Na viagem para o mundo, o OLX explodiu primeiro em Portugal

Site nasceu na Argentina com o objectivo de chegar aos países emergentes, mas foi em Portugal que conseguiu um dos seus maiores sucessos, explica um dos seus fundadores.

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Alec Oxenford, fundador do OLX Enric Vives-Rubio

Foi com enorme surpresa que os fundadores do OLX, um gigantesco site de classificados nascido na Argentina, perceberam, pouco após o lançamento quase simultâneo em perto de 100 países, que Portugal era o mercado onde estavam a ter mais sucesso. Apesar dos dez milhões de habitantes, estava à frente da Rússia, Índia, China e Brasil, os quatro gigantes que a empresa via como os países mais promissores.

A explicação não é simples, reconhece Alec Oxenford, que fundou o OLX em Buenos Aires, em 2006, com um sócio francês, Fabrice Grinda. “Creio que o que se passou foi que Portugal tinha uma combinação única: uma população sofisticada, desejosa de serviços robustos na Internet, mas sem que houvesse uma oferta de serviços ao nível desejado”, diz Oxenford, numa conversa em Lisboa, nas instalações da Fixe Ads, a empresa responsável pelas operações do OLX em Portugal. “Não havia uma presença sólida de sites de leilões, ao estilo do eBay, e também não havia uma presença sólida de sites de vendas, do género da Amazon. Mesmo que não oferecêssemos esses serviços, acabámos por cobrir todo esse espaço. A pouca concorrência fez com que a nossa oferta explodisse imediatamente”, recorda. 

Para o fundador, houve outro factor importante para a popularidade do site em Portugal: uma marca fácil de memorizar. OLX começou por ser uma abreviatura da expressão inglesa “online exchange”, que significa “troca online”. Em Portugal, o nome tinha um bónus: LX é uma designação frequente para a cidade de Lisboa. “As pessoas lembravam-se muito facilmente.” 

O site de classificados nasceu com a ideia de atacar os mercados emergentes. A inspiração foi o site norte-americano Craigslist, que já estava online desde 1995 e que era (e ainda é) muito popular nos EUA. Oxenford já em 1999 criara um site de leilões, que acabou por vender ao eBay seis anos depois. “Em 2006, não havia ninguém em nenhum dos mercados emergentes e havia poucos concorrentes no Sul da Europa. Havia muita competição nos EUA e na Escandinávia. Mas o resto do mundo estava em aberto”, diz.

Empresa na Argentina, dinheiro dos EUA
Alec Oxenford não cedeu à tentação de se estabelecer em Silicon Valley, na Califórnia, como acontece com muitas startups. Preferiu não sair de Buenos Aires, onde, em poucos anos, passou a empregar dezenas de pessoas. Mas a empresa teve ao longo de todo o percurso uma pequena equipa em Nova Iorque. Era sobretudo nos EUA que havia dinheiro para investir em startups e o OLX conseguiu investimento de alguns pesos-pesados do capital de risco. Um deles foi o co-fundador do PayPal Peter Thiel, também conhecido por ter investido 500 mil dólares no Facebook em 2004, quando a rede social ainda estava no arranque. Oxenford não quer revelar quanto é que o investidor colocou no OLX. Mas dá uma pista: “Pode escrever que ele nos deu várias vezes mais do que aquilo que deu ao Facebook e estará a dizer a verdade”. 

O ano de 2010 marcou uma viragem. A empresa vendeu uma participação de 60% por aproximadamente 150 milhões de dólares. O comprador foi o grupo de media sul-africano Nasper, que hoje detém mais de 90% do capital. Os negócios da Naspers vão dos jornais e revistas em África e na China a plataformas para transmissão de televisão paga. Tem ainda 30% da editora brasileira Abril, dona de dezenas de revistas. E tem participações em empresas de Internet em vários mercados emergentes. A Naspers é também detentora da maioria do capital da Fixe Ads, que por sua vez tem os sites de classificados Standvirtual, Imovirtual e Coisas, e que facturou 4,2 milhões de euros no ano passado.

Oxenford diz não ter dúvidas de que um grupo de media é o ideal para ser dono de uma plataforma de classificados online. “Se há algum negócio na Internet que devia pertencer aos media é o dos classificados. Os media tiveram-no durante 250 anos e perderam-no numa década. É ridículo”, observa, referindo-se ao facto de os anúncios classificados já terem sido um monopólio dos jornais. 

Foi em 2009 que Portugal deixou de ser o maior mercado para o OLX. O site português tem 5,5 milhões de visitantes por mês, de acordo com números da própria empresa, e totaliza cerca de 2,2 milhões de anúncios. Mas os telemóveis têm ajudado à popularização do site em países como a Índia (onde mais de 70% dos acessos são nestes aparelhos) e Nigéria (mais de 90%). Nos países em desenvolvimento, a utilização de computadores é relativamente baixa e os telemóveis são frequentemente usados para vários tipos de tarefas online. “Quando se tem um computador, a experiência no telemóvel é muitas vezes considerada má. Mas quando não se tem um computador, e a alternativa é ir gritar para um mercado, isto é uma revolução. Não interessa se as fotografias são pequenas e se a aplicação vai abaixo”, argumenta Oxenford.

Já nos mercados mais maduros, como Portugal, a estratégia passa agora por fazer crescer a marca e começar a rentabilizar os anúncios. Colocar um anúncio no OLX é gratuito, mas os utilizadores podem pagar para que estes apareçam em lugares de destaque. O OLX Portugal é neste momento um dos dois sites do grupo com mais receitas por utilizador. “Em Portugal, ainda não estamos focados em monetizar. Já o fazemos um pouco, mas ainda queremos crescer a marca”, diz Oxenford. “É uma viagem que estamos a fazer em todo o mundo. Mas Portugal está muito à frente.”
 

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