Não, não somos o país das maravilhas

As previsões para o desequilíbrio das contas públicas de Bruxelas aproximam-se às do Governo.

É a segunda vez consecutiva que a Comissão Europeia revê em baixa o valor do défice para este ano, e não deixa de ser com algum tom de ironia que Maria Luís Albuquerque diz que eles (os de Bruxelas) "estão cada vez mais próximos da nossa previsão". A ministra das Finanças mantém que Portugal vai sair do procedimento por défice excessivo este ano, mantendo a previsão de 2,7% para o défice. Nos corredores de Bruxelas, o grau de cepticismo começa a baixar e já se assume um défice de apenas 3,1%, o que é uma boa notícia.

O cenário traçado pela equipa de Pierre Moscovici é de optimismo. Mais consumo privado, já que o rendimento das famílias está a beneficiar da folga da descida dos preços do petróleo e da gradual reposição de salários. Mais investimento que vai beneficiar da política monetária agressiva do BCE e da reforma do IRC. E, finalmente, mais exportações graças a uma melhoria generalizada nas previsões para os nossos parceiros comerciais.

Portugal, nas previsões da Comissão Europeia, fica a apenas duas décimas de furar a fasquia do défice imposta pelas regras de Bruxelas, o que é uma boa notícia. "Não será o país das maravilhas, mas desde que continuemos a melhorar...”, dizia ontem a ministra das Finanças em Londres, a propósito das reformas que o país ainda tem pela frente.

Mas são os próprios números de Bruxelas que mostram que, apesar de o país estar a beneficiar de factores conjunturais positivos – petróleo, euro e juros anormalmente baixos –, o défice estrutural (que elimina os factores cíclicos) vai subir este ano de 0,8% para 1,5%, cada vez mais longe dos 0,5% impostos pelo Pacto Orçamental. O que já não é uma boa notícia. São números que mostram que, decididamente, ainda temos um longo caminho a fazer em termos de reformas para poder almejar ser o país das maravilhas em termos de contas públicas equilibradas.

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