Ou a União Europeia muda ou goodbye Reino Unido, diz ministro britânico

Governo britânico coloca pela primeira vez o cenário de saída da União Europeia, à medida que se intensifica a pressão para que sejam reformadas as relações entre o Reino Unido e os parceiros europeus.

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Última vaga de tensões teve início durante as negociações para o orçamento europeu Yves Herman/Reuters

O ministro britânico das Finanças deixou clara a postura do Governo do Reino Unido em relação ao seu futuro na União Europeia (UE): “Para nos mantermos na UE, a UE tem que mudar”, afirmou George Osborne ao jornal alemão Die Welt, numa entrevista publicada nesta sexta-feira.

Estas são as primeiras declarações do executivo liderado por David Cameron que colocam em cima da mesa uma eventual saída britânica do grupo dos 27. É também um ensaio daquilo que será a “grande declaração” que David Cameron vai fazer “em breve” sobre o tema da União Europeia. 

As palavras de George Osborne surgiram quando este foi questionado pelo jornal alemão sobre se achava que o Reino Unido ainda estaria na União Europeia daqui a 10 anos. O ministro ressalvou que esse é o seu desejo, mas alertou para o facto de a população britânica se encontrar “muito decepcionada” com os parceiros e de se sentir “muito longe” das decisões dos líderes europeus. <_o3a_p>

Mas a posição do governante vai mais além do crescente eurocepticismo britânico e dirige-se à recente escalada de tensões entre o Reino Unido e os líderes europeus, que se centra na reivindicação britânica por uma maior independência face ao poder da União Europeia. 

O desconforto britânico
As alterações na comunidade europeia têm levado a um crescente desconforto britânico. Os combates e as reformas políticas na Europa têm-se dirigido sobretudo à crise na zona euro. Por arrasto, contudo, as mudanças legislativas levam a um reforço da integração europeia, algo que não está dentro dos objectivos britânicos.

O Reino Unido opôs-se à entrada em vigor do novo mecanismo europeu de supervisão bancária, aprovado em Dezembro pelos 27 ministros das Finanças da União Europeia como forma de dar mais autoridade ao Banco Central Europeu.

David Cameron já anunciou que o Reino Unido vai manter o sistema de supervisão nacional e que não fará parte de um sistema que visa sobretudo facilitar a integração da zona euro para proteger a moeda única, à qual o Reino Unido não pertence.  <_o3a_p>

Os EUA marcaram na quinta-feira a entrada nesta disputa. Philip Gordon, responsável do Departamento de Estado para os Assuntos Europeus, alertou o Reino Unido para a possibilidade de a “relação especial” entre os dois países perder relevo se os britânicos perdessem também uma voz forte na Europa. <_o3a_p>

As declarações do norte-americano surgiram também poucas horas depois de a Alemanha ter dirigido críticas ao comportamento do Governo britânico. Gunther Krchbaum, político alemão próximo do executivo de Merkel, disse que o Reino Unido “não pode criar um futuro político” se estiver a “chantagear os outros Estados”. <_o3a_p>

Ao jornal alemão, George Osborne não esclareceu, no entanto, se está nos planos do Governo britânico avançar com um referendo que leve os cidadãos a pronunciarem-se sobre os termos da ligação do Reino Unido à União Europeia, uma possibilidade que tem sido avançada nas últimas semanas.

Revisão das relações europeias<_o3a_p>
Desde que chegou ao poder, em 2010, o primeiro-ministro conservador sublinhou por várias vezes a vontade de rever os termos de adesão com a comunidade europeia, mas sempre reiterou que não está nos objectivos do Governo forçar uma saída dos 27.

Mas a pressão crescente de líderes do partido conservador britânico para que David Cameron lute por uma maior independência da União Europeia parece estar a levar o primeiro-ministro a repensar este tema.  <_o3a_p>

O primeiro grande degrau na crescente onda de tensões foi escalado no final de 2011, em Novembro, mês que ficou marcado por duras negociações entre o Reino Unido e os parceiros europeus para a construção de um novo orçamento para os 27 Estados-membros. Neste mês, David Cameron sugeriu ainda um “novo acordo” europeu que incluísse um mecanismo de não-participação nas questões fundamentais.

No final de Dezembro, o ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Delors e o actual presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, sugeriram a saída do Reino Unido da União Europeia, caso se continuasse a opor a uma maior integração. 

Na primeira semana de Janeiro, David Cameron respondeu à pressão e devolveu a bola para os líderes europeus, e afirmou à BBC que seria capaz de utilizar o poder de veto britânico para impedir mudanças na zona euro caso os Estados-membros não aceitem as reivindicações do Reino Unido.

Entre estas reivindicações encontra-se a política de livre circulação de trabalhadores na União Europeia. Na mesma entrevista à BBC, David Cameron disse que era demasiado fácil entrar no Reino Unido, encontrar trabalho e passar a receber benefícios sociais. 

O primeiro-ministro também tem mostrado reservas face à directiva europeia que limita o número de horas de trabalho. “Na minha opinião, esta directiva não deveria ter sido nunca introduzida”, afirmou o líder britânico.  

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