O que a Autoeuropa tem e a TAP não tem

A Autoeuropa faz 20 anos e a TAP 70. Mas há uma grande diferença de maturidade entre uma e outra

Uma delegação da TAP liderada por Fernando Pinto foi nesta sexta-feira ao Palácio de Belém, no âmbito das comemorações do 70.º aniversário da companhia. Também esta semana a Volkswagen comemorou os 20 anos de produção de automóveis em Portugal. Além da idade, e dos aviões e automóveis, há muita coisa que distingue uma da outra.

A Autoeuropa nasceu de uma joint venture entre a norte-americana Ford (50%) e a Volkswagen (50%) em 1991, sendo que quatro anos mais tarde os alemães ficaram com 100% da fábrica, num projecto que tem sido proveitoso quer para os alemães quer para Portugal. O grupo emprega hoje 3600 funcionários (e mais uns quantos indirectamente nas empresas que gravitam à volta do parque industrial), tem um peso superior a 3% nas exportações portuguesas e representa 1% do PIB.  

Há duas décadas foi o maior investimento estrangeiro realizado em Portugal e hoje o grupo já tem a garantia de mais um investimento de 677 milhões de euros. Em declarações à Lusa, António Melo Pires e António Chora explicam o que está por detrás do sucesso. O presidente da fabricante diz que um dos segredos são as relações laborais: "Não se deve misturar política com relações laborais", sendo que "tem muito que ver com o facto de se negociar na óptica da necessidade da empresa e dos trabalhadores e não na óptica de uma política sindical nacional ou regional". Também o representante dos trabalhadores assegura que "há um clima de confiança mútua” entre a administração e os funcionários, “e na maior parte do país, infelizmente, não é assim".

E na TAP, infelizmente, não é assim. Enquanto a Autoeuropa se prepara para receber um novo modelo da Volkswagen, na companhia de aviação arranca esta semana uma greve de dez dias (sim, dez dias) que representa não só um novo buraco nas contas já debilitadas da TAP como um enorme revés na confiança dos passageiros. Enquanto a Autoeuropa diz que serviu de inspiração à alteração da própria lei laboral em Portugal, com a introdução de conceitos como o banco de horas, na TAP a administração e os sindicatos dos pilotos entretêm-se a discutir se a greve de 1 a 10 de Maio vai custar 30 milhões ou 70 milhões. Sendo que um valor ou outro são uma enormidade no balanço depauperado da empresa.

Aqui não se trata de ser contra ou a favor da privatização que o Governo se prepara para fazer, trata-se de um exagero e de uma postura de irredutibilidade por parte dos pilotos e uma total incapacidade em conseguir um clima de paz social por parte da gestão. Mas estamos a falar de uma administração que ficou fragilizada com os resultados dos maus investimentos que fez no negócio da manutenção no Brasil. Aos pilotos e à gestão não se lhes pede que sirvam de inspiração aos bons exemplos do código de trabalho como a Autoeuropa; apenas que não destruam a empresa, quer ela venha a ser privatizada quer fique nas mãos do Estado.

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