Perceba as diferenças entre o desemprego mensal e trimestral

INE tem agora duas formas de analisar a evolução do mercado de trabalho em Portugal.

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Gonçalo Santos

Desde Novembro do ano passado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) passou a divulgar todos os meses dados sobre a evolução do mercado de trabalho em Portugal, complementando as estatísticas trimestrais que vinham sendo divulgadas. Porém, há diferenças metodológicas entre os números trimestrais e os mensais, o que leva a que todos os meses o INE faça uma revisão dos dados e a disparidades entre as taxas de desemprego mensais e as trimestrais.

Desde logo, as estimativas mensais consideram o grupo dos 15 aos 74 anos, de acordo com as regras definidas pelo Eurostat (o organismo de estatísticas europeu usa estes dados nas suas publicações mensais); enquanto as trimestrais analisam a população com 15 e mais anos, em linha com os conceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em vigor.

Além disso, os dados mensais encontram-se disponíveis com e sem ajustamento de sazonalidade, ao passo que os trimestrais não têm em conta as oscilações do mercado de trabalho relacionados com os picos de actividade que ocorrem em determinadas alturas do ano (como acontece no Verão, por exemplo, quando a actividade turística está em alta, influenciando o desemprego e o emprego).

Na nota técnica que acompanhava o primeiro boletim mensal, o INE explicava que os dados mensais eram obtidos a partir do Inquérito ao Emprego trimestral, recorrendo a uma metodologia específica. Foram testados vários métodos e o INE optou por usar aquela que estima as taxas de desemprego e de emprego mensais com base em trimestres móveis.

Isto leva a que os dados do emprego e do desemprego divulgados todos os meses sejam provisórios, uma vez que se trata de um trimestre composto por dois meses para os quais a recolha da informação do Inquérito ao Emprego já foi concluída e um mês para o qual o INE fez uma projecção. Os dados definitivos só são publicados no mês seguinte, quando a recolha da informação já foi concluída.

Numa audição parlamentar para explicar as revisões das estatísticas mensais, a presidente do INE, Alda Carvalho, desvalorizou-as, alertando que esse é o preço a pagar por ter informação mais actualizada. Revisões que rondam 0,4 pontos percentuais numa taxa de desemprego de dois dígitos “não pode, ser um drama”, disse na altura.

Para Fevereiro de 2015, por exemplo, o INE começou por avançar uma taxa de desemprego de 14,5% (dados não ajustados de sazonalidade), mas no destaque de Março reviu esta taxa para 14%. A taxa que tem em conta a sazonalidade teve uma revisão semelhante, passando de 14,1% para 13,6%. O problema é que estas revisões tornam difícil identificar uma tendência na evolução do mercado de trabalho todos os meses.

Voltando ao exemplo do mês de Fevereiro, a revisão em baixa da taxa de desemprego obrigou a alterar a leitura dos números na comparação com o mês anterior: os dados provisórios apontavam para um aumento do desemprego face a Janeiro, enquanto os dados definitivos dão agora conta de um recuo.

Neste caso, a revisão dos dados deu lugar a uma boa notícia – o desemprego caiu – mas quando aconteceu o contrário o Governo e a maioria pediram explicações ao instituto.

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