Muitas contradições no relatório do FMI

O FMI faz um relatório que contradiz o que o próprio FMI dizia há apenas alguns meses.

No relatório da 11.ª avaliação do programa de resgate da troika ficámos a saber, por exemplo, que vai haver um novo programa de rescisões para os funcionários públicos menos qualificados, quando ainda há pouco tempo a ministra das Finanças dizia o contrário. E ficámos a saber que a 28 de Março o Governo já assumia perante os credores uma nova fórmula de cálculo das pensões (indexada à economia e à demografia) quando um dia antes Passos Coelho tinha classificado de “especulação” as notícias que davam conta dessa possibilidade.

Mas o relatório não é só sobre contradições entre o que diz o Governo e o que diz o FMI, e vice-versa. É também sobre contradições entre o que diz o FMI hoje e o que dizia o FMI na última avaliação. A propósito do mercado laboral, no relatório da 10.ª avaliação, o Fundo dizia, de uma forma acertada, que “os custos laborais representam apenas cerca de 30% dos custos operacionais” das empresas e, como tal, seria “importante garantir que o peso do ajustamento não recaia demasiado no trabalho e seja contrabalançado com ajustes noutras áreas”. Poucos meses volvidos, o FMI vem dizer precisamente o contrário, ou seja, que o Governo precisar de ir mais além na liberalização do mercado de trabalho.

O FMI diz, por exemplo, que houve mudanças na lei para facilitar os despedimentos, mas que as empresas continuam a não despedir. Será que o FMI não concebe que as empresas possam não querer despedir? Será que o FMI não ouve os próprios patrões, como António Saraiva, que ainda ontem veio dizer que a legislação laboral não está a ser um empecilho para as empresas?

E o FMI continua a insistir na necessidade de baixar as indeminizações dos despedimentos ilegais. Isso não contraria a Constituição, que proíbe os despedimentos sem justa causa?
 

  

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