OCDE pede mais investimento para impulsionar a economia mundial

Organização está preocupada com a instabilidade financeira e o abrandamento da economia global. Pede “resposta urgente” e vê espaço para políticas mais expansionistas.

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A OCDE, liderada por Angel Gurría, vê “riscos substanciais” de instabilidade financeira ERIC PIERMONT/AFP

Perante o arrefecimento das principais economias mundiais, a desaceleração dos EUA, da zona euro, das economias emergentes e os “riscos substanciais” de instabilidade financeira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) veio nesta quinta-feira deixar um aviso aos líderes políticos mundiais, para que se aumente o investimento público, de forma a acelerar a procura global e impulsionar o crescimento. Há espaço para políticas orçamentais mais expansionistas, mas sem pôr em causa a sustentabilidade das finanças públicas, diz a instituição liderada por Angel Gurría.

As fracas perspectivas económicas mundiais exigem uma resposta “urgente”, considera a OCDE, que não esconde o pessimismo em relação ao andamento da economia mundial. A instituições reviu em baixa as previsões de crescimento dos EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Brasil e do conjunto da zona euro face ao que estava a projectar ainda em Novembro.

A OCDE está agora a contar que a economia mundial cresça este ano o mesmo que progrediu no ano passado: um ritmo de 3%, quando há três meses estava a projectar um crescimento de 3,3% para 2016. E se em Novembro previa um crescimento de 3,6% para 2017, agora também está menos optimista em relação ao próximo ano, colocando essa previsão nos 3,3%.

Os problemas que, na leitura da OCDE, estão a condicionar a economia global – e que levam a instituição a pedir uma resposta política “urgente” nesta altura crítica – têm a ver com a conjugação de diferentes factores ao mesmo tempo: o comércio e o investimento estão a um nível “fraco”; o ritmo de crescimento mundial deverá manter-se ao nível do ano passado, em que “atingiu o nível mais baixo em cinco anos”; a lenta procura mundial mantém a inflação a um valor baixo e está a levar a uma “progressão inadequada dos salários e do emprego”. E para juntar a estas dificuldades, há riscos de instabilidade financeira, que ficaram visíveis nas últimas semanas nos mercados financeiros.

Por isso, sustenta a economista-chefe da OCDE, Catherine L. Mann, “é preciso uma resposta mais forte ao nível da política orçamental, combinada com um relançamento de reformas estruturais, para suportar o crescimento e proporcionar um ambiente mais favorável a inovações e mudanças que resultem em ganhos de produtividade, em particular na Europa”.

“Na medida em que as administrações públicas de vários países podem conseguir financiamento de longo prazo a taxas de juro muito baixas, há espaço para políticas orçamentais expansionistas destinadas a aumentar a procura, de uma forma compatível com a sustentabilidade das finanças públicas”, defende a economista-chefe da OCDE, num comunicado da organização.

A atenção deve estar em políticas com resultados positivos no curto prazo, mas que também contribuam para o crescimento de longo prazo. O “compromisso para aumentar o investimento público reforçaria a procura e contribuiria para suportar o crescimento no futuro”, defende Catherine L. Mann.

Os Estados Unidos deverão crescer este ano 2% e a zona euro apenas 1,4%, com a Alemanha a avançar 1,3%, França 1,2% e Itália 1%. Para a economia britânica a projecção é de 2,1%, para o Canadá foi revista para 1,4% e a do Japão baixou para 0,8%.

No grupo das grandes economias emergentes asiáticas, a OCDE manteve a previsão de crescimento para a China face à projecção conhecida em Novembro (6,5%, que já era um abrandamento em relação ao crescimento do ano passado) e melhorou em uma décima a previsão para a Índia (para 7,4%).

Quanto ao Brasil, a OCDE está mais pessimista do que há três meses, contando com um agravamento da recessão no país, com o PIB a cair 4% (depois de já ter recuado 3,8% no ano passado). A previsão foi revista fortemente em baixa – em Novembro a organização estava a prever que a economia brasileira caísse 1,2% em 2015.

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