Faria de Oliveira: venda do Novo Banco deve implicar "o menor dos prejuízos"

Recuperar a reputaçao do sector é um dos desafios da associação que reúne os bancos.

Fotogaleria
Fotogaleria
Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos Nuno Ferreira Santos

Depois de oito anos com a imagem do sector a degradar-se continuamente, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) liderada por Faria de Oliveira definiu como desafio a recuperação da sua reputação e credibilidade.

Mas no topo das preocupações da estrutura que representa os interesses corporativos da banca a operar em Portugal estão outras prioridades: assegurar a capacidade de concessão de crédito à economia e o regresso da banca a níveis de rentabilidade que dêem conforto aos actuais accionistas e recuperar novos investidores.

A intenção da APB de promover junto da sociedades portuguesa uma imagem favorável do sistema financeiro nacional surge na sequência dos múltiplos incidentes negativos que, a partir de 2008, ocorreram no sector. Entre Novembro de 2008 e Agosto de 2014 o BPN (2008) foi nacionalizado (com fortes perdas para o erário público), a gestora de fortunas BPP faliu (2008), a Finantia foi ajudada pela CGD, o Banif foi intervencionado (em 2012, com o Estado a deter ainda 60% do capital) e o BES, o segundo maior banco privado, com 145 anos, colapsou ao longo de um ano à vista de todos. Casos que infectaram a confiança na boa governação dos bancos e na idoneidade dos banqueiros para guardarem as poupanças dos cidadãos, e também na capacidade dos três supervisores financeiros (Banco de Portugal, CMVM e ex-ISP/ASF, de garantir a adequada fiscalização das empresas.

Recuperar o bom nome da banca não é sequer a principal preocupação da APB, mas sim a quarta das seis prioridades definidas para o sector por Faria de Oliveira, de uma lista que à cabeça colocou a questão do crescimento económico: os bancos estão preparados para continuar a conceder crédito à economia, já num contexto sem restrições de liquidez (em Dezembro a média do rácio de transformação era de 107,4%, abaixo dos 120% recomendados pelo BdP). Esta sexta-feira, num encontro informal com a comunicação social, Faria de Oliveira salientou que este desafio terá de ser acompanhado por mudanças na organização das empresas de modo a que possam passar no “crivo” da avaliação do risco de crédito (para se poderem recapitalizar). Em Março de 2015, a banca tinha 229,5 mil milhões de euros de crédito concedido (no final de 2014 o risco de crédito em risco era de 12%) e 217,9 mil milhões de depósitos captados junto dos clientes

O segundo objectivo do sector é ser capaz de absorver em condições adequadas o novo quadro de supervisão financeira (com exigências mais estritas), no que se segue um terceiro tópico e, “o mais difícil que enfrenta”, este relacionado com a retoma da rentabilidade, ou seja, do aumento dos proveitos o que depende do volume de crédito que concede. “Não há investimento sem financiamento, e sem financiamento não há retoma da economia”, salientou Faria de Oliveira, para quem a banca “necessita de investimento estrangeiro como de pão para a boca” que só voltará a interessar-se num quadro de rentabilidade das instituições.

No grupo das seis prioridades, a recuperação da boa reputação do sector aparece em quarto lugar e antes do “desafio do futuro próximo”: a revolução digital que exige investimento e impõe a redução de quadros e o fecho de balcões. Por último, surge a intervenção no BES suportada pelo Fundo de Resolução, que pertence à banca que se responsabilizou pelos 4900 milhões de euros injectados no Novo Banco (expurgada dos activos tóxicos do BES) e ainda a sua venda “com o menor dos prejuízos”.

Na reunião desta sexta-feira, a evolução nos últimos dez anos da actividade, onde hoje operam 69 bancos, com 5469 balcões e 53.589 trabalhadores, foi apresentada pela APB de modo detalhado num documento a que designou de “overview do sistema”. E Faria de Oliveira fez o seu balanço: o sistema “é moderno e foi resiliente à crise de financeira de 2008, mas foi vítima da crise da dívida soberana” de 2010 que “infectou” o rating da República, e por arrastamento as notas dadas aos bancos. Isso teve reflexos negativos “no acesso ao financiamento junto dos mercados internacionais” que levou, nos anos seguintes, a uma dependência do apoio do BCE. Situação que se traduziu numa maior exigência por parte das autoridades (BCE e troika) dos níveis de capital do sector (em Junho de 2014 o rácio de capital médio estava em 10,1%).

O presidente da APB (e antigo governante do PSD e ex-presidente da CGD) salientou que a crise económica portuguesa deprimiu ainda mais o quadro bancário, esmagando as margens financeiras, o que ficou expresso nos valores de mercado das instituições cotadas, BCP, BES, BPI e Banif, cujos accionistas perderem parte importante do seu investimento. Em 2007 a capitalização bolsista dos quatro bancos era de 24.097 milhões de euros e caiu para 5600 milhões de euros em 2014. Ou seja, nesse período perderam-se quase 20.000 milhões de euros.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários