Os palhaços somos nós

Bem sei que é por boas razões, mas irrita-me a protojocosa pseudo-artimanha de se escrever que um bilhete ou um petisco custa cinco palhaços, sardinhas, pombos, bonequinhas ou cravos.

Irrita-me que se pense que se está a enganar as autoridades, não escrevendo "euros". Haverá alguma autoridade, por muito estúpida que seja, que não saiba que aqueles dois matraquilhos por bifana são meros euros? Não.

Pelo contrário: essas iniciativas populares, sempre meritórias, como não podem deixar de ser, dependem da bondade das autoridades fazerem vista grossa quando vêem os cartazes espalhados por toda a parte.

Existem até restaurantes finos disfarçados de clubes que têm ementas em que até uma sopa de mariscos custa seis camarões. Nunca tive coragem, mas algum dia, antes de ser depenado, hei-de levar seis camarões no bolso para pagar a sopa.

Quando a cooperativista chique sorrir e disser que os camarões são eufemísticos, hei-de convidá-la a dizer a palavra capitalista odiada mas correcta: euros. Dinheiro.

Porque é dinheiro que querem. Certamente não querem pagar dinheiro em impostos ou licenças, mas nós, clientes obrigados a pagar em notas verdadeiras, pagamos como se estivéssemos a fazer uma compra legítima. Com uma única diferença: não temos direito a recibo.

Segundo as leis em vigor, eles que legalmente nada cobram porque legalmente nada vendem, estão a cumprir a lei. Nós é que não. Afinal os palhaços, para além de euros dos duros, também somos nós.

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