Nouriel Roubini: autárquicas e TC são determinantes para travar segundo resgate

Crise política em Portugal foi um sinal de fadiga de austeridade, diz o economista Nouriel Roubini.

Foto
Nouriel Roubini aconselha mais atenção aos mercados e menos à troika Daniel Rocha

Os resultados das eleições autárquicas e eventuais novos chumbos do Tribunal Constitucional (TC) a reformas estruturais vão determinar se Portugal segue, ou não, por um caminho positivo. O economista e consultor Nouriel Roubini defendeu, nesta sexta-feira, que um segundo resgate é inevitável “e um risco”, caso o Governo não passe no teste das eleições ou se o TC chumbar novas medidas, como sucedeu com o sistema de requalificação na função pública.

Roubini, que ficou conhecido em todo o mundo por ter previsto a bolha imobiliária nos Estados Unidos que deu origem à crise financeira internacional, disse ainda que Portugal (e outros países da periferia da zona euro) sofre de fadiga de austeridade. Aliás, “a crise política do Verão foi um sinal dessa fadiga”, reforçou. Situações como greves e protestos, o chumbo do TC e “outras incertezas” levaram a um aumento das taxas de juro, afirmou, lembrando que há o risco de descida do rating e um debate público sobre a revisão das metas do défice que, na sua opinião, “cria ruído”.

A recuperação ainda é “fraca” e, por isso, caso as autárquicas não reforcem a posição do Governo de Passos Coelho, as probabilidades de um segundo resgate são reais, disse.

“A minha visão é que, se as coisas correrem bem, a direcção [em que o país vai] é boa”, afirmou. Roubini diz que se o Governo “estiver comprometido a continuar a reforma da austeridade” e a troika aceitar uma redução da meta do défice, ao mesmo tempo que se os resultados nas eleições forem favoráveis ao executivo, “os juros baixam e o país pode ganhar acesso ao mercado este ano e, em vez de um segundo resgate, terá um programa cautelar”.

Para o consultor, há aspectos positivos na situação portuguesa. O ajustamento fiscal foi “muito grande” e era necessário, houve reformas estruturais (que tornam o país mais produtivo, ainda que sejam “dolorosas”), uma redução no custo de trabalho, aumento de exportações.

Roubini está optimista quanto ao desfecho da crise em Portugal e, a nível europeu, defende que o papel da Comissão Europeia devia ter sido mais determinante, apontando como exemplo o valor do euro, que, na sua opinião, é muito forte.

O economista prevê uma retoma gradual na zona euro e acredita que a recuperação já começou, nomeadamente em Portugal. “Está dependente da criação de emprego e da redução do desemprego e do aumento do consumo”, exemplificou.

Questionado sobre a saída do euro, disse que há uma regra para aumentar crescimento potencial: depende da demografia e da produtividade. “Enfrentamos o envelhecimento da população, mas há medidas que podem ser tomadas”, afirmou. Do lado da produtividade, defendeu que se pode melhorar a política fiscal, impulsionar o investimento privado e melhorar o sector público. Aplaudindo o esforço nas exportações, disse ainda que é preciso “investir nas pessoas”.

Quanto à revisão da meta do défice, defendeu que, mesmo que venha acontecer, o TC pode sempre travar mais medidas de cortes. “Esqueçam a troika, têm de dar atenção ao que os mercados estão a dizer”, disse.
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar