Nogueira Leite diz que no passado a CGD foi “barriga de aluguer da política”

Não há intenções de despedir trabalhadores, mas sim de cortar no número de balcões. O banco do Estado continuará a registar prejuízos até 2014, mas o apoio às PME não está em causa, garante administrador.

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Nogueira Leite afirmou que depois do final de 2013 a CGD poderá regressar aos lucros Miguel Manso

O vice-presidente da comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos (CGD) acredita que o banco do Estado voltará aos lucros no fim de 2013, "se as coisas correrem bem". E afirma que os prejuízos se devem a operações do passado, quando o banco era uma "barriga de aluguer da política".

Numa entrevista publicada neste sábado pelo suplemento de Economia dos jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, Nogueira Leite é questionado sobre a perda de dinheiro nalgumas das alienações que a CGD tem feito. E respondeu que no essencial não tem sido a alienação a causar a perda, que “já estava registada”. Explicou que “uma pessoa só ganha ou perde quando vende” e que o banco estatal registou “no passado, não hoje, perdas significativas em imparidades financeiras". "Em 2011 foram mais 600 milhões de euros."

Detalhando a explicação, o mesmo responsável, militante e ex-dirigente do PSD, afirma  No passado, acrescentou Nogueira Leite, a CGD funcionou como “barriga de aluguer da política pública, da política governamental, da criação de campeões nacionais, centros de decisão nacional ou do que quer que fosse”.

E apontou o final do próximo ano, quando termina o actual mandato, como a data para o regresso aos lucros. NO ano passado, a CGD teve um prejuízo de 490 milhões de euros, o maior na história do banco. Admitiu, no entanto, que 2013 poderá ser um ano “menos bom” por se saber “o que sucederá às famílias”.

Sem despedimentos no horizonte 
Na entrevista que também será transmitida pela TSF às 13h deste sábado, o administrador disse que, apesar do prejuízo, não estão previstos despedimentos. “Até porque temos uma população [de funcionários] bastante envelhecida”, justificou. Para já, está apenas a ser reduzida a rede de balcões. Para este ano, adiantou, está prevista a redução de 30. “É uma operação muito difícil. Às vezes, para reduzir um balcão, todos os grandes magistrados da nação nos enviam cartas.”

Nogueira Leite sublinhou, no entanto, que este ano, a Caixa tem 3000 novas operações em linhas PME e 4000 milhões de novos créditos. “Não é regularização de operações antigas, é novo crédito.”

Questionado sobre eventuais pressões políticas, o administrador da CGD disse que elas não existem “dos principais ministros”, mas, sem referir nenhuma administração em particular, afirmou que “muitas pessoas” estavam “habituadas a uma permeabilidade diferente daquela que a Caixa tem hoje”.

Sobre o cenário macroeconómico para o próximo ano, Nogueira Leite, que já foi membro do Conselho Nacional do PSD, disse que “não há ninguém que, no plano técnico, possa excluir que a recessão possa chegar a um intervalo acima dos 2%”, acrescentando que isso está dependente de “um conjunto de factores que os nossos decisores, em Portugal e na própria Europa, não controlam”.

Faltam as reformas estruturais
Este Orçamento, prosseguiu, “vai ser difícil”, por estar “muito dependente do resto da economia” e porque “assenta muito na subida da fiscalidade”. E sublinhou que o próprio ministro das Finanças, Vítor Gaspar, admitiu que “o Orçamento é muito difícil, tem riscos de execução muito complicados”. Mas disse que “desde que o dr. Catroga foi ministro das Finanças, em 1994/1995”, nunca viu “nenhum corte estrutural da despesa pública a sério”.

Nogueira Leite lembrou, porém, que nos últimos 35 anos, “nunca ninguém esteve sob tanta pressão como agora”. Sublinhou que há um “caminho essencial que não está feito” na reforma do Estado e que já não vai “haver tempo para fazer”.

Confrontado com o que escreveu no Facebook quando ameaçou “pirar-se” do país caso o obrigassem a “trabalhar mais de sete meses só para o Estado”, o administrador da CGD disse que sempre teve menos retorno do que os impostos que pagava mas que acha isso bem por fazer parte da função de redistribuição do Estado.

“O que cada vez me custa mais, e isso eu mantenho, é que pagando […] quando eu tiver 60, 70 anos provavelmente não haverá Estado para mim.” E rematou: “Fico desesperado quando percebo que, tendo filhos pequenos, de facto só estou a trabalhar para o aforro de que vou precisar daqui a 20 anos.”

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