O swap das Finanças

Saindo o ministro, o governo não mudou de política. O mais provável é que tenha ficado sem política.

A saída de Vítor Gaspar é um tsunami mortal para um Governo em crise.

Apesar dos erros e das falhas de um programa de ajustamento em que sempre acreditou, Vítor Gaspar não deixou por isso de ser o rosto credível do programa e da aplicação do memorando, sobretudo a nível europeu e da troika.

Nesta matéria, a sua autoridade sobreponha-se à do próprio primeiro-ministro. Sem Gaspar a bordo, é desde logo Passos Coelho quem fica mais fragilizado. Vulnerável.

Até pela forma escolhida pelo mais emblemático ministro deste governo para sair de cena.

No dia em que o executivo anunciava uma nova estratégia de comunicação, Gaspar fez um verdadeiro briefing. Não há memória de um ministro se ter demitido apresentando uma carta expondo publicamente os motivos pelos quais sai como fez o ex-ministro das Finanças.

É um exercício de uma enorme brutalidade. O Vítor Gaspar que um dia falou aos portugueses anunciando secamente um “enorme aumento de impostos” dirigiu-se agora com a mesma frieza ao Governo de que era o pilar principal e que acusa de não o ter apoiado.

A missiva lança sombras enormes sobre o futuro do plano de ajustamento e quanto à capacidade de o governo em continuar a executá-lo. Gaspar sai reclamando o dever cumprido a montante, mas anunciando a tempestade a jusante.

Na mira do ministro está o novo número 2 do governo, Paulo Portas. Que na sombra saboreia, neste momento, a vitória no braço-de-ferro com o antigo número 2 do governo, o próprio Vítor Gaspar.

A política de austeridade e os mandamentos da troika professados por Vítor Gaspar não estavam a resolver o problema. Pelo contrário.

Mas, saindo o ministro, o governo não mudou de política. O mais provável é que tenha ficado sem política.

Sem ministro das Finanças, pelo menos, ficou.

Substituir uma figura com o peso político, dentro e fora de portas, de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque é, no limite, uma anedota.

Sobretudo porque assume o cargo num momento em que está sob suspeita por ter faltado à verdade na intrincada questão das swaps. Um caso em que veio do próprio ministério das Finanças a informação de que este governo foi informado pelo anterior sobre essa questão. Obrigando a ainda secretária de Estado a defender a sua honra no primeiro dos novos briefings com os jornalistas do governo.

Passos estava obrigado a substituir o principal ministro do seu governo por uma figura com um peso político forte. Por alguém como Paulo Macedo, por exemplo.

Com a reforma do Estado por fazer e a troika descrente da capacidade do Governo em levá-la por diante, escolher um suplente para a pasta mais importante do Governo é um desastre.

A troca de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque foi um verdadeiro swap.

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