O país onde é um desafio fazer negócios ainda compra pouco a Portugal

A Índia tem pouca expressão como destino das exportações portuguesas. É o 45.º cliente de Portugal.

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Cerca de 260 milhões de indianos vivem abaixo do limiar da pobreza Miguel Manso

Já não cresce como crescia há dez anos, mas a progressão económica pujante da Índia continua a fazer inveja ao Velho Continente e a dimensão gigante do seu mercado é sempre um chamariz para as empresas desenvolverem ali os seus negócios. Para Portugal, o país ainda representa um pequeno grão nas relações comerciais.

E entrar num mercado que se abriu à liberalização económica há pouco mais de 20 anos ainda é um desafio para muitas empresas estrangeiras, pelas características do distante gigante asiático dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

A Índia, com mais de 1300 milhões de habitantes, tem quase dois terços da sua população entre os 15 e os 35 anos. Apesar de cerca de 260 milhões de indianos viverem abaixo do limiar da pobreza, há uma economia em constante expansão e os rendimentos das famílias têm vindo a melhorar. Em 2015, o PIB avançou 7,6% e é esse o ritmo de crescimento económico que o FMI previa para 2016 e que projecta também para este ano.

Portugal importa muito mais do que exporta para a Índia, o que significa um défice comercial de 380 milhões de euros (em bens). As vendas ascenderam a 78,9 milhões de euros em 2015, contra 459 milhões em importações. Somando os serviços aos bens, a Índia é o 45.º cliente de Portugal e o 21.º fornecedor (e fazendo a conta apenas às mercadorias, está na 58.ª posição como cliente). A quota nas exportações é muito reduzida, de apenas 0,15%, ainda mais baixa do que o seu peso nas importações, de 0,64%.

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Aumentar

Quando há quatro anos Paulo Portas foi em viagem oficial à Índia, era então ministro dos Negócios Estrangeiros, o número de empresas portuguesas a exportar para a Índia era ainda era inferior a 500. Com o aumento das exportações portuguesas, também o número de empresas voltadas para a Índia foi aumentando, mas lentamente. Dados de 2015: em 46.700 exportadoras, havia apenas 613 que se relacionavam com o mercado indiano.

Ainda não há números completos das exportações do ano passado, mas os valores até Outubro são positivos. Só as vendas de bens somam 75,8 milhões de euros, aumentando 18% em relação a 2015.

De quase tudo se vende para a Índia. E o que mais se exporta são máquinas e aparelhos (22% do total de bens), metais (16%), minerais (111%), plásticos e borracha (10%). Produto a produto, o que mais se tem vendido no último ano são hidrocarbonetos, óleos produzidos da destilação de alcatrão, aparelhos eléctricos, impressoras, antibióticos e peles de animais.

O que mais se compra àquele mercado asiático são têxteis (30%), produtos agrícolas e metais (12% cada), químicos (10%) e plásticos e borracha (8%). Os produtos agrícolas representam apenas 0,8% dos produtos exportados para a Índia.

Decisões levam tempo

Apesar de ser a sétima economia mundial, a Índia continua a ser um dos países onde fazer negócios é um desafio. No ranking do World Bank aparece na posição 130.º entre 190 países. As empresas têm atenção aos indicadores de produtividade e esses estão a crescer. Na avaliação da competitividade, o país surge em 39.º no ranking do Global Competitiveness Report, onde são avaliadas 138 economias (incluindo Portugal, que aparece em 46.º).

Nas dicas de internacionalização para a Índia preparadas pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) sobressaem algumas “forças”: a dimensão global das empresas – “grandes grupos de holdings indianas (ex. Tata, Birla, Reliance ou Infosys)” –, os baixos custos laborais, um sistema judicial independente e o fim de alguns direitos sobre as importações.

Mas a lista de “fraquezas” é maior. Por exemplo: o regime fiscal é complexo, há duplicação e mesmo uma triplicação de taxas, a burocracia é muita, os “lobbies minoritários” por vezes travam reformas laborais e o processo de tomada de decisões é lento.

Aliás, a AICEP avisa que é preciso “contar com pesada burocracia nos processos de licenciamento, autorização e certificações, sendo não raras vezes necessário recomeçar de novo os mesmos processos administrativos”. E outro conselho passa por ponderar encontrar um parceiro ou sócio local que tenha facilidade em aceder às redes de distribuição e logística.

É preciso alguns cuidados, como “seleccionar a parceria local segundo critérios rigorosos de idoneidade, reputação e contexto familiar”. E não menos importante: “Não esquecer as condicionantes sociais decorrentes do sistema de castas”.

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