Pequenos investidores do BPI querem subida do preço da OPA

ATM fez diligências junto do regulador para apurar os contornos da linha de crédito de 400 milhões de euros do CaixaBank a Angola, iniciativa seguida da aprovação por parte de Isabel dos Santos da desblindagem do capital do BPI.

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OPA do Caixabank ganhou novo impulso com o fim da blindagem aos direitos de voto AFP / MIGUEL RIOPA

Um grupo de pequenos accionistas, no quadro da Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank sobre o BPI, veio acusar Artur Santos Silva, presidente do conselho de administração, e Fernando Ulrich, à frente da comissão executiva, de não seguirem “as melhores práticas” de governação e de falta de “lealdade” e de “de independência” face aos grandes accionistas: a instituição espanhola, dona de 47%, e Isabel dos Santos, que controla 20% do banco.

“O conselho de administração tem incumprido com o seu dever de lealdade, ao emitir pareceres sobre a oportunidade da OPA ajustados, a cada momento, de acordo com interesses e conveniências diferentes dos” do BPI, defendeu esta quinta-feira Octávio Viana, da ATM-Associação de Investidores e Analistas Técnicos), que representa 4% do capital do banco português. O grupo, que não inclui Tiago Violas (com 2%), alega que o investimento que o CaixaBank  se propõe fazer para ficar com mais de 50% do BPI, é “manifestamente” baixo, dado não reflectir  a passagem do controlo do Banco de Fomento Angola (BFA) para a Unitel, de Isabel dos Santos.

Na sequência, Octávio Viana admite desencadear uma acção popular contra os administradores do BPI, que venderam  à segunda maior accionista 2% do banco angolano BFA por 28 milhões de euros. Em Setembro e em Outubro,  o BPI e a Unitel (que vai ficar com quase 52%) avaliaram o BFA em 1400 milhões.

Do ponto de vista da ATM a operação traduziu-se no pagamento de um prémio à empresária angolana, que não foi partilhado pelos restantes accionistas, designadamente pelos pequenos investidores que representa. Para Viana a contrapartida do CaixaBank, de 1,134 euros por acção, deveria subir para 3,15 euros, o preço que classificam como “justo” e lembra que em 2015, na primeira OPA ao BPI, a gestão do banco defendeu o preço de 2,26 euros (mas aconselhou a não venda).

Para a ATM, se o CaixaBank não rever por sua iniciativa o preço de 1,134 euros, para um montante igual ou acima de 2,26 euros,  as portas a impugnações abrem-se. As soluções radicais vão ser antecipadas de contactos junto da CMVM para que delegue num auditor independente a mediação do diferendo.

Para além das acções judiciais contra a equipa de administração do BPI (executiva e não executiva), a ATM não exclui a possibilidade de avançar com processos judiciais contra o Estado, e providências cautelares de impugnação da OPA. "Serão o último reduto mas avançaremos”, diz esta organização. Isto é, só se a CMVM não responder positivamente ao pedido de nomeação de um auditor independente.

Viana esclareceu ainda que têm sido realizadas diligências junto do regulador, do BPI e do CaixaBank. No caso do grupo espanhol, o objectivo é clarificar os contornos da negociação com o Governo de José Eduardo dos Santos de acesso a uma linha de crédito de 400 milhões de euros. Tal como o PÚBLICO noticiou a 10 de Setembro, a CMVM fez diligências junto do grupo espanhol para definir o perímetro da operação de financiamento a Angola e assegurar que não faz parte da negociação em torno do BPI. Ou seja: que o “financiamento” não é fruto de uma negociação de bastidores para que a Santoro levantasse a blindagem do capital do BPI, como se veio a verificar, para o CaixaBank prosseguir com a  OPA.

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