Para onde olhar nos mercados na manhã do pós-referendo em Itália?

À incerteza política soma-se a incerteza nos mercados. Investidores já "descontaram" algum efeito negativo e ficam atentos às ondas de choque nos bancos.

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Mercados europeus fecharam em baixa na sexta-feira AFP/PATRICIA DE MELO MOREIRA

Agitação, indiferença ou tranquilidade? Quando os mercados abrirem na Europa na manhã desta segunda-feira, já as bolsas asiáticas terão dado um primeiro sinal sobre o que aconteceu na véspera, no referendo constitucional italiano. Um acontecimento de grande incerteza política até ao fim e cujas consequências para a Europa merecem a maior das atenções dos investidores – muito para além das fronteiras europeias.

Bolsas, as acções dos bancos, os juros da dívida pública dos países mais frágeis da zona euro, a variação da moeda única – eis onde os resultados das duas votações poderão ter um impacto mais evidente logo às primeiras horas da manhã.

Num ano em que os investidores reagiram a dois grandes acontecimentos inesperados sem o negativismo com que muitos analistas antecipavam – primeiro com o “Bexit” em Junho, depois com a eleição de Donald Trump em Novembro –, fazer prognósticos sobre o que acontecerá nesta segunda-feira, nos próximos dias e semanas é tudo menos certo. Percorramos, antes, alguns dos indicadores para onde olhar.

Acções dos bancos italianos

O acontecimento que, com maior magnitude, pode trazer maior agitação aos mercados financeiros é o resultado do referendo constitucional em Itália. Tudo por causa da situação frágil da banca italiana e do medo de que uma crise política venha a desestabilizar ainda mais o sistema financeiro.

Num cenário de vitória do “não”, seria de esperar mais nervosismo. Mas, independentemente do resultado, o foco de preocupação está sobretudo em dois bancos que se preparam para avançar com aumentos de capital – o Monte dei Paschi di Siena, o banco mais antigo do mundo e o terceiro maior de Itália, precisa de 5000 milhões de euros; e o Unicredit, o primeiro banco do país, vai revelar o plano de reestruturação a 13 de Dezembro. A evolução das acções destes dois bancos na bolsa italiana será um dos gráficos a ter em atenção. Só na sexta-feira, os títulos do Monte dei Paschi di Siena recuaram 5,1%. 

Bancos nas bolsas europeias

Se a situação particular dos bancos italianos está no centro das atenções, não menos importante será a forma como reagirá, como um todo, o sector financeiro na Europa, primeiro, e depois nos Estados Unidos. No Velho Continente, o sector bancário já liderou as perdas nas principais praças. Na sexta-feira, o índice STOXX Europe 600 Banks encerrou a perder 1,3%. A par da banca italiana, também a situação do sistema financeiro português tem sido referida pelas instituições internacionais pelas suas debilidades. E, mais uma vez, se houver ondas de choque, as acções dos bancos cotados no PSI-20 poderão ressentir-se.

Dívida italiana

Os juros da dívida italiana a dez anos têm vindo a subir com a aproximação do referendo e a diferença a alargar-se em relação à dívida alemã, referência nos mercados, tendo o spread ficado no valor mais alto desde Junho de 2015. Quanto maior a incerteza, maior é a probabilidade de subida dos juros, que nos últimos dias superaram os 2% – um valor mais alto do que as taxas espanholas.

Uma subida nos juros no mercado secundário (revenda de títulos detidos pelos investidores) pressiona o custo de financiamento do Estado e também cria mais agitação que não ajudaria à estabilização do sector bancário. Ainda assim, analistas admitem que, ao assistir-se a uma subida antes do referendo, os investidores já estejam a “descontar” em parte uma possível vitória do "não", como nota uma recente análise de mercado do BPI.

Dívida portuguesa (e de outros periféricos)

O comportamento dos mercados financeiros será também determinante para a trajectória dos juros da dívida dos países mais frágeis da zona euro. Num cenário de maior agitação, os juros da dívida portuguesa ficariam potencialmente mais altos num momento em que as taxas têm subido e estão nos 3,6% (e a agência de notação financeira DBRS, a única considerada pelo BCE e que tem o rating português acima do nível “lixo”, está atenta).

Ouro e euro

Quando a instabilidade aumenta, é comum os investidores fugirem para activos considerados seguros, como é o caso do ouro. Mas com a expectativa de subida das taxas de juro de referência nos Estados Unidos e a subida do dólar a que se tem assistido, a cotação do ouro tem perdido força. A forma como os mercados “acordarem” na manhã desta segunda-feira será também importante para perceber se a fraqueza do euro em relação ao dólar continua.

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