo grupo como a maior unidade de cultivo de pregado do mundo, fruto de um investimento de 140 milhões de euros –, a Acuinova previa ali produzir 7000 toneladas de pregado por ano.

Porém, segundo os relatórios da Pescanova, a quantidade que todo o grupo produziu desde então nunca chegou àquele valor.

Na apresentação de resultados do terceiro trimestre de 2012, a última que revelou em relação ao ano passado, o grupo sublinhava os “bons resultados em todos os seus projectos de aquicultura”, em que se incluía a produção de pregado, que nos nove primeiros meses de 2012 chegou a 4397 toneladas. Em 2011, foram cultivados 3931 pregados e, em 2010, os números da Pescanova apontam para 2830.

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