O que mudou de Salónica a Atenas?

As reformas propostas pela Grécia não são um arrepiar de caminho. São um passo em frente.

Em Setembro, Alexis Tsipras apresentava aos gregos o Programa de Salónica, um plano virado para a economia e que propunha, entre outras medidas, electricidade grátis e subsídios alimentares para milhares de famílias que estão abaixo do limiar da pobreza, restituição do subsídio de Natal, medicamentos grátis para os desempregados e subida do salário mínimo para 751 euros. Foi com base nestas promessas de romper com a austeridade que o Syriza ganhou as eleições de Janeiro.

Este início de semana, Tsipras enviou para Bruxelas um documento de seis páginas que procura fazer uma fusão entre o seu programa de Governo e as exigências do Eurogrupo para aprovar o prolongamento do resgate. Muitas das promessas de Salónica continuam lá, mas com três diferenças substanciais: o Syriza já não vai romper com a troika (mesmo que não lhe chame troika), deixa cair o discurso do perdão da dívida e compromete-se a não adoptar medidas que façam perigar o objectivo do défice. Mesmo no último capítulo do documento, relativo à “crise humanitária”, o Syriza diz que as medidas “não podem resultar num impacto orçamental negativo”.

Este recuo do Syriza, em quase toda a linha, não significa um passo atrás, desde que Alexis Tsipras consiga conter a contestação social (daqueles que votaram no fim da austeridade e se sentem traídos) e as brechas na coligação que se começaram a sentir depois das críticas do veterano Manolis Glezos. O programa já recebeu uma aprovação prévia dos restantes 18 ministros do Eurogrupo e o FMI e o BCE consideraram-no como um “bom ponto de partida” para as negociações. E, caso consiga concretizar e executar o programa proposto (que vai muito para além dos quatro meses da troika e muito além do período de uma legislatura), e com a solidariedade dos parceiros europeus, a Grécia poderá dar um passo em frente e de gigante para evitar um terceiro resgate, sem ter de deixar para trás aqueles que estão numa situação mais frágil.

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