Número de passageiros da CP caiu para metade em duas décadas

Decréscimo de passageiros acompanha a redução da rede ferroviária nacional, mas 2014 poderá ser ano de viragem.

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A CP revelou ontem parte dos seus resultados de 2013, revelando que conseguiu travar o acentuado decréscimo da perda de passageiros. Segundo a empresa, de 2012 para 2013 só perdeu 4% do número de clientes, contra um decréscimo de 11% evidente no exercício anterior. Em termos absolutos, a empresa transportou no ano passado 107 milhões de passageiros, contra 112 milhões em 2012 e 126 milhões em 2011.

Estes números não são mais do que a continuação da tendência pesada das últimas décadas em que não pára de cair o número de pessoas que viajam nos carris portugueses. Dos 209 milhões de passageiros transportados em 1993, a CP só transportou no ano passado 107 milhões, ou seja, cerca de metade.

Na década de 1980 do século passado a empresa transportava entre 225 a 230 milhões de pessoas (com um pico de 231 milhões em 1988). Mas desde então foi sempre a descer.

Uma descida que acompanha o encerramento de linhas férreas. Até 1990 Portugal tinha 3600 quilómetros de caminhos-de-ferro abertos à exploração. Hoje a rede ferroviária de passageiros é de apenas 2100 quilómetros.

Estas quebras na redução da rede e na descida do número de passageiros não têm paralelo nos países da União Europeia, sendo Portugal o país que, em termos relativos, mais linhas fechou e mais passageiros perdeu.

Em contrapartida, é o país da UE onde mais cresceu o número de quilómetros de novas rodovias. No espaço europeu (com exclusão de Malta e Chipre que não têm ferrovia) Portugal é o único país onde o número de quilómetros de auto-estradas é maior do que o número de quilómetros de caminhos-de-ferro.

Não surpreende assim a tendência decrescente da procura do transporte ferroviário, agravada, recentemente pela crise (o aumento do desemprego levou a uma redução do percurso casa-trabalho), pelo forte aumento das tarifas em 2012 e pelas greves.

A CP diz, no entanto, que há sinais muito claros de retoma desde Setembro do ano passado, que se traduzem num aumento médio da procura de 2,3% transversal a todos os seus serviços. O serviço regional foi o que mais subiu nos últimos meses do ano (6,1%), seguindo-se os suburbanos do Porto (5,9%), o longo curso (4,3%) e os suburbanos de Lisboa (0,8%).

A paz laboral obtida na empresa no ano passado, com reflexos na quase estagnação das greves no segundo semestre, explica a inversão da tendência. Mas é uma paz ténue porque os ferroviários, além de se insurgirem contra os cortes, continuam a protestar por o governo lhes ter retirado as viagens gratuitas nos comboios da sua empresa, o que poderá contrariar o objectivo estabelecido para 2014 – revelado no comunicado da CP – de “um crescimento efectivo do volume de passageiros transportados”.

Em 2013 a empresa reforçou o serviço de passageiros entre Caldas da Rainha e Coimbra e criou um novo serviço Intercidades diário entre Lisboa e Braga.

Levou a cabo ainda algumas iniciativas comerciais que voltaram a chamar a atenção das pessoas para o comboio: descontos de 40% na compra antecipada de bilhetes para os Alfas e Intercidades, descontos de 40% para viagens de fim-de-semana e alargamento do desconto jovem a todos os clientes até 25 anos independentemente de serem estudantes ou possuírem cartão jovem.

Já quantos aos resultados líquidos, a empresa não os divulgou, limitando-se a comunicar que houve uma melhoria dos resultados operacionais que passaram de 27 milhões negativos em 2012 para 20 milhões, também negativos, em 2013.

O EBITDA foi positivo em 23 milhões de euros, embora este tenha tido uma redução de 12 milhões de euros face ao ano anterior que, segundo a CP, “decorre da necessidade de reposição de subsídios de férias e de Natal aos trabalhadores da empresa”.

Fertagus transporta mais de 20 milhões de passageiros

As contas dos passageiros transportados pelo caminho-de-ferro em Portugal só ficam completas se se lhes juntar os 20 milhões de passageiros/ano transportados pela Fertagus.

A linha onde esta empresa ferroviária privada opera (e que também é partilhada pela CP nas suas ligações ao Algarve e Alentejo) foi a única construída em Portugal após um interregno de 50 anos.

Em 1949 a construção de linhas férreas iniciada no séc. XIX estancara. Os últimos troços inaugurados nesse ano tinham sido Cabeço de Vide – Portalegre e Celorico de Bastos – Arco de Baúlhe (ambos já encerrados). Cinquenta anos depois, em 1990, o país inaugurava uma nova linha, de Campolide ao Pinhal Novo, passando pela ponte 25 de Abril. Desde então houve modernizações e encerramentos, mas não novas linhas.

 

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