Óleos alimentares usados iluminaram um empresário para novo negócio

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Os óleos são transformados em velas com várias cores e feitios Rui Gaudêncio / arquivo

Acabou de fritar batatas e quer deitar fora o óleo da fritadeira. Escolha a opção que se adequa: deita fora o óleo pelo ralo do lava-louças, vai à procura de um ponto de reciclagem ou usa para fazer velas perfumadas.

Velas? O que antes não seria sequer uma opção, hoje é possível com a OON Candlemaker, uma máquina para ter em casa que, pegando nos óleos vegetais usados e juntando uma "pastilha" de cor e aroma, faz velas de diferentes tons, cheiros e feitios. O sistema está patenteado a nível internacional e é único no mundo. As vendas arrancaram agora, em Portugal e na Europa.

Mário Silva, um gestor de 35 anos, é o rosto por detrás da ideia de pegar num dos principais desperdícios domésticos - os óleos e os azeites - para fazer velas. Depois de ter trabalhado seis anos na Sonaecom, na área de gestão de produtos e criação de novos negócios, foi para a empresa de comunicação e marketing McCann Erickson, onde se aventurou nas questões ambientais ligadas aos negócios da Sovena, que detém as marcas de azeite Oliveira da Serra e o óleo Fula.

O problema de como reaproveitar os óleos em casa das pessoas tornou-se central para Mário Silva, que deu voltas e voltas à cabeça para descobrir uma solução eficaz. Foi preciso um jantar num restaurante, à luz das velhas lamparinas de azeite, para perceber que não é só a parafina que faz chama.

A primeira reacção foi pensar que já existia uma coisa do género e desatar a fazer pesquisas no Google. Nada à vista. Foi ver se havia registo de patentes. Nada também. A oportunidade de criar o negócio próprio com que sempre sonhara tinha surgido.

Formado em gestão, mas com experiência também na área de informática e design, Mário Silva pediu ajuda a uma amiga da área da química e começou a fazer experiências em casa. O seu primeiro protótipo da OON Candlemaker foi um esqueleto de metal, feito com componentes que o gestor comprou em lojas de brinquedos e pedaços de equipamentos que desmontou lá por casa.

Desde então passaram-se três anos, a OON (de Out of Nature) saiu do papel, abriu uma fábrica em Mira de Aire e um escritório em Lisboa. No total, foram investidos três milhões de euros, que vieram dos bolsos de Mário Silva e dos outros dois sócios da empresa, Luís Leandro e Rui Monteiro (que têm 58 por cento do capital) e de três capitais de risco (a Inov Capital, a AICEP Capital Global e a Ask Capital), que apostaram no projecto e conservam o restante capital.

Agora, já com uma equipa de dez pessoas montada, a OON iniciou as vendas através da Internet e vai estrear-se em algumas lojas de conceito em Portugal (como a Alma Lusa, loja do Museu Berardo e El Corte Inglés) e no estrangeiro, tendo já lojas em Milão e Copenhaga e estando a prestes a fechar negócio também em Amesterdão, Suécia e França.

Entre a Europa e América do Norte, onde espera entrar em 2011, a empresa estima chegar a um mercado alvo de 26 milhões de lares. Este ano, a OON prevê alcançar uma facturação de dois milhões de euros, que inclui a venda das máquinas, das velas e das pastilhas de cor e aroma. No próximo ano, as receitas deverão disparar para os 20 milhões.

Preocupações ecológicas

Desde os tempos da faculdade, Mário Silva ambicionava ter um negócio próprio, mas não um negócio qualquer. Tinha de ser algo ligado à sustentabilidade ambiental e, nomeadamente, ao desperdício que é, para este jovem gestor, "o maior problema ambiental do mundo, pois provoca contaminação". "Há estudos que mostram que um litro de óleo pode poluir até um milhão de litros de água", adianta.

Contudo, arranjar uma maneira de transformar esses desperdícios em velas foi tudo menos fácil. Além de desenvolver a máquina, outros quebra-cabeças tiveram de ser resolvidos, como eliminar o cheiro a óleo, solidificá-lo, dar as cores e até garantir a estabilidade do produto. "É preciso fazer bem com qualquer tipo de óleos e azeites", diz Mário Silva, adiantando que até já fez velas com azeites que tinham bolor.

Além disso, era preciso garantir que os produtos finais - máquina e velas - sejam seguros em termos ambientais. Não só a OON Candlemaker é feita em 80 por cento por plásticos reciclados, como todas as embalagens vendidas pela empresa são em papel também reciclado.

Por outro lado, as velas, ao usarem óleos vegetais usados, são neutras do ponto de vista da emissão de carbono, ao contrário do que acontece com as velas normais, que são feitas com um derivado do petróleo, a parafina.

Paralelamente, a máquina foi também concebida para gastar pouca energia - apenas 270 watts (o equivalente a um rádio ligado) - graças à forma como está concebida. "A Candlemaker usa a força da gravidade e as forças termodinâmicas para reduzir o consumo energético", dispensando, por exemplo, a existência de uma bomba para sugar o óleo, explica Mário Silva. O funcionamento da máquina assemelha-se a tirar um café numa das novas máquinas de cápsulas, do tipo Nespresso.

O menos apetecível de tudo poderá ser mesmo o preço. A OON Candlemaker custa 323 euros, um valor que inclui a máquina, uma caixa com as sete variedades de pastilhas e dois copos para fazer as primeiras velas.

Cada nova caixa de pastilhas custa 18 euros (no caso das coloridas e com aromas) ou 14 (no caso das neutras). Mário Silva admite que o preço possa vir a baixar à medida que a produção e as vendas forem aumentando. Mas, para já, é este o preço a pagar, se quiser aproveitar o óleo usado lá de casa para iluminar e perfumar o ambiente.

Notícia actualizada às 13:40
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