O Banco Central Europeu (BCE) e as ajudas

O sucesso recente de Portugal nos mercados financeiros resulta essencialmente da política expansionista do BCE. Com yields e taxas de remuneração das obrigações a descerem para níveis históricos nos leilões da dívida de curto e longo prazo, os investidores acreditam na "protecção" do BCE. A sul chega o benefício deste desvio da liquidez. sob a forma de procura de dívida soberana. Mas à dívida soma-se mais dívida e, sem crescimento robusto e duradouro, a dívida tornar-se-á insustentável. Recorrendo a instrumentos não convencionais, o BCE foi contundente em 5 de Junho. Primeiro, impôs taxa de juro negativa (-0,1%) para remunerar os depósitos dos bancos. Uma ajuda para reduzir o juro de curto prazo e circunscrever, na vizinhança do zero, a taxa EONIA (taxa de juro de referência no mercado monetário do euro para o prazo overnight). Assim, deixa de ser atractiva a facilidade permanente de depósito dos bancos nos cofres do BCE, em Frankfurt, o que gerará outras oportunidades. Provavelmente, mais empréstimos num mercado interbancário mais dinâmico e, sobretudo, outra atenção à economia real. Optando pela injecção de dinheiro na economia, estimula e impulsiona a procura interna. Os preços podem subir e afasta-se o fantasma da deflação. Segundo, e em simultâneo, desvalorizou o euro em relação ao dólar – para 1,35 – o que aumentará a procura no exterior de bens e serviços europeus, com mais exportações e menos importações. Terceiro, e para que não restassem dúvidas, injectou 400.000 milhões destinados a crédito bancário às PME's. Insuficiente. Portugal, com um sistema financeiro saturado por créditos hipotecários e com um sector não financeiro descapitalizado, apenas terá fundos necessários para amortizar a dependência do BCE. Espera-se que a ajuda acabe por chegar à economia, mas só após os bancos superarem o stress test.

Economista

 

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