Negócio da TAP no Brasil dá lucros pela primeira vez desde que foi comprado

Antiga VEM teve resultado líquido positivo em Fevereiro. Contas de 2013 ainda não estão fechadas, mas apontam para prejuízos de 30 milhões.

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Desempenho do negócio de manutenção no Brasil é fundamental para a privatização da TAP Raquel Esperança

Pela primeira vez desde que foi comprada pela TAP, em 2006, o negócio de manutenção que o grupo tem no Brasil deu lucros. Em Fevereiro, a antiga VEM registou um resultado líquido positivo de alguns milhares de euros, contrariando a tendência que se tem verificado nos últimos oito anos. Esta inversão foi possível graças a um aumento das vendas, que subiram mais de 30% ao longo do primeiro trimestre, combinado com o plano de redução de custos na empresa.

Ao que o PÚBLICO apurou, os lucros gerados em Fevereiro não chegaram a um milhão de euros, mas significam uma mudança de direcção nos resultados da M&E Brasil, que a TAP adquiriu à antiga Varig em conjunto com a Geocapital (do empresário macaense Stanley Ho), mas onde hoje é a única accionista. Apesar de a reestruturação profunda da subsidiária ter começado em 2011 e de já há muitos meses se verificar uma subida no valor das encomendas para manutenção de aviões, a empresa tem sido sempre penalizada por factores extraordinários à operação, especialmente pelo pagamento de contingências fiscais e laborais.

O resultado líquido positivo atingido no segundo mês do ano foi possível graças ao aumento das receitas, que apresentam uma melhoria homóloga de 36% no acumulado do primeiro trimestre de 2014. Esta subida não se ficou a dever a novos clientes, mas sim a um reforço das encomendas dos actuais. Fazem parte da carteira de clientes da antiga VEM companhias como a Air Canada ou a colombiana Avianca, mas também as Forças Armadas brasileiras. Ao mesmo tempo, as despesas continuam em linha com o plano de reestruturação.

As contas finais do trimestre ainda não estão fechadas, pelo que não é ainda possível saber se houve lucro acumulado dos três primeiros meses do ano. Também o resultado de 2013 está por conhecer, embora se saiba já que foi negativo. Tal como o PÚBLICO noticiou, as perdas deverão ter rondado os 30 milhões de euros, o que significa uma melhoria face aos mais de 50 milhões de perdas de 2012.

No entanto, apesar desta redução, os prejuízos da M&E Brasil no ano passado são suficientemente elevados para esmagar os lucros alcançados pelo negócio de aviação da TAP, que em 2013 atingiram 21,4 milhões de euros. Ou seja, o resultado do grupo passará a prejuízos na ordem dos dez milhões quando forem consolidadas as contas da subsidiária brasileira. No ano anterior, as perdas do grupo tinham alcançado 42,2 milhões de euros, o que já representou uma evolução positiva face aos 76,8 milhões de 2011.

Essencial para a venda
O desempenho do negócio de manutenção no Brasil é fundamental para a privatização da companhia liderada por Fernando Pinto, que o Governo ainda não desistiu de concretizar este ano. Na primeira ronda, em 2012, houve candidatos que decidiram não apresentar ofertas de compra pelo facto de a antiga VEM ter sido incluída no perímetro da venda. Mas mesmo com investidores interessados, um agravamento das perdas da subsidiária e das suas contingências retirará muito valor à TAP.

Ainda assim, o executivo mantém a intenção de vender o grupo como um todo. E, na sequência de uma proposta da administração da transportadora aérea, está a preparar uma operação financeira para melhorar as contas da M&E Brasil. Já foi sinalizada à Comissão Europeia a intenção de converter os empréstimos feitos pelo grupo à empresa brasileira ao longo dos últimos anos para cobertura de prejuízos em capital, de modo a reduzir o passivo e a permitir que a subsidiária não seja excluída de concursos que permitam sustentar o aumento de receitas.

O Governo deverá ter ainda este mês a avaliação encomendada aos assessores financeiros contratados pelo Estado para apoiar a privatização da companhia. Esta avaliação conterá não só uma actualização financeira do grupo, como estudos sobre os diferentes cenários d e venda em cima da mesa e potenciais compradores. O executivo pediu aos assessores (Citi, BESI, Crédit Suisse e Barclays Capital) que analisassem todos os modelos, incluindo o de dispersão em bolsa, mantendo no Estado uma participação no capital da TAP, que poderá até ser maioritária.

A dispersão no mercado de capitais não é, porém, uma solução consensual. Apesar do sucesso que teve com os CTT, com a venda de 70% do capital em bolsa em Dezembro, há quem defenda, mesmo a própria administração da transportadora aérea, que o modelo não se adequa neste caso, a começar pelo facto de não ser uma empresa que gera dividendos e também porque não há um histórico no sector.

O certo é que, se a venda não for relançada este ano, depois de a primeira tentativa ter fracassado com a rejeição da oferta de Gérman Efromovich, dificilmente o será em 2015. Por ser uma operação polémica, o Governo não quer criar ruído em ano de eleições legislativas. O empresário português Miguel Pais do Amaral e o milionário norte-americano Frank Lorenzo continuam a pedir informações sobre a TAP para decidirem se avançam com uma proposta, caso a venda seja retomada em tempo útil.

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