Oposição quer que Cavaco Silva explique reuniões tidas com Salgado

O ex-presidente do BES escreveu à comissão parlamentar de inquérito para dar detalhes dos encontros tidos com protagonistas políticos.

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No meio da crise global, Ricardo Salgado é apresentado como génio da Finança Enric vives-rubio

O Partido Socialista, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda querem que o Presidente da República explique à comissão de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES) o teor das reuniões tidas com Ricardo Salgado e que foram reveladas esta quinta-feira. Os três partidos exigem, igualmente, que Paulo Portas seja chamado à comissão, precisamente para explicar o que foi discutido no encontro com o antigo líder do BES.

O PSD vai esperar para conhecer os requerimentos da oposição, segundo o deputado Carlos Abreu Amorim, enquanto Cecília Meireles, do CDS-PP, acusa a Oposição de estar a fazer um “número político”.

Numa carta que enviou esta quinta-feira à comissão, Ricardo Salgado afirma que se reuniu duas vezes, no ano passado, com o Presidente da República, tendo alertado Cavaco Silva sobre os "riscos sistémicos" envolvendo o GES e o BES, e detalha outros encontros com Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Carlos Moedas, Durão Barroso e Paulo Portas (cujo nome Salgado não referira quando foi ouvido, no início de Dezembro, na comissão de inquérito).

Na carta que agora enviou, o ex-presidente do BES afirma que a primeira fase de contactos deu-se em Março e Abril e nela foi abordada a "evolução do BES e a necessidade de assegurar que a transição da respectiva governance decorresse de forma estável e controlada", e no segundo rol de encontros, em Maio, deu-se um "pedido de apoio institucional e, ainda, [de] confiança nos planos de recuperação apresentados e na estratégia delineada".

A comissão de inquérito ouviu esta quinta-feira o ex-administrador do Novo Banco, José Honório, que lembrou que o passivo do Grupo Espírito Santo (GES) ascendeu, em Abril de 2014, a 7600 milhões de euros, o "equivalente a 4,5% do produto interno bruto (PIB) de Portugal".

"Nessa altura, o futuro do GES estava já, em minha opinião, e como se veio a verificar, nas mãos dos seus credores e dos decisores políticos", declarou. E acrescentou: "Qualquer eventual solução para a situação precária do grupo que não passasse por o deixar cair desordenadamente precisaria de ser discutida, negociada e contratualizada".

José Honório lembrou que aceitou o convite para ir para o BES com "espírito de missão" e em nome do "interesse nacional", mas a realidade foi "distinta" do imaginado. "Quer o dr. Vítor Bento, quer o senhor governador [do Banco de Portugal, Carlos Costa], colocaram-me o assunto como tratando-se de uma missão patriótica de superior interesse nacional. E a ideia que me foi transmitida foi a de que o BES era um banco sustentável, sobretudo após se ter realizado, com sucesso, um recente aumento do seu capital social no montante de cerca de mil milhões de euros".

"A realidade com que me deparei no banco foi, todavia, completamente distinta daquela que me havia sido relatada e de tudo o que poderia imaginar", assinalou perante os deputados.

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