O regresso ao passado em três meses

A economia está a regressar ao normal, e o normal não é necessariamente bom.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou esta sexta-feira os dados da economia portuguesa no primeiro trimestre e os números não são animadores. Mostram que a economia está a regressar ao padrão da normalidade antes da troika, o que não é necessariamente uma boa notícia.

O défice, como é habitual, está longe do previsto. De Janeiro a Março o desequilíbrio das contas públicas atingiu os 6%, acima da meta de 4% fixada para a totalidade do ano. É verdade que historicamente o primeiro trimestre é o período em que o défice normalmente é mais elevado. Mas também é verdade que o Governo vai deixar de poder contar com os cortes salariais impostos à função pública para consolidar as contas, pelo menos nos moldes que foram chumbados pelo Tribunal Constitucional.

O segundo número do INE que merece reflexão é o que mostra que a economia voltou a registar um saldo externo negativo, muito por culpa do crescimento das importações que está a ser superior à subida das exportações. E é bom lembrar que o equilíbrio da balança externa era uma das grandes prioridades da troika.

O terceiro número divulgado pelo INE e que faz temer o pior é que a taxa de poupança voltou a cair no arranque do ano. Isto significa que, passada a fase mais dramática do ajustamento, os portugueses, apesar de terem menos rendimento disponível, voltaram a deitar mãos às poupanças para aumentar o consumo.

Claro que mais défice, mais importações e mais consumo, mesmo que seja à custa da poupança, até podem ter um impacto positivo na economia no curto prazo. Mas a parte dramática é que o agravamento desses três indicadores em simultâneo implica, a mais longo prazo, que a dívida, seja pública, seja privada, voltará a aumentar. E foi esta combinação que nos levou ao resgate.

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